C A P Í T U L O 02

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— Apareceu repentinamente, capitão! — Francisco, o imediato e braço direito do capitão se forçou a falar — Estava tudo bem! Seguimos perfeitamente nosso curso. As estrelas estavam brilhantes acima de nossas cabeças e então… e aí…

— Ficou escuro — completou o piloto, mais calmo e nem menos preocupado.

    Ambos os homens deveriam, no mínimo, manter a compostura. Porém, o brilho no olhar não engana ninguém. Uma anomalia aquática estava arrastando a frota para o desconhecido não havia como escapar. Certamente tentaram e fracassaram miseravelmente.

     Quanto mais tempo se passa, mais o medo do desconhecido cria raízes. A tripulação experiente já havia feito o percurso de Brasil e Portugal e Portugal e Brasil várias vezes. Talvez seja sorte terem sobrevivido ou apenas competência de um time exemplar. Ou outra coisa…

    Porém, os eventos recentes não eram comuns. Os homens não deixavam de comentar e lembrar quando nuvens sombrias irromperam da noite estrelada. As águas antes pacíficas se transformaram tão repentinamente que… que…

— Onde estamos? — que estavam perdidos.

     Como Capitão, Alexandre tem que manter o controle começando por recuperar a calma e juntar o máximo de informações. Se atualizar de tudo a cada momento enquanto se preocupa em não desabar.

    A resposta de seu piloto não chegou tão rápida quanto deveria.

— Não sabemos.

— Quantos mortos?

     O imediato respondeu:

— Não sabemos, ao certo. Há muitos desaparecidos e alguns dos escravos não…

— Quantos feridos? — Ele interrompe.

— Não sabemos, senhor.

— Como não sabem?! — A calma se desmancha na forma de um soco na mesa cheia de papéis.

     Havia mapas ali que não faziam mais sentido e, ao lado, uma rústica bússola que sempre estava com ele. Ela nunca falhou. Mas naquele momento, a seta girava, girava e girava; ora em sentido horário e ora em sentido anti-horário. Quase todos os instrumentos de navegação se tornaram inúteis.

     Alexandre suspirou. Ele é um prestigiado Capitão, motivo pelo qual fora escolhido para comandar toda uma frota em direção a Portugal. Ele não podia perder o controle. Não iria.

— Ao menos… como estão as nossas supervisões?

    Silêncio. Silêncio pesado e tenso se fixou entre os homens. Seu imediato encarava o navegador, buscando palavras mais agradáveis.

— O senhor não consideraria avaliar as anotações? — Sugere cautelosamente o piloto.

     Ele se referia ao diário pessoal e algumas outras anotações vindas de capitães anteriores. Alexandre é um homem que gosta de pegar experiência de seus antecessores e, no entanto, coisas como aqueles diários mais pareciam histórias mentirosas sobre monstros marinhos e piratas chifrudos.

     Nada sobre aquela coisa abaixo do navio.

— Talvez — Mas ele se viu sussurrando.

     Alexandre elevou os braços para a cabeça e arrumou seus cabelos castanhos num bolo desgrenhado acima da nuca. Alguns poucos fios castigados pelo sol caíram sobre a testa bronzeada de alguém frequentemente queimado pelo sol.

    Ele se debruçou na borda do convés superior e sentiu a brisa suave em seu rosto como um alívio ao calor. Tudo o que ele queria era uma banheira de água fresca e Dandara em seu colo.

ACASALAMENTO: Lua CheiaWhere stories live. Discover now