Capítulo 46

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_Não acredito que você sabe cozinhar, estou realmente chocada! _exclamou Emily sentada em um banco do balcão da cozinha da mansão Hale enquanto encarava Balthazar na frente do fogão mexendo em algo que cheirava muito bem. _Então a mais em você do que apenas um rostinho bonito.

_Não sei se fico lisonjeado ou ofendido por você ter achado que eu era só aparência. _disse o demônio sorrindo, colocando a mão no peito e fingindo uma carranca tentando soar ofendido, o que fez Emily soltar uma gargalhada.

Aquele era o jeito de Balthazar de fazê-la esquecer que provavelmente a morte dele estava próxima. Estava funcionando, mas ela ainda lembrava e não achava que fosse esquecer.

_O que exatamente você está fazendo? _perguntou ela curiosa, esticando o pescoço para tentar ver o que era exatamente a mistura dentro da panela na qual ele mexia. Mas ele era mais alto que ela e o gesto foi inútil.

Revirando os olhos Balthazar riu e continuou o que estava fazendo.

_Um molho secreto para nossa massa de macarrão. _sussurrou ele baixinho como se fosse um segredo, o que a fez rir.
_Você parece estar de muito bom humor hoje. _observou a garota. _Ao que se deve isso?

_Hoje é quinta-feira, amanhã é sexta. _disse Balthazar sorridente como se aquilo dissesse tudo. _As vésperas dos finais de semana me empolgam. _justificou.

_Eu fico contente que você também tenha senso de humor. _comentou ela. _O que eu posso fazer para te ajudar no nosso almoço?

_Você pode se sentar aí quietinha e esperar tudo ficar pronto. _disse ele piscando um dos olhos para ela.

_É sério. Eu gostaria de te ajudar.

_Você pode colocar alguma música para tocar no meu celular, eu gosto de ouvir música enquanto cozinho. _sugeriu o demônio apontando para o aparelho em cima do balcão, não muito longe do alcance das mãos dela.

Emily pegou o celular e ficou surpresa por não haver senha. Não era comum alguém não ter o celular protegido por aquele tipo de proteção, mas de qualquer forma quem ousaria mexer no aparelho do demônio a sua frente sem permissão? Ninguém com juízo perfeito é claro. Algo chamou sua atenção, havia uma mensagem não lida na barra de notificações. Curiosa a abriu, a mensagem dizia:
Uma coisa não ficou clara para mim em nosso encontro ontem à noite e gostaria de falar com você sobre isso. Me ligue.

O nome do contato estava como Selena e Emily sentiu seu semblante se fechar. A palavra "encontro" martelou em sua cabeça por alguns minutos enquanto ela tentava processá-la. Então Balthazar estivera em um encontro na noite anterior? Quem era Selena?

_Você esteve em um encontro ontem à noite? _as palavras saíram de sua boca sem que ela pudesse evitar e soaram tão amargas que ela sentiu quando o demônio pareceu recuar levemente surpreso.

_Não esse tipo de "encontro". _explicou ele dando de ombros parecendo achar o ciúme dela hilário. _Encontrei com Selena Winter ontem em uma lanchonete em Catarine Hill para tirar uma dúvida, só isso.

_A mulher que escreveu o mistério dos Sombrios? _perguntou Emily reconhecendo o nome da autora do livro que havia tentado achar em uma biblioteca em Catarine Hill assim que suas desconfianças sobre Victor Hale haviam começado, depois dele ameaçá-la para que fosse embora da cidade imediatamente. Naquela época ela achava que ele era um vampiro, mas estava enganada. Ele era muito mais do que isso, era o criador deles, um anjo caído, um demônio maior poderoso e sua ligação com ele era muito maior do que acreditava ser naquele tempo.

_Ela mesmo. _assentiu o demônio inexpressivo. _Ela e eu fomos amigos por vários anos. Ela era uma bruxa poderosa e queria ser escritora, usando meus relatos sobre a histórias dos anjos caídos ela o escreveu. Tudo nele é real e apesar da maioria dos humanos da época não o acharem mais do que um livro de lendas, a história contada nele enfureceu tanto Lúcifer que os exemplares existentes simplesmente sumiram. Meu irmão não queria algo sobre nós sob o conhecimento dos humanos, o que é tolice, os mundanos não têm a mente tão aberta a ponto de levarem qualquer tipo de livro sobre essas coisas a sério.

Emily não pôde deixar de notar que a expressão do demônio ao dizer que ela havia sido uma amiga havia se alterado levemente. Estaria ele mentindo?

