Capítulo 37

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Emily encarava a chuva através da janela do carro atentamente enquanto Balthazar dirigia por uma estrada de terra que rapidamente ela se recordou, era o mesmo caminho que ele havia feito quando a levou para o galpão abandonado nos limites da cidade onde havia matada Callie. Era longe o bastante e ela desconfiou que era para aquele mesmo lugar que ele a levaria. Não podia esconder o medo que sentia a cada quilômetro que o carro percorria, estar cercada de vampiros não era algo que a encorajava, mas sim, a enchia de medo.

Nora e Azazel estavam logo atrás dela e Balthazar, sentados em silêncio no banco traseiro. Era como se nem estivessem ali por causa de seus silêncios intensos, ninguém havia dito uma palavra desde a saída da mansão e apesar de tudo aquilo a estava incomodando. Nora tinha a expressão séria e encarava a janela ao seu lado assim como ela, o outro demônio tinha o olhar distante e inexpressivo voltado para a frente, a encarando por alguns instantes ao perceber que Emily o olhava.

_Está assustada Emily? Alguns vampiros são demais para você? _o ouviu rir baixinho de onde estava ironicamente.

_Deixe-a em paz. _resmungou Balthazar continuando a dirigir sem tirar os olhos do caminho que o veículo fazia.

_Oh é claro, ninguém pode atormentar a pobre Emily além de você, irmão. Entendi, parei então. _disse Azazel levantando as mãos para o alto levemente, tendo cuidado em não as bater no teto do carro, fingindo se render enquanto sorria. Mas algo na expressão que ele fez quando ela lançou um rápido olhar para ele, a fez pensar que o demônio não estava sendo engraçado, é sim amargo. Como se ele não se agradasse em nada com tudo o que estava acontecendo por causa dela ou simplesmente a odiasse. Balthazar não pareceu notar nada apesar de ele ler expressões ou sentimentos como ninguém então ela deixou aquilo para lá. Azazel não podia ser considerado perigo quando Lúcifer que era ainda pior estava no páreo para acabar com ela.

_Estamos indo para o galpão abandonado na saída da cidade? _quis saber ela ao invés disso.

_Estamos. _respondeu Balthazar. _É escondido e longe o suficiente para não ser percebido pelos humanos e é bastante espaçoso para o que vamos fazer.

_Com o que irão treinar? Matar demônios não exige armas celestiais? _perguntou a garota curiosa.

_Adagas de prata angelicais são fáceis de conseguir quando se conhece a pessoa certa. Elas podem matar demônios menores como demônios espectros, demônios razac ou os milhares de tipos não tão poderosos que existem no inferno, inclusive vampiros, por isso eles devem ter cuidado. _contou ele dando a ela um olhar sério. _Existem duas formas de matar demônios menores, acertando-os diretamente no coração com uma arma celestial ou decepando suas cabeças com essas armas. Já demônios maiores ou meio-demônios requerem mais habilidade e poder celestial. Para meio-demônios nem tanto poder assim, mas eles precisam ser mais ágeis por causa da rapidez e agilidade deles. Para Demônios maiores como é o caso dos Príncipes do inferno é necessário ter uma arma com poder de um arcanjo, puro poder angelical, por isso é tão difícil. Como vamos matar se a arma que devemos usar nós machucamos tanto?

_Suas mãos queimaram quando você tocou na lança com poder angelical. _lembrou Emily se recordando quando o demônio havia se colocado a sua frente para protegê-la de um ataque e havia sido atingido por uma lança em seu lugar, o que o havia deixado muito doente.

_Somente pessoas puras tocam em coisas sagradas sem serem afetadas. _disse Balthazar acenando positivamente.

_Minhas mãos não queimaram quando retirei a lança de você... _disse ela franzindo o cenho.

_Por que você acha? Não a maldade em você.

_Mas isso não é possível. Existe maldade em todo mundo. _protestou Emily rapidamente.

_Talvez, mas se existisse em você acho que você teria sido afetada de alguma forma. _comentou o demônio.

_Não existem pessoas perfeitas, é claro que existe algum tipo de maldade em mim. _voltou a dizer ela o encarando.

_Pode ser que as coisas ruins que você faça nunca sejam intencionais, entende? Eu não saberia te explicar agora, mas é diferente, não é maldade.

_Como eles farão para não se machucarem quando a hora de enfrentar o exército de Lúcifer chegar? Se eles não podem tocar em coisas celestiais como vão usá-las para derrotá-los? _perguntou ela ainda mais curiosa.

