C A P Í T U L O 08

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— Não! Não vi nadinha!

Francisco deslocou a atenção de seu diário para olhar a escrava trabalhando num cesto. Um cesto de capim.

Dandara encontra-se rente a entrada da gruta, observando os homens que passam de um lado para o outro enquanto confecciona. O capim utilizado em seu trabalho é resiliente e precisa ser cortado com um facão. Independentemente da fibra que confere tanta resistência à vegetação do ambiente, será aproveitada ao máximo.

— Eu tava sonhando com o mar quando senti aquele cheiro — ela diz.

— E como era o cheiro? — A mão do homem espera para continuar a escrita.

Dandada para o que estava fazendo, olha para o nada em particular e faz uma careta.

— Parecia cachorro molhado — uma pausa. Uma reflexão. — E alguma coisa podre. Também tinha um cheiro de… sabe quando cê tá com caganeira? Algo assim.

Ela continua a tecer o capim entre os dedos e Francisco registra suas observações. Surpreendentemente, para um homem branco, ele não demonstra muita preocupação em se sentar ao lado dela.

— E… — ele conteve o sorriso — você acha que esse cheiro veio de Alexandre?

Dandara sorriu descaradamente.

— Talvez…

— Alexandre diz que eles partiram assim que você acordou — Dandara para o que estava fazendo.

— Disse?

— Você não sabia? — ela nega. — Ele disse que ficaram te olhando por um minuto. Que pararam de rosnar e assim que você estava prestes a acordar, saíram.

— Isso é… — ela suspira — perturbador. Um monstro te olhando enquanto você dorme. E ninguém jamais desconfiou de que ele estava ali.

— Ninguém além de Alexandre.

— Eu facilmente diria que ele tá louco. Mas…

— É, macaquinha. Eu também. Eu também…

Ninguém acreditou quando Alexandre contou o que havia visto. Muitos afirmaram que ele estava tendo um surto ou era apenas uma ilusão causada pela exposição prolongada à neblina.

No entanto, existiam evidências de que algo realmente os havia visitado.

Foi somente quando um dos homens o examinou que Alexandre percebeu o arranhão em seu abdômen. Eram marcas precisas de cinco dedos, causando uma irritação avermelhada na pele. Além disso, na terra atrás da tenda, havia uma enorme pegada.

Aquela imagem jamais sairia da mente de Alexandre. Ele até pediu uma cópia do desenho que Francisco fez, junto com todos os detalhes de medição.

— É quase medonho que algo tão grande seja tão sorrateiro e furtivo — Francisco comenta. — Talvez se não fosse a insônia do capitão… ninguém saberia da presença dessas criaturas.

Algo que a escrava e todo o acampamento não notou.

Mas

ACASALAMENTO: Lua CheiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora