Atração Proibida

CAPÍTULO 25

Ananda Cruz

Coração de gelo e pulso firme.

Contra o que sempre me diziam, em eu ser coração mole e pulso firme, ao sair do hospital onde minha filha está em observação o que pode ser desde uma intoxicação alimentar a algo emocional.

Coração de gelo e pulso firme.

Conforme o Uber se aproximava do salão de reuniões do Hotel Go Inn deluxe e eu precisava encarar a todos e não deixar minha energia baixar porque Álvaro também estava ali.

O mundo corporativo, majoritariamente masculino, estava aguardando apenas um erro meu, para provar que o Lugar de mulher não é onde ela quiser.

É um mundo onde falhas é proibido e que voce se foda com seu Burnout.

Ele pode querer voar no meu pescoço, brigar comigo ou me ignorar, mas eu só queria que ele estivesse de férias ou muito gripado e com dor de barriga que são as únicas condições que justifica a ausência de algum gestor.

Coração de gelo e pulso firme.

A cada fileira, meu andar exalava postura, porém minha mente e coração estava em frangalhos, preocupada com Bia, sofrendo o meu retorno que era pra ser de três dias, mas cada dia está mais difícil de controlar as crises e foi assim que os cargos acima de gerentes poderão escolher a partir do mês anterior onde fazer morada, ciente de que terão que viajar frequentemente afim de estarem mais próximo de seus familiares melhorando a qualidade de vida nao só física, emocional e espiritual.

Eu quis, querer morar perto do meu pai, mas Júlia mora em São Paulo e por mais que o pai da Bia não queira me ver nem pintado de ouro ou esteja sei lá, namorando ou casado, ele não recusaria sua filha, recusaria????

Será que ele tem outros filhos?

Coração de gelo e pulso firme.

Sento na cadeira vaga e o vejo.

Álvaro Pinhal Junior, de terno e gravata como no casamento da prima dele, onde eu não aguentei o desejo e fizemos amor loucamente, pela primeira vez.

Coração de gelo e pulso firme.

Foco no que vim fazer a São Paulo profissionalmente e início minha apresentação, sem gaguejar.

Tudo o que eu quero é que o relógio acelere o tempo ou que sei lá o prédio pegue fogo e eu possa ser mãe colocando um pijama que já tem furinhos na cintura e no bumbum igual da minha filha e mima-la como na última férias onde passamos três dias no parque onde até piscina de água quente tinha.

Coração de gelo e pulso firme.

Dizer seu nome em voz alta e ainda escutar que era meu antigo setor, me trouxe lembranças arrebatadoras, onde parar ao seu lado para uma foto era um martírio. Sua barba cerradinha e o cabelo que não tem um único fio fora do lugar e todos desajeitados ao mesmo tempo.

"mensagem de whatsapp

-----Ananda, a febre está bem recorrente e além do soro, não parou nada no estômago. Eu sei que precisa terminar aí, mas Bia está delirando chamando a mamãe."

Roberto está sentado ao meu lado e peço para ele finalizar esse momento importante para todos os gestores onde inicia uma nova era para todos e me retiro.

Coração mole e pulso mole também.

Agora não é questão de postura é uma parte de mim.

Pego um Uber e sigo direto para o hospital.

Meu pai pergunta a cada cinco minutos de Bia e eu só queria saber como eu poderia ajudar ela de verdade, sem todo esse sofrimento de hospital e tudo mais.

-----Pode ir pra casa um pouco Júlia, eu te mando notícias.

Tinha acabado de tomar um banho rápido para deitar Bia no meu peito e Júlia me faz prometer que se ficar difícil demais eu vou contactá-la na hora que ia pra casa do Rodrigo.

A doutora Brenda se aproxima.

-----Faz três horas que ela não tem febre e os exames retornaram acusando uma intoxicação alimentar mesmo, você pode optar ficar com ela aqui ou ir pra casa, já que é Farmacêutica vai conseguir detectar se algo estiver errado novamente.

Repassei todas as coisas que ela pode ter comido e feito mal e lembro que a carne de boi, tinha um corante amarelado .

----Foi reação ao corante amarelo doutora?

----Foi o que mais deu reagente.

Respiro aliviada, não foi eu.

------Obrigada, foi uma carne que comemos no restaurante, eu prefiro ir pra casa, você é mesmo muito ótima, mas eu adoraria deitar com ela e colocar qualquer filme ridículo que ela queira ver.

Recebemos alta, passamos na drogaria que já confiamos desde João Pessoa e seguimos para o hotel.

Ao atravessar o saguão sinto que estamos sendo observada, mas creio que seja coisa da minha cabeça. Tudo isso tem sido demais para todo mundo.

Comprei milho de pipoca para fazer microondas do quarto e suco de laranja natural.

As vezes aquecer o coração pode curar muito mais que qualquer cuidado com o físico.

Bia colocou O Poderoso Chefinho que sabe que eu gosto e não dormiria nos dois primeiros minutos e iamos conversando sobre algumas coisas aleatórias do filme e sua mãozinha gordinha devorando a pipoca no saquinho de pão e dando risada aqueceu meu coração e então eu tive um insigth.

Nesse último ano, Bia tem dito que quer ser Farmacêutica e trabalhar na mesma empresa, da mesma forma como eu fazia quando via a minha mãe e foi onde percebi o ciclo vicioso acontecendo novamente e entao eu percebi que eu não queria ser Farmacêutica porque entendia o que minha mãe fazia e o quanto essa profissão é importante para a sociedade e que temos o poder de ajudar a curar ou matar alguém acertando ou errando a dose, pois a diferença de um medicamento para um veneno é a dose, mas que se a minha mãe não podia estar comigo porque precisava estar em outro lugar, logo se eu fosse Farmacêutica e estivesse no mesmo lugar que ela poderíamos estar mais juntas sem que ela tivesse que escolher onde precisa estar mais.

Não era pela grandeza da profissão e sim pela pessoa que está lá.

Eu não sei como consertar isso ou se é um futuro amor na vida da minha filha, porque hoje eu realmente amo o que faço, mas como posso descobrir isso sem parecer estar influenciando ela a tomar alguma decisão ainda aos cinco anos.

Meus pensamentos são interrompidos pelo bater da porta do quarto de hotel e Bia já dormia um sétimo sono, me levanto vagarosamente tentando não acorda-la e chegar mais rápido o possível na porta, antes que a outra pessoa acordasse Bia.

E eu não acredito no que vejo.