Vontade - capítulo 17

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Já faz alguns dias desde a ida ao hospital, e mesmo tendo ficado duas horas lá, não deu tempo de vermos a árvore que Juan falou, então já marcamos de irmos ao local outra vez.

Durante esses dias que passaram, após ver como aquelas crianças doentes e frágeis mas mesmo assim com tanta alegria guardada e vontade de viver, acreditando que Deus tem algo reservado para elas, comecei a participar de verdade das orações antes das refeições
— apenas não consegui ir a missa junto deles ontem, afinal, acho que começaria chorar antes mesmo de chegar lá — e também encarei a caixa de artesanato de minha mãe para fazer os colares. 

Eu só não sei como irei encarar a semana seguinte, sendo exata, amanhã. Onde fará um mês desde que minha mãe se foi.
Porém, no momento, tento não lembrar muito para não chorar mais do que já chorei nos últimos dias ao sentir saudades dela, me culpar outra vez e desejar ter ido no lugar dela, por mais que nos momentos em que estou ao lado de Juan não tenha pensado tanto nisso, eu sabia que no momento em que eu ficasse sozinha outra vez, me recordaria e liberaria as lágrimas que — ainda, pois tem muitas — estou guardado.

Respirei fundo, mudando o foco da minha cabeça para outra coisa, especificamente para o fato de que hoje é domingo, o dia em que finalmente vou ao jogo do Barcelona como convidada do treinador, de Léon e de Juan.
Não vejo o garoto de pele parda desde a ida ao hospital — já que depois nem deu tempo de conversarmos por conta dos meus irmãos que queriam jogar futebol com ele —, talvez eu vá mais cedo para desejar uma boa partida para ele e mostrar que estou usando a camiseta que me deu.

— Toniella!

Olhei rapidamente para porta, encontrando Rafael já abrindo-a após gritar meu "nome". Levantei-me da cama, pausando a música que tocava e tirando os fones de ouvido.

— estou aqui - falei, me aproximando do garotinho que estava um tanto exasperado.

— preciso da sua ajuda - disse apressado, franzi a testa mas concordei. — agora..? - falou em dúvida, dei uma risada fazendo sinal para que ele falasse o que queria, mas ele apenas começou a andar.
Sem entender, comecei a caminhar logo atrás dele que ia até o quarto que ele e Miguel dividem — eles mesmo que quiseram assim —.

Não estava entendendo o que era de tão importante para que o garotinho precisasse da minha ajuda com tanta pressa, talvez por conta disso que eu tenha ficado com tanta preocupação. Inspirei fundo.

— o que tá acontecendo? Tá me deixando preocupada! - resmunguei, entrando no quarto junto dele e o garotinho quase idêntico a mim, suspirou.

— mamãe perguntou se eu e o Mica precisávamos de ajuda para escolher, colocar a roupa.. enfim, se arrumar - introduziu, um tanto atrapalhado com as mãozinhas se mexendo de um lado para o outro.

— e nós dissemos que não, que podia ela se arrumar e arrumar o Sam. Sabe, com nós três  fica difícil dela conseguir cuidar dela mesma com tantas coisas para fazer  - Miguel disse a última parte quase num sussuro, se aproximando com um leve semblante de tristeza. — só que a gente precisa de ajuda! - exclamou também mexendo os braços, dei um sorriso sem mostrar os dentes.

Eles não pediram ajuda para não sobrecarre- gar a Rebeca, para que ela pudesse ter mais tempo pra fazer algo em si mesma. Isso fez meu coração derreter por alguns segundos.

— Ella! ¡Hermana! - Miguel estalou os dedos, me fazendo voltar minha atenção aos dois. Respirei fundo, balançando com a cabeça, indo até o roupeiro do Rafa.

— vai nos ajudar? - perguntou animado, dei uma risada.

— claro que vou - respondi, deixando minha voz com o maior som de obviedade possível.

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