Sacola - Capítulo 14

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Assim que adentrei a sala principal da casa, olhei ao redor procurando por Léon, pois ele provavelmente já chegou da reunião.
Entrei na cozinha, largando a sacola com a camiseta no banquinho da cozinha, indo até a porta que dava para o quintal.
Desviei meu olhar da casa de brinquedos e os fixei no céu, me lembrando do que Ju havia me falado: Entregar minhas dores a Jesus.

O que ele queria dizer com isso? Como eu faria isso? E será que Jesus conseguiria curar todas as minhas dores?

  Eu acredito na existência de Deus e que Ele possa fazer milagres, mas.. porque faria em mim?

Pois Ele não fez por minha mãe que havia se convertido de verdade, então, imagina por mim que estava apenas começando a frequentar a igreja e não entendia muita coisa sobre, pois na maioria das vezes estava preocupada pensando nas consultas com o médico, com as contas, as coisas que deveria fazer para pagar as contas, o curto horário de sono, o medo das coisas darem errado e tudo o mais que sempre esgotavam o meu psicológico, que logo esgotava meu físico também.

— Ella?

Dei um pulo, levando um pequeno susto assim que ouvi Léon falar meu apelido, então, me virei para encara-lo.

— estou aqui - respondi simplista, vendo ele caminhar até mim e suspirar por fim.

Enquanto isso, eu estava respirando, inspirando, respirando e inspirando repetidas vezes para tentar acalmar a mim mesma. Reforçando a informação de que tenho que deixar um pouco do medo de lado se quero ter Léon por perto.

Eu preciso de alguém. Eu preciso do amor de uma figura paterna — agora que não tenho mais da parte materna —, pois, mesmo tendo o amor dos meus irmãos, não é a mesma coisa do que se sentir amada pelos pais.
Em meio tudo isso, torço para que consiga ser consertada pelo amor do pai que nunca tive, já que a morte da minha mãe me estilhaçou.

— não consegui buscar você, tive uma reunião de última hora - justificou, concordei com a cabeça, afinal já sabia disso.

— Juan me contou.

Ficamos quietos, senti que minhas palavras ficaram no ar e de canto de olho vi o homem ao meu lado abrir a boca algumas vezes para falar algo, mas não saía nada.
Respirei fundo, tentando pensar em algo para começar a falar o que eu queria. Após mais um momento de silêncio, consegui fazer algumas palavras saírem da minha boca.

— obrigada.. por conseguir as aulas para mim - agradeci, olhando para o balançar das árvores.

— não precisa agradecer, fico feliz de ver o quão dedicada você é, ainda mais nos estudos - confessou me fazendo sentir o peito acelerar. Acalmei as batidas, engolindo o desespero de querer abraçá-lo apertado.

Então, percebi que outra vez estava erguendo minha armadura e com isso tive certeza que seria mais difícil do que eu pensava deixar minha espada, muralha e armadura caíssem enquanto Léon estivesse por perto.

— ¡Hermana! ¡Papá! - ouvi Sam chamar, me virei encontrando-o com um paninho branco em mãos.

Dei-lhe um sorriso aberto, vendo os dentinhos bem pequeninos à mostra assim que ele sorriu também, correndo até nós.

— não corre, você pode cair - o homem ao lado alertou antes de pegar o caçula no colo.

— estava com saudades - justificou, abraçando o pescoço de Léon, apertado. Os olhos fechados do homem, a calmaria estampada em seu rosto com um sorriso sem mostrar os dentes demonstravam o quanto aquela sensação era uma das melhores que existe.

A sensação de amar e de ser amado de volta, talvez um pouco mais do que imaginamos, mas podemos sentir o quanto por meio de um gesto, ainda mais um por aquele pequeno ser humaninho.

Deixa a Luz EntrarWhere stories live. Discover now