_Somente sua amiga? _continuou ela mesmo sabendo o quanto estava sendo tola e infantil ao agir como uma namorada ciumenta.

_Querida... _começou ele desligando o fogão e a encarando de maneira quase irritada. _Eu já estive com milhões de outras mulheres imortais ou não, e a maioria muito antes de você nascer. Não me pergunte o que você com certeza não gostaria de saber. E sim, eu e Selena já tivemos algo além de amizade no passado quando ela era jovem, mas não passou de sexo. Eu não senti o que sinto por você por mais ninguém. Então pare de procurar saber com quem já estive, isso só vai te fazer se sentir mal.

Emily fechou a expressão e praticamente atirou o celular para longe de si, que por pouco não deslizou para fora da bancada e caiu no chão.

_O celular parece novo. _comentou ela desviando o olhar do dele sem querer encará-lo.

_Eu comprei outro há poucos dias. O meu antigo eu fiz em pedaços. _contou Balthazar dando a volta na bancada e se pondo ao seu lado, a virando para ele e trazendo seu rosto com as mãos para perto do seu.

_Por quê?

_Eu estava irritado. _respondeu o demônio apenas. A verdade era que havia ficado furioso depois de uma ligação de seu irmão que descontou seu ódio na primeira coisa a sua frente. Mas não diria isso a Emily, ela não precisava saber disso.

_Como você reagiria se eu já tivesse me relacionado com vários outros homens? _questionou a garota a sua frente ignorando a expressão sombria que tomou seu rosto ao ouvir aquilo.

_É diferente Emily. _resmungou ele irritado. _Eu tenho milhares de anos, é lógico que já tive muito mais relacionamentos que você, amorosos ou não. E afinal de contas sou casado, a união matrimonial entre os demônios só acaba com a morte de um deles, Evelyn voltou a vida e isso quer dizer que ainda estamos ligados.

_Essa não é uma resposta. Como você se sentiria se nossos papéis fossem inversos e eu já tivesse me relacionado com dezenas de outros homens? _voltou a questionar ela chateada.

_Eu mataria cada um deles e me certificaria que você estivesse tão apaixonada por mim que não pudesse pensar em nada além de nós dois. _declarou o demônio colocando uma das mãos na nuca de Emily e trazendo seu rosto próximo do seu. _Não pense em como seria, mas sim no que é. Meu passado não importa e a falta do seu nesse quesito também não.

Emily não disse nada, não estava sequer conseguindo pensar sobre qualquer coisa quando ele estava tão perto dela. Podia sentir sua respiração e a outra mão dele que não estava em sua nuca desceu suavemente por sua cintura e então subiu, agora por dentro da camiseta que ela usava, o que a fez tremer ao sentir a frieza dos dedos dele contra sua pele.

_O que você está fazendo? _perguntou Emily ofegante.

_Eu não sei. _murmurou ele antes de tomá-la em um beijo profundo, a beijando tão intensamente que Emily podia jurar que havia ficado levemente tonta por alguns segundos.

Sentiu quando ele subiu sua camiseta, expondo sua barriga e afastou suas bocas, começando a beijar seu pescoço, o que a fez arfar.

_Desculpa atrapalhar a agarração na cozinha, mas existe um assunto que precisa ser resolvido agora Balthazar. _disse uma voz da porta da cozinha, os assustando. Era Katherine e ela tinha uma expressão azeda no rosto ao encará-los. _É sobre sua convidada em Catarine Hill.

Emily desceu de onde estava sentada e ajeitou sua roupa corando envergonhada.

_Eu... vou ao banheiro. _murmurou Emily saindo da cozinha apressadamente.
Balthazar encarou Katherine por alguns minutos em silêncio e então sorriu.

_Não a nada sobre minha convidada, não é? _perguntou o demônio sacudindo a cabeça de maneira risonha. _Você mentiu, fez de propósito.

_Que diferença isso faz? _disse ela se pondo a sua frente parecendo magoada. _Eu sempre estive aqui por você e você vai simplesmente desistir de tudo para morrer por ela porque não consegue superá-la. Eu odeio vê-los juntos, não dá para fingir o contrário!

_Você diz que me ama, mas não entende por que estou fazendo isso. Renunciar às coisas, de tudo as vezes, em nome de quem a gente ama, isso é amar alguém. _declarou ele deixando um leve beijo no rosto dela antes de lhe dar as costas e voltar ao que estava fazendo no fogão.

Ele pôde ouvir quando a meio-demônio deixou a cozinha logo depois e não lhe passou despercebido que ela chorava. Era primeira vez, Katherine nunca chorava.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now