CAPÍTULO 22

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Ananda Cruz

Quanto mais Beatriz crescia, mais gatilhos me causava.

Eu a amo muito, mas cada pequeno problema que acontece na escola muito parecido com os que eu causava me remete aos meus próprios traumas.

Beatriz tem 5 anos agora, extremamente falante e cheia de sonhos.

Há um ano e meio me tornei parte importante da diretoria, um cargo que estava além dos meus sonhos.

Conforme minha psicoterapeuta me falou eu carreguei por muitos anos bagagens que pareciam inofensivas, até que danos maiores foram me atropelando.

Chego do escritório e vou buscar Beatriz com a dona Cidinha e elas me contam como  foi divertido misturar três pequenas colheres de sorvete, chocolate com menta, céu azul e maracujá, o que causou uma explosão de sabores.

Ainda estávamos rindo quando dona Cidinha coloca sua mão fortemente no lado esquerdo do peito.

-----Bia, eu sei que confia na mamãe então pega o meu telefone e liga 191 e fala o endereço da dona Cidinha pedindo ajuda, lá no quarto  tá bom?

Beatriz pega o celular e tremendo muito, vai para o lado de fora talvez pedir ajuda a um outro adulto.

Eu respiro fundo, amarro meu cabelo num coque rápido e a deito no chão fazendo uma massagem cardíaca que mal lembro d época de faculdade.

-----Nao faz isso com a gente pelo amor de Deus, a gente tava rindo agora pouco.

Suor pingava do meu rosto e eu não me importava nenhum pouco, com uma certa demora escuto o barulho de sirenes e ao colocá-la na maca eu percebi que não haveria tentativas suficientes.

Beatriz estava ao telefone no canto da sala, chorando tão sofrido que a minha única reação foi esconder minhas próprias dores para conforta-la.

-----Nao sei madrinha, mas foi muito feio, ela estava rindo e começou a cair no sofá.

Faço um sinal para Bia com as mãos para se aproximar e pego o telefone.

-----Desculpa ela te ligar assim Ju.

-----Eu que liguei Ananda, eu estava na cozinha quando do nada senti uma dor no peito e o prato vazio nas minhas mãos caíram como se algo fosse acontecer.

-----É você sempre foi assim.

------Olha eu ainda devo ter sei lá umas mil horas de banco de horas, eu vou pra aí ficar com vocês. Você acha que ela não resiste né?

------Nao, não vai.

-----É você também sempre foi assim. Vocês vão para o hospital? Talvez seja importante pra Bia se despedir caso ela acorde antes de você sabe.

-----Nao tinha pensado nisso, na verdade não consegui nem pensar ainda.

----Vai lá amiga você é muito forte e especial. Qualquer coisa vai me mandando mensagem pelo ZAP que assim tão rápido quanto possível, eu estarei aí pra você chorar.

Não tenho forças para questionar ou recusar.

Desligo o telefone, pego um casaco para Bia e vamos ao hospital.

------Familiares de Maria Aparecida Gonçalves?

Levanto e vou até o médico.

-----Apesar de todos os nossos esforços, não foi possível...

Eu não ouvi mais nada, é como se tivesse dado um corte entre o início e o final da frase.

-----Querida, vovó Cidinha virou um anjinho agora e vai nos proteger do céu, ela jamais nos abandonaria, mas é chegado o momento dela descansar né?

------Ela andou tendo algumas dores, mas pediu pra não te falar porque ia marcar médico em algum momento. Ela bebia água e falava que já passou.

-----Acho que aprendemos uma lição hoje né?

-----Nao e sua culpa mamãe, se não estava com a gente é porque precisava estar em outro lugar.

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Julia.

Assim que desligo a chamada de Ananda e Bia, eu ligo pro Juninho.

----Fala minha truta.

-----Voce faria um favor pra mim?

-----Nao sei.

-----Eu preciso resolver um problemão, você conseguiria cuidar do meu setor tipo uma semana?

-----Puta merda. Esse problema é realmente grande?

------Bom é um tipo de problema que eu nem sei resolver, a babá idosa do filho da minha amiga lá de Contagem morreu e eu preciso dar um suporte, porque ela não e casada. Eu já comentei uma vez com você.

-----Nao lembro, mas boa sorte pra você e meus sentimentos a sua amiga e filho, geralmente nos apegamos a idosos igual a você. Só avisa o Gegê lá pra não dar problema depois.

------Voce é o melhor Gegê que eu conheço.

-----Puta saco.

Aviso o gestor e tão logo consigo, estou em um avião para João Pessoa e aviso a família da Ananda também, porque se bem conheço ela, quando sair dessa situação estará em um bloqueio, afinal de contas dona Cidinha já era especial até pra mim, ela me chamava de dona encrenca.

Por lei, Ananda não teria direito a afastamento da empresa por essa perda já que não ha laços sanguíneos, mas nem que eu ponha o escritório abaixo eles farão algo para isentar ela, que só tira as férias e nem usa o direito de tirar duas licenças por ano pra ir ver os pais.

Quando chego na casa da minha amiga, Bia está dormindo e Ananda está com a roupa que usa pra trabalhar ainda.

Assim que abre a porta eu dou um abraço bem forte e a levo para tomar um banho.

Eu tenho medo das consequências dessa perda, as duas ficam sempre tão longe de todos, mas Ananda é teimosa como uma porta.

Seu pai chega antes do enterro e Camila irmã de Ananda e tia de Bia se abraçam e não se desgrudam.

Os familiares de Dona Cidinha também compareceram e apesar de triste foi um funeral bonito.

Forço Ananda tomar alguns comprimidos para dormir e Bia deita com Camila também e dormem.

----Julia tenta convencer Ananda a voltar.

----Forçada ela não vai tio, mas eu sei que ela está chegando ao seu limite e irá ressuscitar das cinzas. Eu tenho fé na minha amiga e sinto no fundo do meu coração que em breve ela voltará para nós

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