Mistério Dos Sombrios Vol 1

Capítulo 24

A ideia de uma festa na floresta era assustadora pra Emily, quer dizer, quem em sã consciência tem a ideia de festejar em um lugar de camping, onde as pessoas mais loucas ainda acampam no verão? Estavam em final de novembro, o inverno já estava batendo a porta dos cidadãos de Greendale e uma festa da fogueira com adolescentes idiotas que queriam esquecer dos problemas de merda que assolam suas vidas com bebida era o cúmulo. Emily sabia que Victor a havia levado até ali mais para irritá-la do que qualquer outra coisa, porque claro, não havia outro motivo em que ela pudesse pensar agora que o tivesse feito levá-la ali.

Enquanto saía do carro de Victor, que era o último carro da fileira enorme de veículos estacionados na estrada de terra que levava ao lugar da festa, Emily pensou no que diria se alguém perguntasse o que ela e Victor Hale faziam ali juntos. Ao lançar um olhar de soslaio para o demônio quando começaram a caminhar rumo a fogueira que podia ser vista a distância, pôde ver que ele sorria de forma irônica, estava claro que ele sabia o que ela estava pensando.

_Por que me trouxe aqui, Victor? _quis saber ela o puxando pela manga do casaco para que ele parasse de caminhar e se virasse para encará-la e a respondesse. Por algum motivo não conseguia chama-lo por seu nome demoniaco. Ainda sentia a sensação aterradora de medo com o nome Balthazar.

_ Você nunca foi a uma festa, princesa? _perguntou ele rindo. _Vamos nos divertir, beber até passar mal e fazer loucuras a noite toda. Seja uma adolescente normal pelo menos uma vez na sua vida.

_Eu sou uma adolescente normal! _retrucou Emily ofendida.

_ Você tem 17 anos e nunca foi a uma festa, nunca teve um namorado e seu primeiro beijo foi com um príncipe do inferno, eu não acho que você seja alguém normal.  _analisou Victor friamente. _Seja a Emily que você realmente quer ser por apenas essa noite, mostre para mim a Emily de verdade.

_ Não me venha com esse papo de psicólogo de que eu me escondo atrás de uma capa de pureza quando na verdade existe uma versão diferente de mim que quer se libertar. _resmungou ela. _ Eu sou exatamente assim, não me escondo por trás de nada. Não ache que só porque você consegue ser duas pessoas ao mesmo tempo, que sou parecida com você.

_Eu sei que você é assim Emily, mas todo mundo tem duas ou mais versões de si mesmo, e eu quero conhecer as suas. _ murmurou o demônio de uma forma quase que harmoniosa. Se não fosse por seu olhar frio ela diria que ele estava sendo gentil.

Emily pensou em dizer algo, mas rapidamente desistiu. Não importava o que dissesse, nunca importava. Seus pensamentos foram para a conversa de Victor por telefone com Lilith, ela achava que de alguma forma Victor estava apaixonado por Emily. Sorrindo por dentro ela imaginou se apesar de tudo não poderia usar isso ao seu favor. Se o demônio sentia alguma coisa por ela, estava na hora de usar isso contra ele.

_Então, vamos nos divertir. _murmurou Emily lançando um falso sorriso animado pra Victor.

_É isso aí. _disse ele retribuindo o sorriso, apesar de seu cenho franzido e seus olhos refletirem mais frieza do que felicidade. Ele não era bobo, seria difícil enganá-lo.


***

      Meia hora e três cervejas a menos mais tarde, Emily se sentia incrivelmente tonta e desorientada. Apesar das várias tentativas de flerte com Victor, resultado de seu novo plano para conseguir se livrar dele, ele parecia incrivelmente distante com ela. Ao contrário dela o demônio havia se enturmado muito rápido. Ao observá-lo do lugar onde estava sentada podia ver Daniel e outros garotos mais velhos que com certeza já estavam na faculdade conversarem com ele como se fossem melhores amigos há anos. O que era absurdo já que Victor Hale não tinha amigos. Jéssica também estava reunida com o grupo e a todo momento parecia querer chamar sua atenção, rindo de qualquer coisa que ele dissesse como se ele fosse a pessoa mais engraçada que conhecesse, o que era quase uma piada e chegava a ser ridículo.

