Capítulo 40

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_Oi papai. _murmurou Emily quase meia hora depois quando Eric Thorne abriu a porta de casa e a encarou surpreso.

Balthazar estava encostado em seu carro que estava estacionado na frente da casa que Emily morava com o pai e mantinha uma postura séria, de braços cruzados acima do peito a observando atentamente como se tivesse medo de que algo a atacasse a qualquer momento, o que realmente poderia acontecer. Ele a levaria para a escola e ela o havia convencido a permanecer no carro.

_Eu deveria ter ligado para dizer que ficaria na casa de Nora mais uma noite, eu sei, mas foi tudo tão rápido. Nora ficou doente e quis que eu ficasse e a ajudasse, os pais dela viajaram e Alexia e Katherine não estavam em casa. _mentiu ela evitando os olhos do pai descaradamente enquanto tentava soar firme na explicação para que ele acreditasse na mentira.

_Mas Victor Hale estava em casa... _constatou o homem amargamente ao ver a figura séria de Balthazar encostada no carro. _Estavam somente vocês três em casa? _perguntou ele desconfiado e soando até irritado, o que a faz se amaldiçoar por ter dito que Alexia e Katherine não estavam na mansão. Agora ele estava pensando que tudo havia sido um plano para ela ficar com o garoto.

_Ele chegou hoje de manhã. _voltou a mentir ao imaginar o que o pai não estava pensando. Talvez pensasse que ela estava mentindo e que o garoto de olhos castanhos que os encaravam e ela tinham alguma coisa... o que fez ela rir internamente ao pensar que talvez ele sequer estivesse errado. Afinal, ela e Balthazar tinham ou não uma relação a partir de agora. Pelo menos ela achava que sim. E se tinham qual seria a palavra para defini-la? Isso ela ainda não sabia.

_Sei. _disse ele não parecendo convencido, mas não querendo continuar o assunto, dando passagem para que ela entrasse em casa, o que ela fez hesitante, encarando o demônio perto do carro uma última vez antes de entrar.

_Victor vai me levar para a escola, só preciso de alguns momentos para me arrumar. _explicou ela ao entrar na sala e ver que o pai continuava a encarar Balthazar de uma maneira nada amistosa. E claro, se lembrando de chamá-lo pelo nome falso que ele usava para que o homem não achasse estranho.

_Não quer entrar Hale?! _perguntou Eric alto o bastante para o garoto ouvir. O que fez Emily grunhir irritada. O que seu pai estava fazendo?  _Talvez tomar café da manhã conosco, temos panquecas.

_Muito obrigado pelo convite sr. Thorne, mas estou bem aqui e já tomei café da manhã em casa. _Emily ouviu Balthazar responder diplomaticamente e ela sabia que ele estava mentindo. Ele não tocara na comida enquanto ela tomava café da manhã na mansão mais cedo naquele dia e provavelmente o alimento não o agradava como a Nora e o restante da sua família. "Ao não ser que você esteja oferecendo sua alma, ele não vai querer nada pai" _pensou Emily em um tom de humor sombrio.

Seu pai fechou a porta logo depois e foi se sentar no sofá da sala após a negativa de Balthazar. Quando ela achou que ele não faria nenhum discurso ou iria dizer algo constrangedor ela subiu correndo as escadas para o segundo andar e entrou no quarto as pressas, correndo contra o tempo para tomar banho o mais rápido que pôde. Demorou quase vinte para decidir que roupa usaria e por fim se decidiu por uma calça jeans e sua blusa nova cinza de gola alta, vestindo um casaco por cima e se olhando no espelho desanimada, não estava esplendorosa como Katherine sempre se vestia, mas sabia o quão difícil era competir com a beleza da meio-demônio e até Nora e Alexia a deixavam no chinelo quando o assunto era beleza.

Bufando de frustação ela apanhou a mochila e olhando uma última vez para o quarto lembrou do seu gatinho, o animal que havia achado na rua e que não se encontrava em lugar algum no cômodo. Desceu as escadas ainda mais apressada e encontrou seu pai ainda em frente a tv, sentado no sofá assistindo um jogo de beisebol, quase não notando sua presença quando ela se aproximou.

_O que você fez com o meu gato? _perguntou Emily ao pai.

_Que gato? _questionou ele confuso, a encarando como se ela estivesse louca. _Não temos um gato.

Emily o encarou por um tempo e viu que ele realmente não parecia se lembrar. Então a lembrança do que Balthazar havia dito sobre o pequeno gatinho quando o viu pela primeira vez a atingiu e furiosa ela deu "tchau" para o pai e se afastou pisando duro. Bateu a porta com força atrás de si e caminhou para fora da casa em direção ao demônio que a esperava encostado no carro, ela tinha uma expressão assassina no rosto ao se aproximar e apontou o dedo no peito dele com toda força tremendo de raiva disse:

_Cadê ele?! O que fez com ele?

