"Carma, desgraçado!"

21 4 0
                                    

À 00:16 entro, porque se eu não fizer xixi, acho que minha bexiga vai estourar. Eu estou muito bêbada, mas ainda tenho noção da realidade. Todo mundo está esperando pelo post do blog da AzuraBoaBruxa, que, de acordo com os últimos boatos, será publicado à 00:30. As pessoas estão sentadas segurando seus celulares. Encontro o banheiro e, quando saio, vejo Boscha sozinha em um canto, enviando uma mensagem de texto. Ela me vê olhando e dá um pulo, mas em vez de caminhar na minha direção, sai depressa. Como se estivesse tentando me evitar.

Eu a sigo até a sala de estar, querendo pedir desculpas por ter me esquecido de sair com ela hoje, mas ela não me vê. Observo quando Boscha se aproxima de Skara. Ela diz algo a ela, que responde com um meneio de cabeça. É isso, concluo.

Volto a sair. Enfim começou a nevar. A música acabou, mas todo mundo está saltitando, gritando, tentando pegar flocos com a boca. Olho para a cena. Os flocos boiam na água e se dissolvem, misturando-se com o rio conforme ele segue em direção ao mar. Amo a neve. Ela deixa tudo lindo.

É nesse momento que vejo Willow de novo.

Ela está encostada com um cara em uma árvore, e eles nem estão se beijando de um jeito romântico. Estou prestes a me virar, mas eles se mexem um pouco e eu vejo quem é o cara.

É Hunter Wittebane.

Não sei por quanto tempo fico ali, mas em determinado momento ele abre os olhos e me vê. Willow também olha. Ela para e, então, se dá conta. Peguei uma bebida quando estava saindo, mas caiu na neve, e minha mão segura o vento.

Eles se afastam, Hunter passa por mim e entra na casa. Willow fica ao lado da árvore.

Ela ergue as sobrancelhas para mim quando me aproximo e pergunto:

- Como é que é?

Minhas mãos se fecham e se abrem. Não acredito.

- Como é que é, pelo amor de Deus!

Willow me traiu. Nunca em mil vidas eu imaginara isso.

- Tudo o que pensei a seu respeito está errado - digo.

- Do que você está falando?

- Estou alucinando, por acaso?

- Você está bêbada?

- Você estava com ele. - retruco. Acho que estou gritando, mas não sei ao certo. Tenho só setenta por cento de certeza de que estou dizendo essas coisas em voz alta. - Eu achava você a melhor pessoa do mundo, mas tenho provas concretas de que você não está nem aí.

- O qu...

- Não tente agir como se não soubesse o que acabou de fazer. Crie vergonha na cara. Vamos, tente se defender. Estou literalmente morrendo de vontade de ouvir uma justificativa. Vai me dizer que eu não entendo?

Os olhos de Willow começam a ficar marejados. Como se ela estivesse mesmo chateada.

- Eu não...

- Sei quando alguém está sendo cruel. Vá em frente, pode chorar suas lágrimas falsas, se quiser. Você não está nem aí com nada, não é?

A voz de Willow está mais séria, ainda que um pouco hesitante, e ela começa a gritar comigo. Nunca vi Willow gritar com ninguém.

- Bem... você... você está sendo cruel. Minha nossa, acalme-se!

Paro. Isso é ruim. Preciso parar. Não consigo.

- Espera aí... você entende o nível de traição que você acabou de alcançar? Você tem alguma ideia do que é amizade? Não pensei que fosse possível que alguém fosse tão egoísta, mas está claro que me enganei redondamente. - Acho que estou chorando. Estou indo longe demais? - Você me matou. Você literalmente me matou.

Uma vida (quase) solitária Onde histórias criam vida. Descubra agora