Capítulo 41

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Emily encarou Balthazar sentado ao seu lado em uma cadeira em uma das mesas do refeitório durante o intervalo, mas ele a ignorou. Ela sabia que ele entendia o que Simas havia lhe dito mais cedo no corredor quando esbarrara nela, mas se recusava a lhe dizer.

_Cadê Alexia? Não a vejo a muito tempo e ela nem estava hoje mais cedo durante o café da manhã. _quis saber ela se virando para encarar Nora que também estava na mesa, sentada bem a sua frente.

_Ela está fazendo algo para mim, só estará de volta a noite. _respondeu Balthazar no lugar da vampira.

_O que ela está fazendo? _perguntou Emily franzindo o cenho querendo mais informações.

_Nada importante, não se preocupe. _disse ele apenas, o que a fez começar a se irritar, pegando uma maçã da bandeja que Balthazar fizera questão de encher com os mais variados tipos de comida e a mordendo com agressividade, irritada.

_Tem a ver comigo? _insistiu ela nem um pouco convencida de que não era nada demais.  _Por que não pode simplesmente me contar?! _questionou alto o suficiente para atrair a atenção de algumas pessoas de outras mesas, inclusive Martin O'deonel, que a encarava quase sem piscar parecendo chateado por vê-la com o outro garoto quando ela deixara claro há alguns dias que ela e ele não tinham nada.

_Chega Emily, esqueça esse assunto! _exclamou o demônio impaciente.

_E o que aquele garoto disse, o que significa e quem é ele? _questionou Emily pouco se importando se ele já estava irritado ou se alguns alunos haviam começado a prestar atenção de mais neles, precisava de respostas. Afinal, quem deveria ficar com raiva era ela, ele que a mantinha no escuro.

_Quem é ele... _murmurou Balthazar a encarando como se fosse óbvio.  _Eu achei que você já tivesse chegado a uma conclusão coesa sobre isso. Eu senti o que você estava pensando durante as aulas, você sabe o que ele é, se não sabe ao menos tem uma boa ideia do que possa ser sua natureza. Não é difícil encontrar alguém como ele, onde a trevas também a luz.

_Um anjo... _sussurrou Emily baixinho. Por isso a sensação de paz e a alegria que havia sentido... talvez causada por sua presença. _O que ele faz na escola? E o que significa o que ele me disse? A que missão ele se referia?

_Como vou saber? Pergunte isso a ele, eu realmente não sei. _retrucou o demônio dando de ombros, apesar da expressão em seu rosto parecer levemente presunçosa, estava claro que ele sabia.

Emily ficou em silêncio. Se havia alguma coisa certa sobre Balthazar era a de que ele não era confiável, e acreditar que ele não mas mentiria para ela havia se tornado muito difícil ultimamente. Para se confiar precisava que ele demonstrasse o mínimo de franqueza e começasse a compartilhar mais informações com ela, o que nunca acontecia. Sempre sentia que havia segredos que ele mantinha para si e era praticamente impossível depositar qualquer tipo de confiança no demônio. Com tudo que sabia sobre aqueles seres sombrios, estava claro para ela que as mentiras e manipulações eram seus pontos fortes e que fazia parte de suas naturezas. E apesar de tudo o que havia acontecido na noite anterior e de pôr vários momentos enquanto tentava pegar no sono depois dele deixá-la ela ter pensado e imaginado uma vida com ele, era em momentos como aquele que estava acontecendo naquele instante que tinha dúvidas sobre estar fazendo a coisa certa. Era Balthazar realmente digno de perdão e confiança? Havia realmente algo de bom nele que o tornava digno de salvação no final das contas?

_O que um anjo faz na cidade e porque ele está nesta escola?

