Azura está conversando comigo

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- Então, Amity - Sellyn passa os olhos no meu texto. - Qual foi sua opinião dessa vez?

É sexta-feira e estamos na hora do almoço. Eu não tinha nada para fazer, por isso vim entregar meu trabalho de inglês mais cedo. O tema é "Até que ponto o casamento é a preocupação principal de Orgulho e preconceito?". Susellyn parece falante hoje.

- Terminei o trabalho.

- Imaginei que você tivesse feito isso. - ela assente. - Ainda quero saber o que você achou.

Tento pensar no momento em que escrevi. No almoço de segunda-feira?
Na terça? Todos os dias se tornam um só.

- Você acha que o casamento é a preocupação principal?

- É uma preocupação. Não uma preocupação principal.

- Você acha que a Elizabeth se importa com casamento em geral?

Eu imagino o filme.

- Acho que sim. Mas isso não ocorre a ela enquanto está com Darcy. Tipo... ela não liga as duas coisas. Darcy e casamento. Eles são dois problemas separados.

- Então, o que você acreditaria ser a preocupação principal de Orgulho e preconceito?

- Eles próprios. - Enfio as mãos nos bolsos do blazer. - Eles passam o tempo todo procurando entender quem são e quem parecem ser.

Sellyn meneia a cabeça de novo, como se soubesse de algo que eu não sei.

- Que interessante. A maioria das pessoas diz que o amor é o tema principal. Ou o sistema de classes. - ela coloca meu trabalho em uma pasta de papelão. - Sabe, Amity, quero conversar com você desde que me entregou o seu trabalho sobre os "protagonistas de Orgulho e preconceito".

- ...

- Foi um texto muito cheio de ira.

- ...

- Por que você decidiu escrevê-lo daquela maneira?

- Acho que odeio aquele livro.

- Sim, tive essa impressão. - ela fica me encarando por um instante até perguntar - O que você faz para se divertir, Amity?

- Para me divertir?

- Com certeza você tem um passatempo. Todo mundo tem um passatempo. Eu leio, por exemplo.

Ler passa pela minha cabeça, mas agora isso parece uma coisa distante. Quando foi a última vez que pequei em um livro?

Meus passatempos são destruir minhas relações com as pessoas que chegam perto de mim e ser uma idiota amarga.

- Eu tocava violino.

- Ah, está vendo? Um passatempo.

Não gosto das implicações da palavra "passatempo". Faz com que eu pense em artesanato. Ou golfe. Algo que pessoas animadas fazem.

- Mas desisti.

- Por quê?

- Não sei. Só não gostei muito.

Sellyn assente para mim pela centésima vez, batendo a mão no joelho.

- É justo. Do que você realmente gosta?

- ...

- E os amigos? Você não gosta de estar com eles?

Penso nisso. Eu deveria gostar de estar com eles. É o que as pessoas fazem.

Elas ficam com os amigos para se divertir. Eles têm aventuras, viajam e se apaixonam. Eles brigam e perdem um ao outro, mas sempre se encontram de novo. É o que as pessoas fazem.

Uma vida (quase) solitária Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang