Capítulo 59

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Emily abriu os olhos e a primeira coisa que pensou foi em onde estava. Sentia-se extremamente cansada apesar de aparentemente ter acabado de acordar e observou assustada ao redor, percebendo que estava em um quarto enorme escuro com decoração antiga e cabeças de animais empalhados na parede a sua direita, deixando tudo ainda mais assustador. Estava deitada em uma cama grande no meio de um quarto desconhecido, parecia estar sozinha, mas ao ouvir um barulho de passos se aproximando viu que a figura de um homem loiro de olhos azuis claros se aproximava lentamente da cama, vindo de algum lugar do canto do cômodo escuro.

_Quem é você? _perguntou ela se encolhendo mais onde estava quando ele se sentou no canto esquerdo da cama e encarou-a de maneira sombria.

_Lúcifer, meu nome é Lúcifer. E você Emily, é minha hóspede. Não se lembra amor? Você veio a mim, e então agora estamos juntos.

_Eu não lembro de você, a última coisa que me lembro é de estar em uma boate e depois não me lembro de mais nada. _murmurou a garota franzindo o cenho confusa. Não fazia ideia de quem ele era ou como fora parar ali. "E ele tinha o nome do diabo?" _pensou horrorizada.

_Quem estava com você nessa boate Emily? _questionou ele parecendo analisá-la, como se avaliasse se ela estava mesmo sendo sincera e sua tentava de apagar Balthazar e tudo ligado a ele de suas memórias havia mesmo dado resultado, ou se ela estava mentindo.

_Eu... estava sozinha, não lembro de ter amigos na escola, acho que fui só. Mas algo aconteceu e apesar de não lembrar, sinto que escolhi estar aqui. _respondeu Emily pensando no que dizia. Não lembrava mesmo, era como se várias coisas nas últimas semanas desde que se mudara para Greendale houvessem desaparecido e suas lembranças estivessem repletas de memórias incompletas e coisas que não faziam sentido. _Como vim parar aqui? E de onde nos conhecemos?

_Eu e você somos amigos Emily, somos muito próximos. Você não de lembra de mim porque teve uma pequena perda de memória, mas essa é a verdade. _ contou o demônio a encarando sem piscar, usando seus poderes para fazê-la acreditar. _ Você veio me visitar, então estamos aqui, juntos e nos conhecendo.

_Entendo. _sussurrou ela sentindo-se levemente tranquila, como se as palavras do estranho que se apresentara como Lúcifer fossem de alguma forma reconfortantes.

_Eu quero te mostrar uma coisa Emily, lá fora no jardim, você pode vir comigo? _pediu ele gentilmente, se levantando e estendo uma das mãos para ela, que sem hesitar a aceitou, o encarando quase que encantada.

_Claro. _concordou ela prontamente. De alguma forma que não entendia sentia que podia confiar no homem a sua frente, se sentia quase em transe perto dele. Mas quando suas mãos se tocaram a soltou imediatamente ao sentir uma sensação quase sufocante de angústia. _O que...?

_ Não a nada errado Emily, está tudo bem. _sussurrou Lúcifer suavemente, apesar de haver um brilho doentio em seus olhos.
_O que foi isso? Por que senti isso ao tocá-lo?

_ Você não está bem, querida, está imaginando coisas que não existem. Por que haveria algo errado? _questionou ele fingindo um falso olhar preocupado, como se estivesse seriamente preocupado com o estado mental dela, o que a fez recuar. _Apenas venha comigo e se sentirá melhor.

Emily pensou por alguns instantes e então assentiu, o deixando guiá-la para fora do quarto, através de um longo corredor escuro. Tudo naquele lugar parecia de alguma maneira assustadora e estranha. Algo a fazia acreditar que ele dizia a verdade, mas não conseguia não desconfiar de seu olhar para ela, as vezes parecia que havia algo cruel refletido em seus olhos, como se estivesse intimamente satisfeito por algo cruel que fizera.

_Essa é sua casa? _perguntou ela curiosa, queria muito soltar sua mão da dele, mas algo lhe dizia que não deveria fazer isso.
Sua pele era fria em contraste com a dela e se sentia a sensação de angústia se intensificar a cada passo que dava ao lado dele. Como se houvesse maldade de alguma forma nele, algo que dizia que deveria ficar longe.

_De certa forma. _respondeu ele de maneira enigmática, lhe lançando um sorriso forçado antes de entrarem em uma sala enorme.

O homem chamado Lúcifer continuou a puxá-la pela mão, parando a poucos metros de uma porta que a garota imaginou ser a porta de entrada. Hesitando por um momento com a mão na maçaneta ao ouvir uma voz vinda de algum lugar da sala.

