Campeonato Nacional de Patinação

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Alguém liga para o meu celular às 9:04, mas estou na cama e meu telefone está meio longe, por isso deixo que toque. Às 9:15, alguém liga no telefone fixo e Emira entra no meu quarto, mas mantenho os olhos fechados e finjo que ainda estou dormindo, e ela vai embora. Minha cama sussurra para mim, para que eu fique. Minhas cortinas bloqueiam a luz do dia.

Às 14:34, meu pai abre a porta, ofegante e murmurando, e de repente me sinto enjoada. Cinco minutos depois, desço a escada e me sento no sofá da sala de estar.

Meu pai entra.

- Então, você está viva?

Não digo nada porque não me sinto viva.

Ele se senta ao meu lado.

- Você vai me contar o que está acontecendo?

Não, não vou.

- Olha, se você quer ser mais feliz, precisa tentar. Tem que se esforçar. Seu problema é que você não tenta.

Eu tento. Eu tentei. Tentei por dezesseis anos.

- Cadê os gêmeos? - pergunto.

- Acho que foram dar uma volta. - é claro que ele não tem certeza. Meu pai balança a cabeça, negando. - Ainda não acredito que fizeram isso com o Edric.

Não digo nada.

- Você vai sair hoje?

- Não.

- Por que não? E a Luz? Você poderia passar o dia com ela de novo.

Não respondo e meu pai olha para mim.

- E a Willow? Não a vejo por aqui há algum tempo.

Não respondo de novo.

Ele suspira e revira os olhos.

- Adolescentes - diz, como se o simples fato de eu ser uma adolescente explicasse tudo a meu respeito.

E, então, ele sai suspirando.

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Eu me sento no cobertor sobre a cama com o celular na mão. Encontro o número de Luz nos contatos e aperto o botão verde. Não sei por que estou ligando para ela. Acho que pode ser culpa do meu pai.

Cai direto na caixa postal.

Largo o telefone na cama e rolo para o lado de modo a ficar embaixo dos cobertores.

Claro que não posso esperar que ela apareça do nada. Afinal, ela tem uma vida. Tem uma família, trabalhos e coisas para fazer. A vida toda dela não gira ao meu redor.

Sou uma narcisista.

Pego meu celular novamente. Sempre que sinto dúvida em relação a alguma coisa, minha primeira parada é o Google.

E certamente estou em dúvida. A respeito de tudo.

Digito "Luz Noceda" na barra de pesquisa.

Noceda não é um sobrenome tão incomum. Muitos outros Nocedas aparecem, mas nenhum é Luz. Muitos perfis do Twitter também surgem, mas não encontro o Twitter da minha Luz Noceda. Ela não parece ser o tipo de garota que tem um perfil no Twitter. Suspiro e desligo o celular. Pelo menos, tentei.

Então, como se eu tivesse combinado o momento que larguei aparelho, meu celular começa a tocar. Olho para a tela. O nome dela brilha.

Com um tipo de entusiasmo novo, pressiono o botão verde.

- Alô?

- Amity! O que está rolando?

Parece que demoro mais do que o necessário para responder alguma coisa.

Uma vida (quase) solitária Where stories live. Discover now