Crianças - capítulo 16

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— Ella? - chamou-me, mas eu ainda estava um tanto paralisada. — você não tá nada bem.. - murmurou, inspirei profundamente e soltei o ar.

— estou bem - assegurei, talvez mais para mim do que para ele. Algo em mim se contraiu ao ver que eu havia demonstrado fraqueza na frente de alguém.

Estava preocupada demais com as lembranças da minha mente e só notei que minhas mãos ainda estavam tremendo quando Juan envolveu elas com as suas, vi ele olhar para mim e então fechar os olhos, murmurando algo.
Respirei fundo, sentindo aquela angústia diminuir e o tremor passar com as mãos ainda unidas às mãos grandes e quentinhas de Pasión. Era como se estivesse saindo um fio de ondas elétricas dali, passando pelo meu corpo inteiro.

Quando o garoto abriu os olhos, eu estava tranquila outra vez e quando ele percebeu isso, largou minhas mãos cuidadosamente.

— se sente melhor? Posso te levar para casa, se quiser - disse, me olhando com cautela. Balancei a cabeça, guardando para depois a pergunta do que ele havia feito para conseguir me fazer estar melhor em pouquíssimos minu- tos.

Talvez eu soubesse da resposta, mas não tenho certeza.

— estou bem, vamos ver Hebrom e seus outros irmãos - falei, então Juan sorriu sem entender.

— você já está vendo o Hebrom - disse me fazendo arquear a sobrancelha, confusa.

A única coisa que estou enxergando — e que quase me fez ter um ataque de pânico — além de Juan, é o hospital em nossa frente.

— e onde... - parei de falar assim que notei a placa na frente do prédio gigantesco. — o hospital é o Hebrom? - perguntei, me sentindo mais lesa do que imaginava que seria possível.

— isso, Vale de Hebrom - concordou, adicionando o resto do nome.
Em seguida, olhou para mim, provavelmente sem entender o porquê da minha pessoa parecer tão área depois daquela notícia.
— estou começando achar que você está doente - comentou, analisando atentamente meu rosto.

E era óbvio que eu iria sentir minha face ficando quente, com toda a certeza devo ter virado um tomate.
Mais uma vez me questionando, mas dessa vez era sobre por que meus irmãos viriam aqui, eram tão próximos dos irmãos de Juan que vinham visitá-los no hospital?

— e seus irmãos estão aí dentro? - indaguei, curiosa e um pouco temerosa por conta do local onde eles podem estar.

— alguns deles estão - concordou, simples. Gelei por alguns instantes.

Alguns deles? Mais de um estava no hospital?
Juan deveria estar despedaçado, até mesmo pensei em dar um abraço ou simplesmente conforta-lo com alguma palavra, mas minha mente apenas me lembrava das sensações horríveis que eu sentia toda vez que entrava em um hospital.

Respirando fundo, olhei para ele, confirmando que poderíamos entrar. Então, adentramos o local, vendo logo de cara uma enfermeira passando e cumprimentando Juan como se fossem amigos de anos. Meu coração pareceu doer mais um pouco com aquilo.

Apartir do momento em que você percebe o quanto você frequenta o lugar e o quanto que está próximo de pessoas que trabalham em um hospital, se dá conta do quanto você — e até mesmo da pessoa que você ama — sofre por estar lá. O medo de alguma doença, a angústia de não saber se vai ficar tudo bem, a tristeza por ver tantas pessoas desoladas em um único lugar, o pranto por ver que perdeu aquilo que tanto lhe importava... Mas, ainda por acima destes, a dor por todos aqueles motivos e muitos outros — impossíveis de citar cada um deles — que fizeram você perder-se na escuridão que você nem sabia que existia dentro de si, então, com o tempo nem se lembrará mais que já existiu luz em algum canto seu, apenas terá forças para recordar dela quando ver que se não encontrá-la logo, vai morrer completamente e não apenas sobreviver, como anda fazendo.

Deixa a Luz EntrarDonde viven las historias. Descúbrelo ahora