_Onde vai levá-la? _uma voz feminina questionou, o que fez Emily arregalar os olhos assustada, não havia ninguém na sala instantes antes.

_Isso não é da sua maldita conta! _rebateu o homem irritado, apertando a mão de Emily com tanta força que a garota deixou um grito escapar.

_Ai!

_Achei que ela era seu trunfo, não seu brinquedo. _disse a mulher morena de braços cruzados próximo a um sofá os encarando de maneira séria.
Emily viu Lúcifer soltar sua mão e caminhar lentamente até a mulher, a encarando com tanto ódio que sentiu medo por ela.

_Balthazar está em algum lugar lá fora planejando a sua morte e a única coisa que vejo você fazer é brincar com essa humana idiota. O que exatamente você pensa que está fazendo? De que tipo de jogo você pensa que está brincando? _questionou a mulher não parecendo nem um pouco afetada pelo olhar mortal do homem.

_Estou cansado de suas malditas cobranças Celine, eu disse uma vez que simplesmente me deixasse em paz, por que não me ouviu? _ murmurou ele com a voz perigosamente calma.

A mulher pareceu por um momento congelar onde estava e recuou quando ele se aproximou o bastante, parecendo ter medo dele. Emily não fazia ideia do que estavam falando ou o porquê ela havia a chamado de humana idiota. "Afinal quem eram eles?"

_Eu só acho que a levar lá fora não é uma boa ideia, eles estão perto, eu sei que estão. _disse a mulher chamada Celine quase em um sussurro, sua coragem parecendo morrer. _Ele encontrará uma forma de entrar aqui, ele fez isso nos reinos infernais, agora não será diferente.

_A barreira fica à alguns metros, parte do jardim está protegido. Não vou simplesmente dar a ele mais chances de me matar, vou só mostrar a Balthazar que o motivo pelo qual ele luta só está vivo por minha causa, ele me deve, e se quiser me matar terá que matá-la antes.

_Então você vai realmente usá-la contra ele? _quis saber a mulher parecendo ficar calma quando Lúcifer passou por ela e caminhou em direção a uma pequena mesa no fundo da sala.

Emily e Celine o observarão pegar um objeto da mesinha e aproximá-lo do rosto, o observando atentamente, soltando um murmúrio angustiado como se algo o estivesse perturbando.

_Sophie... _Emily ouviu a mulher morena sussurrar quase que prazerosamente. _Como você é baixo.

_Nunca disse que jogaria diferente. _rebateu ele se virando para encará-la, dando a Emily a visão do que havia em suas mãos. O objeto que mais lembrava uma bola de vidro redonda, como uma esfera pequena, onde dentro algo brilhava em uma luz azul clara.

_Existem quatrocentos de nós e centenas deles, como lidaremos com isso?

_Cérbero e meus cães infernais ajudarão, e lembro-me muito bem de ter dado poder suficiente para que todos vocês possam lidar com isso. _disse ele. _E traga Nora para a sala principal, eu acho que Azazel não está tão do lado de Balthazar que não possa recuar, ele sempre foi inconstante. _ordenou Lúcifer asperamente.

_Cérbero...? _gaguejou a mulher ficando pálida, seu semblante parecendo aterrorizado.

_Ele pode matar demônios sem muito sacrifício, por isso será útil. Invoque-o, eu estarei lá em alguns minutos. _instruiu ele guardando a esfera no bolso da calça e caminhando de volta de volta até Emily estava. _Pegue um casaco Emily, lá fora está nevando, não quero que você morra antes da hora, vocês humanos costumam ser frágeis demais.

Apesar de muitas coisas não estarem claras e quase nenhuma parte daquela conversa fazer qualquer sentido para ela, Emily não pôde deixar de sentir medo com as últimas palavras dele sobre sua morte. Amedrontada e sem saber o que pensar sobre aquelas pessoas a sua frente, deu alguns passos para trás recuando, abrindo a porta e correndo o mais rápido que conseguia, sendo abraçada pelo frio intenso e neve que parecia cair com intensidade lá fora. Ignorou o tremor nos músculos por causa do frio intenso e continuou correndo, só parando ao chocar-se com algo, sendo jogada para trás por causa do impacto, caindo na enorme camada de neve que cobria o chão, que a impediu de se machucar.
Ao olhar para a frente para ver no que havia colidido viu que não havia nada, era como se houvesse batido em uma barreira invisível, talvez tivesse sido sobre ela que o estranho chamado Lúcifer e a mulher morena chamada Celine conversavam há pouco.