Queria aprender mais sobre aquilo, já que estava envolvida seria bom que tivesse conhecimento sobre tudo que seria feito.

_As armas irão machucá-los, mas eles não morreram por causa disso, eles irão suportá-la, os demônios estão acostumados com a dor. Azazel e alguns outros meio-demônios aliados a mim cuidarão de Mamon e Belfegor, os príncipes do inferno aliados ao meu irmão. Eu cuidarei pessoalmente de Lúcifer, ele é meu, e de preferência Leviatã também.

Emily não disse mais nada e logo em seguida o carro parou, ao olhar para a frente ela pode ver que haviam chegado e ele havia estacionado próximo ao galpão. Nora e Azazel saíram rapidamente e caminharam rumo a entrada do lugar enquanto Emily permanecia onde estava quieta e com uma expressão temerosa.

_Eles não vão machucá-la, eu prometo. _ouviu o demônio ao seu lado murmurar acariciando seu ombro levemente lhe passando conforto.

_Eu sei. _concordou Emily rapidamente o encarando com uma expressão assustada. _Eu só estou com medo dessa luta que inevitavelmente vai acontecer. Tantos de vocês irão se machucar e muitos vão morrer. Eles sabem por que irão lutar? Eles concordam com isso?

_Eles lutarão por mim, e eu lutarei por você, não importa o que aconteça. Nem que eu dê meu último suspiro para te proteger, eu o farei feliz, porque eu conheci você e posso ainda ser um monstro, mas você me fez ver um lado meu que ninguém mas viu e me fez sentir coisas que eu jamais senti, e fico feliz por tê-las sentido. _declarou ele aproximando o rosto do dela e acariciando seu rosto.

_Isso não é justo. Você está fazendo tudo isso para me proteger, abriu de ter sua filha de volta e agora me diz que morreria por mim. Mas eu não fiz nada por você. _balbuciou Emily comovida pelas suas palavras.

_Você me salva um pouco mais a cada dia, você não entende? A cada dia que passa sinto menos vontade de ser quem eu sou, aos poucos você está me fazendo querer ir contra minha natureza... ser um monstro era tudo o que eu era antes de me apaixonar por você, mas agora eu só queria ser humano e ter uma vida normal, sem seres infernais ou Lúcifer. Só você e eu e nada além disso. _confidenciou Balthazar a encarando intensamente. _Você não imagina a vontade que estou de ignorar minha própria razão e beijá-la até sentir meus lábios dormentes. Mas não posso, não devo piorar isso. _disse ele apontando para o seu próprio coração por cima da camisa de botões azul escura que usava.

_Você sabe que o que sentimos não vai mudar, não sabe? _disse a garota em um sussurro baixo. _Isso é maior que qualquer coisa. Somente o fato de sentimos já prova isso. Você não deveria amar, mas você me ama, e eu não deveria sentir nada por alguém que me fez tanto mal, mas eu sinto. Isso não vai parar não importa o que façamos então não diga que não podemos, nem sabemos se vamos sobreviver a tudo que está por vir. Se tudo der errado e você morrer, Lúcifer me matará em seguida e não haverá nada que possamos fazer.

_E permitir que o que existe entre nós aconteça só fará com que soframos se der certo e ganharmos. _retrucou o demônio começando a se afastar, mas sendo impedido por Emily que o puxou pela gola da camisa e tentou beijá-lo. Porém ele virou o rosto e ela recuou magoada. _Não faça isso.

_Tudo bem... _disse ela tão baixo que se não fosse a natureza do demônio a sua frente ele não a teria escutado. Havia dor em suas palavras e Balthazar sabia que não estava nada bem, mas não disse, mas nada. Não podia, se não faria algo que se arrependeria.

Ele saiu do carro e tinha caminhado metade do caminho até o galpão quando parou, se molhando todo por causa da chuva forte que caia.
Emily desceu do veículo e se aproximou dele em seguida, então ele se virou e a encarou com o olhar totalmente afetado enquanto se colocava a sua frente e sem que ela esperasse a beijou. Foi um beijo intenso, diferente de todos os que eles tiveram e Emily pôde sentir isso. Havia mais sentimentos e era como se a partir daí tudo fosse mudar e ela torcia para que mudasse mesmo. Não soube dizer quanto tempo se passou enquanto se beijavam, mas quando enfim o beijo foi interrompido pela falta de ar, os dois se encararam intensamente ofegantes. Havia tantos sentimentos refletidos em seus olhares que foi praticamente impossível ignorar aquilo. Não importava o que iria acontecer a partir de agora, eles não podiam lutar contra aquele sentimento.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now