CAPÍTULO 20

35 16 2
                                    

Ananda Cruz

Dona Cidinha tem sido de extrema importância nos meus dias e meu pai se sente frustrado por não conseguir estar do meu lado nesse momento, já que me recusei sair da SLA para ir morar com ele.

Os nove meses passou muito, muito rápido. Quando completei seis meses de gestação eu fui promovida a Regional, contra até a minha própria expectativa.

Meu pai, madrasta e irmã vieram para ficar comigo, o que fez dona Cidinha enciumada e ainda mais protetora.

As contrações iniciaram e em seguida Júlia foi avisada e só Deus mesmo para conseguir duas vagas em um voo tão rápido para minha amiga.

Dores no geral não são programadas, o meu parto mesmo estava programado para uns 4 dias pra frente.

Já estava 14 horas agachando, respirando querendo matar uma pessoa, quando minha amiga chegou.

----Gata, você não vai ser mais mãe ou menos mãe por aceitar uma cesariana, vocês duas estão sofrendo.

-----Mas estou com contrações.

Profissionais da área da saúde são os piores pacientes, porque esquecemos tudo que sabemos quando somos os necessitados de cuidados.

-----Sua filha quer nascer, seu corpo não quer deixar. Eu estou aqui o que mais poderia dar certo? Vamos botar essa garotinha no mundo? Há mais riscos para o seu corpo ficar forçando assim do que em uma cesariana.

Se eu já tinha medo de morrer, agora tenho muito mais. Se eu tivesse nas minhas faculdades mentais, eu argumentaria que nenhum dos partos causa dano a minha saúde ou corro algum risco de vida se tudo for feito do jeito certo e acompanhado, mas por medo de algo acontecer a mim ou minha filha eu aceitei ir para o centro cirúrgico.

"Oi mamãe, faz tantos anos que não te vejo né?
Pois é, hoje eu literalmente me torno uma mamãe também. Eu tenho medo de falhar com ela, mas eu sei que como você foi ótima comigo eu tenho seus ensinamentos para me guiar, só que mamãe eu não lembro como cuidou de mim antes dos cinco anos."

Interrompo meus pensamentos, com o aperto forte de Júlia.

------Ela é tão linda Ananda, puta que me pariu. É uma perfeição e nem tem cara de joelho.

Julia chorava e eu estava chorando também.

Sentir o corpo de Beatriz no meu corpo pela primeira vez, um corpinho todo branco sujinho e fedido, me trouxe uma paz tão grande.

Beatriz Cristina Cruz.

Meu pai chorou no momento que viu nós duas.

-----É o branco dos olhos e o gênio é todo seu. Eu lembro que quando você nasceu fica com a mãozinha assim embaixo do queixo igual.

-----Ah papaiiiiii

Eu me sentia uma garotinha de cinco anos que ganhou um brinquedo novo.

                        ****"***

Chegar em casa com Beatriz foi um divisor de águas para mim onde a teoria, deve ser praticada e você não tem noção nenhuma de como seguir já que todos tem palpites diferentes sobre o que fazer.

Eu pedi a todos um tempo para eu passar ao menos 24 horas eu e Beatriz.

Foram três dias no hospital onde nada parava quieto.

Sou grata a todos pela ajuda e cuidado e apesar da imensa felicidade, eu sinto que estou tirando algo importante de um certo alguém.

                *********"

Seis meses passaram rápido e quando eu voltei, não dei sorte para o azar.

Aprender a fazer cookies e danones caseiros foi fortalecedor para o meu lado mãe, porém nos momentos que Beatriz dormia eu escrevia alguns projetos que me vinham em sonhos.

Eu tenho no meu celular muitas fotos e vídeos de passeios e bobeiras que os bebês fazem, mas para que nós mães é a coisinha mais preciosa desse mundo.

Geralmente quando os problemas vêem sozinhos, nós damos conta de resolver.

Por exemplo, se um faturamento der errado, um contrato não for assinado ou for necessário uma reunião de emergência, a gente tira de letra.

Se Beatriz acordar resfriadinha e não puder ir a creche a gente também dá um jeito até porque é a alegria da dona Cidinha ficar mais tempo com ela.

Agora quando os problemas vêem juntos e em doses cavalares a gente começa a se questionar e percebe que esqueceu de si mesmo.

E foi no meio de vários momentos turbulentos que eu não consegui segurar uma crise de ansiedade e acordei no hospital.

Eu não sei me doar pela metade, ou eu amo tudo que eu faço e me doo ou nem faço.

A preocupação em excesso não me deixava desligar nem mesmo dormindo, o que me fazia me sentir ainda mais cansada.

Foi recomendado exercícios físicos e uma vez por semana acompanhamento psicológico, o que se tornou meu equilíbrio físico e de uma certa forma emocional.

Eu sei que é impossível dar conta de tudo sozinha, mas 1:30 de treino e 45 minutos de psicoterapia me faz entender que ao lidar com tudo e todos eu estava anulando a pessoa principal do meu mundo, que sou eu mesmo.

Eu achava que tinha que suprir a falta do pai da Beatriz e por ser mulher tinha que ser duas vezes melhor e mais esforçada, mas eu aprendi que eu posso ser ótima já com tudo que eu doo, sendo comprometida, apaixonada e tratando todos com equidade. Sempre buscar me atualizar e trazer coisas novas para a empresa, desde que isso esteja de acordo com os meus valores e o melhor, conciliando com um espaço de tempo para eu cuidar de mim.

E deu certo. E o tempo continuou correndo como sempre 

Atração Proibida Where stories live. Discover now