Problemas tenebrosos

16 3 0
                                    

A semana tem sido esquisita. Meio sem saber o que fazer, fiquei na cama a maior parte do tempo, navegando pela internet, tentando terminar algum livro etc. etc. etc.

Ed e Em vieram para “bater um papo” depois do almoço no domingo e fizeram com que eu me sentisse muito mal por ser uma preguiçosa. Meu fim de semana terminou com eles me arrastando a um festival local de música em Osso burgo, que é um campo sem grama perto da ponte, limitado por algumas árvores e cercas brancas.

Edric, Emira e eu passamos pela lama em direção aos grupos que rodeiam o palco. Ainda não está nevando de verdade, mas sinto que está chegando a hora. Quem pensou que janeiro fosse um bom mês para um festival de música provavelmente era sádico.

A banda, ao que parece uma banda indie, faz tanto barulho que é possível ouvi-la do outro lado da rua. Apesar de não haver luzes acesas, várias pessoas parecem estar segurando uma tocha ou carregando uma haste luminosa, e perto da beira do campo há uma grande fogueira. Eu me sinto muito despreparada. Penso em correr de volta para a ponte, subir a rua e ir para casa.

Não. Nada de correr para casa.

— Você está bem? — grita Emira mais alto do que a música. Ela e Ed estão muitos metros à minha frente, Edric com uma tocha acesa na minha direção, o que me deixa cega.

— Vai ficar com a gente? — ele aponta para o palco. — Vamos assistir.

— Não — respondo.

Emira só olha para mim quando me afasto. Edric a puxa para longe e eles desaparecem em meio à multidão.

Eu também desapareço na multidão.

Está bem quente e não enxergo muita coisa — só o verde e o amarelo de varetas luminosas e as luzes do palco. A banda está tocando há pelo menos meia hora e o campo está mais para um lamaçal. A lama suja minha legging. Vejo muitas pessoas que conheço do colégio e, sempre que as vejo, aceno de modo expansivo e sarcástico.

Depois de um tempo, percebo que não paro de pisar em pedacinhos de papel. Eles literalmente estão por toda parte. Estou sozinha na multidão quando decido pegar um deles e analisá-lo com atenção, iluminando-o com a lanterna do celular.

É um panfleto. De fundo preto. Tem um símbolo vermelho no meio: um coração virado para baixo, desenhado de qualquer jeito de modo a parecer a letra A, com um círculo ao redor da letra.

Embaixo do símbolo, está a palavra:

SEXTA-FEIRA

Minhas mãos começam a tremer.

Antes que eu pense no que isso significa, sou empurrada na direção de Willow. Ela está pulando sem parar perto da barreira com Guz e Selene. Nós nos olhamos.

Boscha também está ali. Só de olhar para ela, eu me sinto muito triste.

Enfio o panfleto de SEXTA-FEIRA no bolso do casaco.

Ela me vê por cima do ombro e meio que se retrai, o que deve ser muito difícil em uma multidão como aquela. Aponto para meu peito, sem desviar o olhar. Então, aponto para ela. Em seguida, aponto para o lado vazio do campo.

Ela não se mexe e eu a seguro pelo braço e começo a puxá-la para trás, para longe da multidão e dos alto-falantes reverberantes.

Eu me lembro de quando tínhamos dez anos, ou nove, ou oito, em uma situação parecida — Boscha me puxando pelo braço. Eu nunca fazia nada sozinha. Ela sempre foi muito boa em fazer coisas sozinha. Acho que meio que gostava de ser cuidada por ela. Mas chega um momento em que você não pode continuar esperando que as outras pessoas cuidem de você. Precisa começar a cuidar de si mesmo.

Uma vida (quase) solitária Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