_Aquele animal horrível que você chamava de gato?  _disse ele sorrindo amplamente divertido ao notar o olhar furioso dela. Era encantador como ela conseguia ficar ainda mais bonita irritada e ele estaria mentindo se dissesse que não estava se divertindo. _Não faço ideia. Juro para você que não fiz nada.

_Seu mentiroso. Meu pai não se lembra dele! Tenho certeza de que tem dedo seu nessa história! _gritou Emily batendo no peito dele com toda força que podia, o que foi em vão já que ele segurou suas mãos com apenas uma mão a impedindo.

_Que merda Emily, é só um maldito gato. _resmungou o demônio fechando a expressão que aos poucos se transformou em uma carranca profunda. Agora quem estava irritado era ele.

_Eu o quero de volta, cadê ele?

_Eu não estou com ele, nem cheguei perto desse animal! Não estou mentindo. _se defendeu ele. _Agora vamos, estamos atrasados.

_Não vou com você para lugar algum enquanto não me disser onde está o meu gato! _exclamou a garota sentindo os olhos se encherem de água. Aquilo era comum, sempre que estava com raiva sentia vontade de chorar.

_Eu já disse, não está comigo! Agora vamos. _disse Balthazar se afastando dela e abrindo a porta do carro, acenando para que ela entrasse.

_Não. _negou Emily dando alguns passos para trás chateada. Tinha certeza de que ele estava relacionado com o sumiço do gato e não confiaria nele até que o demônio o devolvesse.

_Com quem você irá para a escola então? _perguntou ele parecendo prestes a perder a paciência. Passando as mãos pelo cabelo frustrado.

_Não sei, mas não será com você. _garantiu ela se virando e começando a caminhar de volta para casa, mas sendo impedida por Balthazar que a puxou pelo casaco e sob muitos protestos dela a empurrou até o carro, a fazendo entrar do carona. Ela lhe lançou um olhar furioso quando ele entrou logo em seguida e travou a porta do carro, impedindo sua saída, mas ele não se importou. _Você não pode me prender aqui! Abre a porta!

_Para de drama Emily, não temos tempo para isso. _retrucou o demônio impaciente. _Depois conversamos.

_Você o matou? _quis saber ela quando o carro começou a se mover indo em direção a escola. Balthazar que dirigia sem olhar para ela não respondeu, então ela virou o rosto e passou o resto da viagem encarando a paisagem através da janela ao seu lado o ignorando.

Quase vinte minutos depois o carro parou no estacionamento da escola e antes que ele pudesse dizer algo Emily abriu a porta do carro e saiu em disparada para dentro do prédio da escola, o abandonando ainda mais irritado.

_Emily! _ouviu Balthazar a chamar logo atrás dela furioso. Mas o ignorou entrando no corredor do primeiro andar do Colégio apressada, esbarrando em um outro aluno sem querer.

_Desculpe. _murmurou a garota para a pessoa com quem tinha esbarrado, dando de cara com o garoto ruivo chamado Simas da aula de ensino religioso, o garoto que desconfiava conhecer Balthazar.

_Não foi nada, e a culpa foi minha, não olhei para a frente. _disse Simas a encarando de maneira estranha, quase entristecido e ao mesmo tempo assustado, como se visse nela algo ruim ou errado. Mas também havia algo mais em sua expressão... talvez pena.

Emily sentiu uma sensação de paz, e sua raiva anterior pareceu sumir e por um momento não se lembrou o motivo de sua irritação. Também deixou um sorriso escapar e sentia quase que feliz, como se tivesse acabado de receber a melhor notícia de sua vida. Ela pôde ver Balthazar a alguns metros os observando. Ele havia parado de caminhar e encarava ela e o garoto ruivo de forma inexpressiva. Não parecia ciúmes, mas receio. O que era estranho, Balthazar não sentia medo, ao menos ela achava que não.

_Você está fazendo o certo, por mais que ache que não _disse o garoto ruivo de repente colocando as mãos nos ombros dela e sorrindo para ela como se a incentivasse, mas ela não sabia ao que. _Tenha paciência e você verá que a mudança é real. Você está cumprindo sua missão e está no caminho certo. Apenas tenha fé. Vai dar certo.

E então ele lhe deu as costas e se afastou inesperadamente, a abandonando confusa. Ela não pôde deixar de notar que a sensação de paz e euforia pareceu ir embora com ele e logo sua raiva por Balthazar voltou. Mas ela a ignorou porque tudo no que conseguiria pensar agora era nas palavras confusas daquele garoto. A que missão ele se referia e o que estava no caminho certo?

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now