Uma vida (quase) solitária

"Você está se isolando!!!"

Minha avó e meu avô vieram nos ver. Pela primeira vez em meses. Estamos todos à mesa do jantar tentando não chamar a atenção de ninguém, mas vejo que meu pai fica olhando com preocupação na direção do meu avô, e depois para Edric. Minha mãe está sentada entre eles. Em na minha frente. Estou à cabeceira da mesa.

— Seu pai nos contou que você vai voltar a trabalhar cuidado de cachorros, Edric — diz meu avô. Quando fala, ele se inclina para a frente como se não ouvíssemos o que diz, apesar de ele falar duas vezes mais alto do que todo mundo. Acho que isso é muito típico dele. — Já é alguma coisa. Foi uma bênção eles terem aceitado você de volta no trabalho. Você estragou as coisas, com todo aquele tempo que passou fora.

— É, foi bem bacana da parte deles deixarem eu voltar — comenta Edric. Ele estava trabalhando em um Pet Shop antes do distúrbio começar a afetar mais sua vida. Ed ama animais. E eles amam o Ed.

— E quanto a você, Emira? — questiona minha avó — Já decidiu qual faculdade fazer?

Antes que ela pudesse responder, minha mãe intervem.

— Emira tem se focado em passar em medicina. — diz com orgulho. Em força um sorriso.

— Sério?! Isso é maravilhoso, querida. Pelo menos você vai ter um futuro.

Sinto o suco que estou bebendo quer sair pelo meu nariz. Tento evitar não tossir.

— Parece que não vemos esses gêmeos há anos — diz minha avó —, não é, Richard? Quando virmos vocês de novo, é provável que estejam casados e com filhos.

Ed e Em se forçam a rir por educação.

— Você devia ter tentado entrar para algum esporte, Edric. Um time sempre precisa de um magricela feito você. Para correr, sabe? Se você tivesse comido mais desde sempre, teria crescido o bastante para ser um dos jogadores de verdade, mas acho que é tarde demais para isso. Pessoalmente, eu culpo seus pais. Mais vegetais escuros desde cedo.

— Pai, não contou a nós sobre sua viagem a Oxford — diz meu pai. Tomando atitude. Uau.

Olho para o prato. É lasanha. Não comi nada ainda.

Discretamente, pego o telefone do bolso e vejo que tenho uma mensagem.

Eu havia enviado uma mensagem para Boscha mais cedo.

(15:23) Amity
olha me desculpa mesmo

(18:53) Boscha
tudo bem bjo

(19:06) Amity
claro que não está tudo bem

(19:18) me desculpa

(19:22) Boscha
não é por isso na vdd bjo

(19:29) Amity
então pq está me evitando

Minha mãe terminou de jantar, mas estou levando as coisas com calma por causa de Ed. Percebo que Em também.

— Como você está, Amity? — pergunta minha avó. — Está gostando do ensino médio?

— Sim, sim. — sorrio para ela. — É excelente.

— Eles devem estar tratando vocês como adultos.

— Ah, sim, sim.

(19:42) vc precisa me dizer pq

— E suas aulas são interessantes?

— Sim, muito.

— Tem pensado muito sobre a faculdade?

Sorrio.

— Não, não muito.

Minha vó assente.

(19:45) Boscha
pode me ver no centro à noite? bjo