_A barreira serve para os dois lados, ninguém entra ou sai dela anjinho. _explicou a voz sombria de Lúcifer surgindo logo atrás dela, a voz soando quase divertida, um divertimento sombrio, como se lhe desse prazer ver a falha tentativa de fuga dela.

_Quem realmente é você?! _gritou a garota se levantando e se abraçando de maneira protetora por causa do frio, dando alguns passos para trás ao ver que ele se aproximava.

_ Não importa quem eu sou para você, não importa mesmo. _respondeu ele de maneira enigmática. _Mas se quer tanto saber, meu nome é Lúcifer, e eu sou o diabo.

Emily riu, deixando uma gargalhada escapar sem que pudesse controlar. Ele havia dito que se chamava Lúcifer e apesar do nome estranho e de haver nele algo incrivelmente assustador, aquelas coisas não existiam. "Demônios... que tipo de brincadeira ele achava que estava fazendo?" _pensou.

_Demônios não existem. _afirmou a garota rindo secamente.

_Acredite, eu sou bem real. _disse ele com o olhar agora quase doentio ao encará-la. _ Não deveria ter apagado suas lembranças, apesar de tudo gostava do seu jeito, mas não se preocupe, o que eu fiz não é permanente, com o tempo você se lembrará.

_Se apagou minhas lembranças por que trazê-las de volta? O que fiz para que você fizesse isso? Por que está me mantendo aqui? _questionou Emily confusa, franzindo o cenho por causa do que ele dizia. Não fazia sentido algum ele ser um demônio, e se ele dizia a verdade, por que havia feito aquilo com ela? Apagado algumas de suas memórias? A troco de que?

_ Você se lembrará. Lembre-se Emily. _sussurrou ele.

E então elas vieram. Todas de uma só vez, como uma torrente bagunçada de momentos passando por sua cabeça. Sentiu-se levemente tonta e tombou para o lado ao lembrar.

O momento em que ela e Balthazar se falaram pela primeira vez no segundo dia de aula:

O dia em que ele fora a sua casa de madrugada ameaçá-la para que fosse embora da cidade.
"_Seja lá o que você esteja querendo saber sobre mim, desista. Quero que vá embora da minha cidade amanhã mesmo. Se você ainda estiver em Greendale na manhã de sexta-feira, eu pessoalmente acabarei com você.
_Quem é você
_Você não vai querer saber.
_Vá embora enquanto pode garota, esse é o primeiro e último aviso."
O dia em que havia ido a sua casa pela primeira vez.
"_Você disse que conversaríamos. Por que me trouxe aqui? Sobre o que quer conversar?
_Você é minha. Eu só queria dizer isso. Não importa o que aconteça a partir de agora, lembre-se sempre disso. Não vou deixar ninguém além de mim fazer mal a você."

E tudo que havia vivido desde então.
As lembranças inicialmente pareciam confusas, como se fossem de outra pessoa, mas então veio o reconhecimento de tudo o que havia passado e então entendeu. Eram suas lembranças, sua vida. Era como se tudo passasse diante de seus olhos outra vez. Lúcifer havia apagado sua memória sobre Balthazar, feito aquilo para fazer alguma coisa com ela. Mas por quê? Isso ela não entendia. E por que trazê-las de volta? Como isso poderia beneficiá-lo?

_Sei que você fez isso por um motivo ruim. _disse ela respirando com dificuldade parecendo estar em uma crise de pânico, suando frio sentindo falta de ar. _você apagou minha memória e fez alguma coisa comigo enquanto estava desacordada, sei que fez.

_ Não se preocupe, sua integridade está a salvo, não toquei em um fio de cabelo seu.

_O que você fez? Eu me sinto diferente, minha cabeça dói e pesa, como se houvesse algo em mim que não tinha antes. _questionou ela apavorada com a possibilidade de ele ter realmente feito algo.

_Eu não fiz nada com você Emily, se fizesse por que eu esconderia?

Mas Emily não se deixaria enganar, ela podia ver a verdade estampada em sua expressão doentia ao encará-la. Ele fizera alguma coisa, algo que pudesse deixá-la ainda mais sob seu poder.

_Me ligou a você... _sussurrou ela entendendo, sentindo lágrimas descerem por suas bochechas. _Me ligou a você... _repetiu.

Ela conseguia sentir, havia algo em seu íntimo, no fundo da sua consciência que não havia antes, algo que a fazia quase se sentir próxima do demônio a sua frente.

_Se eu morrer, então você vai junto comigo. _concordou o demônio se pondo a sua frente, se inclinando perto dela, deixando seus rostos próximos e sussurrando: _eu vou adorar ver a expressão em seu rosto quando ver o que meu irmãozinho escolherá, o poder ou você? Ele não poderá ter os dois.

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