_Alguns anjos são designados pra pessoas em específico, pessoas que tem coisas a cumprir aqui na terra. A esses anjos é dada a função de acompanhar essas almas humanas no comprimento dessas missões para que tenham êxito, apesar de não ser permitido a eles intervir ou ajudar. _contou o demônio inexpressivo. _Talvez seja a isso que ele se referia, sua missão na terra seja ela qual for esta no rumo certo. Todos os humanos existem por um proposito, normalmente fazer diferença na vida de alguém, mas nem sempre. Essas coisas variam, pode ser qualquer coisa. Você nunca realmente vai saber.

_Mas eu tenho parte da alma de Evelyn... isso não me torna parte demônio? _perguntou ela se sentindo ainda mais confusa com todas essas informações. Como poderia cumprir uma missão que ela nem sabia qual era?

_Você é totalmente humana Emily, a pequena parte da alma de Evelyn que está com você não muda isso. _esclareceu ele franzindo o cenho ao ver a garota abandonar a maçã que comia na bandeja. Ela não havia comido quase nada mais cedo naquela manhã na mansão e agora quase não tocara na comida na bandeja a sua frente. Humanos eram fracos, o simples fato da falta de alimento poderia facilmente matá-los e ele não gostou muito disso.

_Então qual é minha missão? E como posso estar cumprindo-a quando nem sei qual é?

_Talvez você nunca saiba o que realmente é e a qual propósito você está destinada. Mas tenha em mente que seja lá qual for, talvez seja por ela que você ainda esteja viva... por isso não morreu em minha tentativa de tirar sua vida assim que você chegou na cidade. _murmurou Balthazar e Emily não pôde deixar de perceber que o olhar dele se tornou uma máscara sombria ao mencionar a vez em que tentara matá-la. Era um milagre ela estar viva... e como várias coisas na vida de Emily, aquilo não parecia certo. Fazia algum sentido as suposições dele, talvez ele até estivesse certo. Ela tinha uma missão e por isso ainda estava ali respirando e bem, mas e depois que ela a cumprisse? Ainda estaria?

_Seja como for, não importa, se tenho que descobrir sozinha uma hora irei saber. _resmungou a garota para si mesma ainda com a cabeça fervendo em uma mistura de confusão e medo. Tudo era tão confuso.

Um arrepio subiu por sua espinha e Emily sentiu medo. Sua vida estava em perigo de tantas formas, mas só naquele momento aquela informação pareceu entrar em sua mente. Daqui há alguns meses ou até mesmo semanas ela e todos como Balthazar, Nora, Alexia ou os outros poderiam estar mortos. Justo ela que ainda tinha uma vida toda para viver. Os outros já haviam vivido por milhares de anos, mas ela só tinha 17 e a morte eminente era algo aterrorizante e a fazia se sentir horrível e vazia. Era como se não houvesse outra maneira daquilo acabar bem, e talvez não houvesse mesmo. Olhou para o demônio a sua frente e sentiu seu olhar de volta a encarar com a mesma intensidade. Ela sabia que ele pensava o mesmo que ela apesar de não admitir.

_ Eu lembro que quando estive em sua casa pela primeira vez você falou sobre meu futuro de um modo pesaroso... eu vou morrer, não é?  _quis saber ela se lembrando daquele fato e sentindo algo em seu peito apertar, sentindo-se momentaneamente tonta. Se a morte era certa, a vida era tão injusta.

_Antes o seu futuro estava claro para mim de uma maneira nítida e obvia, só a simples aproximação já me permitia ver com clareza o que aconteceria com você, e sim, era a morte que eu via, as sombras da dor te acompanhavam. _admitiu ele com relutância. _Mas agora eu não vejo nada, não consigo sentir ou saber o que vai acontecer... eu simplesmente não sei o que será de nós em breve.

_Eu tenho medo, porque eu sim sinto, e sei que não será nada bom. Vencendo ou não perderemos de algum modo. _disse Emily com uma certeza que fez Balthazar ficar pálido. Emily podia não saber ler almas humanas ou ver o futuro das pessoas, mas as palavras dela soaram de uma maneira tão verdadeira que a ele não restou dúvida que eram verdadeiras.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora