C A P Í T U L O 03

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     Muito tempo havia se passado. Era a segunda noite em que eles presenciaram a grandiosa lua dourada e, atrás, a lua branca. O imediato estava sem sono e aproveitou seu tempo para tentar desenhar a corrente.

     Durante o dia, parecia o maior dos ciclones. Mas à noite, se assemelha a um rio biominumenecente. Ele nomeou aquela anomalia aquática — com aprovação do Capitão — de Corrente-Ciclone.

     O vigia, principalmente, era aquele que deveria ficar de olho em uma mudança. Algo como a possível borda do mundo onde cairiam, outras criaturas marinhas que iam e vinham, oportunidade de escapar e, principalmente, uma nova terra onde pudessem se abrigar. Nada acontecia.

     Exceto naquela noite.

     A luz da Corrente-Ciclone enfraquecia lentamente com o amanhecer próximo. A água ao redor estava tão escura que refletia as estrelas. Então algo surgiu em meio ao brilho azulado tão lentamente que prendeu a atenção do vigia por vários minutos. Ele apontou o binóculo e… nada.

    Não podia-se saber com precisão o que era, de onde o navio estava se aproximando… ou do quê.

     Aquela embarcação era aquela liderando a frota. Cabia sobre eles a responsabilidade de alertar um possível perigo. E o navio se aproximou como um barco na correnteza de um rio.

     Só então o vigia viu.

     Sombras.

      Era a escuridão em meio a luz, erguendo-se e tomando formas. Formas de…

     A todo pulmão, ele berrou:

— ROCHEDO! ROCHEDO A FRENTE!

      O susto derrubou homens consumidos pela insônia. Francisco saltou de onde estava e a gritaria começou. O imediato tomou seu posto no convés superior e apontou seu próprio binóculo para a frente do navio.

      Rochedo. Rochedo. Rochedo.

     Os marujos tomaram seus postos e outros mergulharam para dentro do navio dispostos a acordar todos os demais, principalmente o capitão. Dandara estava com ele quando os escândalos na porta a fez cair da cama.

      A corrente puxava todos em uma única direção sem rotas de fuga. A frota veleja sozinha e agora estavam a minutos de uma colisão. Francisco não precisava olhar para os demais navios para saber que também estavam preparados.

     Para morrer.

     Aquela era uma estrada que estava chegando ao fim.

      O céu estava coberto de um azul escuro com os primeiros indícios do amanhecer. Francisco franze o cenho com uma constatação mais preocupante. Ele olha melhor. Sim, a corrente estava perdendo seu brilho, mas não era pelo amanhecer. É cedo demais. Era porque estava afundando!

Deus, tenha piedade de nós…

      A anomalia mergulhava no oceano! A forma peculiar de ciclone penetrava os rochedos e tomava um novo caminho mais pacífico… mas apenas se não levar a frota junto.

      Um palavrão saiu dos lábios de Franscisco e ele avançou no piloto para tomar seu lugar no timão. Ele fez toda força possível para mudar o navio de curso. Então ele girou, girou e girou o leme. Os rochedos ficaram mais próximos e ele não parou de girar, girar e girar.

       Mais e mais próximo. O suficiente para ver a luz refleti-los como se fossem obsidianas grandes e cortantes. Eram maiores do que as velas dos navios e tão afiadas quanto o comprimento de uma faca de caça.

ACASALAMENTO: Lua Cheiaजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें