Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Silêncio!
Dandara pouco se importa com o silêncio!
Não quando um corpo caiu em seu colo. Não quando bichos brancos e rechonchudos estavam dentro de suas roupas, no cabelo e deslizavam por seu corpo tentando se agarrar a ela com o mesmo desespero que Dandara grita, grita, grita e se contorce.
Cadáver e bichos… Bichos e um cadáver. Um morto e bichos que grudam e não querem soltá-la. Foi repulsivo se levantar com aquele pedaço de carne pútrida em seu colo e desesperador tentar tirar aquelas criaturinhas.
Os homens lhe cercaram, tentaram acalmá-la. Mas Dandara não deu ouvidos a nada enquanto chacoalhava as roupas, bagunçava o cabelo e pulava sem rumo com grunhidos e gritaria.
A névoa lhe envolveu, úmida, pesada e fria quando ela começou a tirar suas roupas e a se coçar.
— Dandara!
Em algum momento, os chamados ficaram longe. Em algum momento, só restou ela e uma densa neblina.
A última peça de roupa caiu aos seus pés.
Dandara agora estava nua e sozinha.
Com bichos brancos e gordos grudados em seu abdômen, peito e coxas. Dezenas deles.
E ali estava seu desespero: ter que puxar aquela coisinha como se arrancar o carrapato de um cachorro. Ele se agarrou, mordeu e lutou. Mas saiu… e doeu.
Ela foi para o próximo, o próximo e o próximo. Dandara perdeu a conta quando puxá-los se tornou mais difícil. Aqueles vermes queriam entrar em seu carne, em seu corpo e comê-la. Em algum momento, caroços se formaram e filetes de sangue começaram a escorrer.
Sangue fresco na brisa suave que movia a neblina.
— Dandara! — Alexandre lhe procurava.
E então, ela tirou o último bicho. Aquele que insistia em ficar em sua coxa.
Apenas para se recompor e sentir os músculos das costas latejar.
— Dandara? — Em meio a neblina, ela o viu.
Repulsa e dor foi o que Alexandre viu em seu rosto quando ela o olhou por cima do ombro. Ombro, com bichos se afundando em sua carne.
Nua.
Com as costas…
O nojo visto no rosto dele…
*
Uma lança...
O corpo de um dos batedores foi empalado em uma lança e deixado como um aviso, enquanto os animais começaram a devorá-lo de dentro para fora. A névoa o escondia perfeitamente, até o momento em que o cadáver se partiu e caiu em cima de Dandara.
Aquele lugar só podia ser amaldiçoado!
Ninguém nunca tinha visto vermes se comportarem daquela forma, afundando-se dentro do corpo de uma pessoa viva. Alexandre nem tinha certeza se eram vermes, especialmente quando os maiores eram mais compridos, com dezenas de pernas, correndo em direção à fonte de carne mais próxima: ele.
Os vermes menores, aqueles que caíram em Dandara, se contorciam no chão como bebês emburrados. Independentemente do tamanho, todos eles foram esmagados.
No entanto, Alexandre se recusou a colocar as mãos nas costas de sua escrava. É nojento e repulsivo para ele.
Francisco quem fez e com ajuda.
YOU ARE READING
ACASALAMENTO: Lua Cheia
WerewolfA era da escravidão no Brasil não é fácil. Dandara, uma negra, sabe muito bem disso. Sua rotina... angustiante. Ela estava a bordo de um navio negreiro quando uma tempestade irrompeu e transformou o oceano. Trovões, raios... parecia que o mundo iria...