Frigideira - Capítulo 4

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Antonella López

Uma parte do plano havia dado certo, eu já havia saído de casa, caminhei por ali por perto — tomando o máximo de cuidado possível para não me verem — e depois voltei, me escondendo na área verde gigante que tem na frente da mansão, fiquei um bom tempo ali, ouvindo música para ver se ajudava a fazer a droga do meu peito parar de doer, não era como se fosse uma dor física, era uma dor diferente que ficava o tempo todo martelando, parecendo que ia esmagar meu coração, essa dor havia se juntando com a dor do que aconteceu anterior junto com outros motivos.

Os tais "outros motivos" eram: eu estava mentindo para as pessoas que me acolheram depois que minha mãe morreu, estava mentindo para o pai que eu queria e pedia desde que me lembro por gente, estava mentindo para as pessoinhas que conseguiam deixar meus dias mais alegres — mesmo que não dure muito tempo esses momentos — e que demonstravam me amar, estava mentindo para a mulher que nem me conhece e nem partilha do mesmo sangue que eu, mas estava preocupada com meu estado de saúde mental e queria me ajudar.
Eu estava mentindo justamente porque não queria uma amizade para me ajudar a melhorar, na verdade, a única coisa que eu queria era justamente aquilo que eu não posso ter. Não mais. E se aquilo soubesse que eu estou mentindo.. Não gosto nem de pensar em como eu me tornaria uma grande decepção, provavelmente pela primeira vez na vida ela me xingaria, não daria seus costumeiros conselhos que sempre me faziam refletir sobre o que eu fazia e me incentivavam a mudar para melhor.

Balancei a cabeça tentando afastar os pensamentos, voltando a minha atenção para a mansão que não estava muito longe, olhei para os dois lados notando que o Audi preto não estava mais ali. Ok, eles já foram.
Levantei rapidamente de trás da árvore gigantesca e atravessei a rua correndo, fazendo o mínimo de barulho que consegui abri e fechei as portas que havia antes de entrar na casa, notei que a cozinha estava vazia e com as luzes desligadas, apenas tinha a sala de estar que tinha luz da tevê deixando um clarão por ali, respirei fundo fechando os olhos afirmando para mim mesma que estava tudo bem e então ouvi barulhos vindo do lado de fora, de imediato meu coração palpitou rápido demais. Era só o que me faltava.

Notei uma sombra de uma pessoa, de estatura alta. Não é de Léon, com toda a certeza.
Ele não estava em casa e ele era um pouco mais alto e magro do que a sombra que tinha do lado de fora.
Engoli seco tentando ser corajosa, não estava só eu em perigo ou a casa, mas meus irmãos. Me aproximei da gaveta, peguei uma colher de madeira fazendo uma careta.

Eles não tem um facão?

Peguei uma tábua de vidro, mas também não adiantaria muita coisa, nem a faquinha que mal tinha serra, ambos não fariam nem cócegas. Abri os armários rapidamente à procura de uma panela de ferro, não encontrei nenhuma, mas achei uma frigideira.

É o que temos, vai ter que servir.

Me aproximei da porta segurando a panela firmemente, respirei fundo me posicionando melhor, então, a figura alta entrou e meu extinto foi mais rápido do que eu, levei a frigideira em direção a sua cabeça com toda a força que eu tinha. Para o meu azar, ele viu e desviou rapidamente para o lado, ajeitei-me novamente prestes a acertar suas partes íntimas com o pé e então, sua cabeça com a frigideira.

— opa, espera! Calma aí! - a voz, aparentemente de um homem, pediu enquanto largava algo no chão e colacava as mãos em sua frente. Ergui a panela mais um pouco e ele ergueu as mãos para cima em forma de rendição. — eu não sou um ladrão e muito menos o Flynn Rider pra você tentar me acertar com uma frigideira, isso pode dar uma concussão, sabe disso né? - falou tão rapidamente e assuntos tão aleatórios que se eu não estivesse tão assustada, provavelmente teria rido.

Deixa a Luz EntrarWhere stories live. Discover now