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                            HANNA:

Eram exatamente doze da tarde quando pousei no aeroporto internacional de Seul, ao sair pelos portões de desembarque pude sentir o vento frio que já anunciava o final do outono e a chegada do doloroso inverno. Nem acreditava que havia deixado pra trás o clima tropical do Brasil, mas era por um bom motivo. Trabalhar para a Hybe era muito gratificante, mesmo de tão longe sempre fui lembrada e bem quista, devia essa ao Bang PD, não era sempre que o presidente de uma empresa como aquela entrava em contato pessoalmente com você para solicitar seu retorno para a sede após três longos anos trabalhando do outro lado do mundo. Não foi fácil mas fiz um papel importante para eles no meu país, foram dias e dias tentando convencer empresários brasileiros a assinarem com a futura sede da gravadora, horas entrevistando novos funcionários e mastigando todo o padrão empresarial oriental para os empregados, ele me deixou voltar para o Brasil com essa condição, pavimentar o caminho para a HybeBr, foi o que fiz. Mas quando o calo apertou em seu sapato, ele resolveu me apertar também e foi por este motivo que precisei voltar para o lugar de onde fui embora com tanta dor e mágoa.

Depois de conseguir pegar minhas malas avistei o senhor Kang me aguardando em frente ao portão, ele levantava uma placa com meu nome e seus olhos ansiosos varriam a área. Não pude deixar de sorrir amplamente, eu senti muita falta desse senhorzinho de meia idade, era um homem muito carrancudo em sua aparência, mas bastante carinhoso com quem o conhecia bem. Corri até ele, pegando-o de surpresa e fazendo-o rir, as linhas de expressão se fazendo mais visíveis nos cantos de seus olhos.

- Srta. Hanna, prazer em revê-la. - Disse o homem, em coreano.

- Oh, por favor, Sr. Park, não me venha com essas formalidades.

- Me perdoe, senhora, digo, Hanna. Fez uma boa viagem?

Ele retirou a bagagem de minhas mãos de maneira sutil enquanto falava. Disso eu sentia falta, o cavalheirismo coreano, mesmo quando carregado de cinismo e falsa modéstia, não que esse fosse o caso do senhor Park, ele era um verdadeiro cavalheiro. Nós caminhamos apressadamente até a vã cedida pela empresa para me buscar, o senhor Park abriu a porta para que eu pudesse entrar e me acomodar, ao final fechou-a e se dirigiu para o seu lugar no volante. Seul não havia mudado muito durante os últimos três anos, era a mesma movimentação de uma tarde de quarta feira, as crianças corriam pelas ruas voltando da escola, adultos aproveitavam a pausa do almoço, rotina era rotina em qualquer lugar do mundo.
Só quando chegamos no condomínio gigantesco próximo às mediações do rio Han foi que dei por mim que havia caído no sono, resmunguei em português e o senhor Kang rio quando notou, precisava me segurar para me ajustar ao fuso horário, acendi a tela de bloqueio do meu celular, já eram duas da tarde, então duas da manhã no Brasil. Iria deixar uma mensagem para minha família, ligar não seria adequado.
Nós nos encaminhamos para o último prédio e pegamos o elevador até a cobertura, eu pedi para o senhor Park deixar as malas próximas ao primeiro sofá que avistei e ele prontamente o fez. Era apenas a sala de estar, mas parecia que toda a minha casa no Brasil cabia ali.
Por maior que fosse totalmente decorada, a cor branca que imperava em todas as paredes passava o aspecto de clean, o sofá creme em formato abstrato cortava o cômodo e mesmo assim deixava espaço para que pudéssemos transitar ali, uma mesa de centro toda de vidro fora instalada no centro do local, não havia tv, ou pelo menos não conseguia enxerga-la, mas a janela de vidro que tomava toda a parede contrária à porta de entrada tinha como paisagem o rio Han, eu suspirei para aquela imagem cosmopolita de Seul. Ainda não era a vista da Gamboa de baixo, eu sentia saudade da minha terra amada.

  - Bom, você está bem instalada. Seja bem vinda novamente, Srta. Hanna, é muito bom tê-la de volta.

Com um aceno, o senhor Kang se despediu completamente e foi embora. Passei o olho pelo restante da casa, tinha muitos quartos, comecei a desconfiar que Bang PD fora um pouco exagerado quanto a sua escolha para uma mera secretária de relações internacionais. No fim, imaginei que aquele era o jeito dele de me agradecer por não me demitir durante a jornada no Brasil.

SARANG, i will always love you. Onde histórias criam vida. Descubra agora