_O que faz dele tão maravilhoso? Além de seu dinheiro e da beleza quase que sufocante. _questionou Arthur surgindo ao seu lado.  _Ele é a pessoa mais arrogante dessa maldita cidade, e na maior parte do ano pisa em todos nós como se fôssemos vermes. Não dá para acreditar que está todo mundo babando por ele só porque ele enfim resolveu socializar!

_Ele faz o estilo bad boy perigoso, não é algo que você entenderia Arthur. _ murmurou Anne, que também havia se aproximado.

_Eu entendo que ser tratado que nem lixo é horrível. _resmungou Arthur em resposta.

_Emily é namorada dele agora, vamos perguntar para ela o que ela acha disso. _disse Anne desviando o olhar de Arthur e se virando para encarar Emily.

_Acho que Victor Hale é a pessoa mais cruel, doentia e arrogante que conheço. _sussurrou Emily os surpreendendo. _E eu o odeio mais do que qualquer coisa no mundo.

Sabia que Victor a havia escutado apesar da distância que estavam, viu o breve olhar mortal que ele lhe lançou. Mas não conseguia se arrepender do que dissera, não quando o álcool em seu sangue lhe dava a coragem de ser e de dizer o que ela realmente sentia, apesar de não ser bem verdade. Odiava Victor, mas também havia algo mais, algo que não queria admitir a si mesma que sentia por ele, até porque era doentio e a fazia sentir nojo de si mesma ao admiti-lo para sua consciência.

_ Não foi o que pareceu com você e ele andando de mãos dadas por toda a escola na terça-feira. _comentou a outra garota não parecendo nada convencida.

_Só porque você vê as coisas de uma maneira, não quer dizer que elas são realmente assim. _murmurou Emily irritada.

_Se o odeia então por que anda com ele? _perguntou Arthur amargamente. _ Não deve odiá-lo tanto assim.

_Eu... _tentou dizer ela, mas desistiu. Não havia maneira de a verdade não soar ridícula naquele momento, era melhor deixar para lá como sempre fazia. _Eu estava brincando, não odeio Victor, eu e ele... é realmente complicado.

_Eu só acho que você não vai segurá-lo por muito tempo agindo como uma santa, garotos como Victor Hale exalam sexualidade por cada poro do corpo, se não tomar cuidado vai acabar sendo trocada por outra garota. _alertou Anne não soando arrogante, mas quase que solidária.

_Obrigada pelo conselho, mas eu o dispenso. _retrucou Emily irritada. _Preciso ir ao banheiro, com licença.

Usou a desculpa de querer ir ao banheiro para se afastar de Anne antes que dissesse mais alguma coisa que não deveria ou avançasse contra a garota intrometida, mas também sentia uma enorme vontade de fazer xixi e ao olhar ao redor constatou um fato aterrorizante: não havia banheiros. A verdade é que não havia banheiro de jeito algum. O que era justificável quando a lembrança do fato óbvio lhe atingiu em cheio, aquilo era um camping, um lugar para se acampar, e é claro que não tinha os luxos da cidade grande.

A clareira onde estavam era a única área aberta sem árvores em quilômetros, tirando a trilha de terra que estava sendo usada como estacionamento e o rio a sua frente. Ninguém se arriscava a nadar ali lógico, estava frio demais para algo assim, apesar de Emily desconfiar que em breve alguns garotos bêbados o fariam. Ao lançar um olhar ao redor viu algumas garotas entrarem entre as árvores e soube onde era o "banheiro da festa". Reprimiu um gemido angustiante ao ver aquilo, estava apertada demais e precisava fazer xixi. Sua única opção era a trágica e última medida de enfrentar a escuridão da floresta e foi o que fez depois de olhar ao redor e ver que ninguém a observava.