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                               HANNA

Eu não podia fugir novamente, isso era óbvio, só precisava de mais tempo distante deles e por isso pedi para que o motorista me levasse até a casa de uma antiga colega que fiz nos meus primeiros anos na coreia, avisei que estava chegando e por isso Jin Ah me aguardava impaciente em frente ao seu portão. Desci o do carro resignada e ao ver minha imagem murcha em sua frente, a mulher, agora com longos cabelos negros, se aproximou e acariciou minhas costas com as mãos espalmadas de forma terna.

- Minha pobre Hanna está exausta - murmurou carinhosamente. - Vamos comer lamen e tomar algumas garrafas de Soju.

Então foi o que fizemos, Jin Ah não fazia ideia do que eu vivia, sempre soube com o quê e quem eu trabalhava, mas obviamente nunca lhe contei sobre meu relacionamento com Namjoon, bem como o real motivo da minha partida. Não que não fossemos próximas para isso, eu só sentia que seria duplamente mais vergonhoso se, no fim,  tivesse que contar também sobre a repulsa que imaginava que ele sentia por mim, o que se confirmou um tempo depois.
Para minha amiga quando eu estava triste era sempre porque trabalhar com pessoas tão famosas era cansativo, o que não deixava de ser verdade, o fato de o esforço profissional e acadêmico exagerado ser comum no país ajudava bastante a camuflar os reais motivos.

Nós arrumamos a panela com uma quantidade considerável de lamen na sua mesa da sala com uma garrafa de soju e copos para que pudéssemos nos servir confortavelmente. Enquanto comiamos, ouvi Jin Ah resumir os últimos anos sem mim e suas aventuras, ela era genial como diretora de arte, conseguiu evoluir muito em seu trabalho e eu me orgulhava disso.

- Ya, quase me esqueço de falar - Ela disse, me fazendo esperar enquanto comia mais uma porção do lamen e completava bebendo uma dose da bebida alcoólica transparente. - O Jackson Wang participou da campanha de ano novo da KBS, em um dado momento enquanto era simpático e conversava com os staffs sobre as viagens que fez, disse que teve o prazer de conhecer o Brasil e que foi guiado por uma amiga que por um acaso era a famosa staff geral do BTS. Só pode ser você, não é?

Fechei os olhos e mordi o lábio em frustração. Sabia que Jackson não fazia por mal, ele com certeza estava só relatando um momento legal de uma viagem como qualquer outra, mas precisava especificar qual staff o tinha levado para passear? Aquilo com certeza viraria fofoca, já conseguia imaginar as notícias, a notificação da Hybe - porque está fora de cogitação ter um staff do alto escalão envolvido com idols de forma pessoal -, dos meninos, meu deus como seria lidar com os meninos se algo assim vazasse? Estava decidida a chamar sua atenção no jantar do dia seguinte.

- Eu... ele me convidou para o show do GOT7 quando a turnê passou por lá e retribuí levando-o para conhecer os lugares famosos, foi isso.

- Foi isso. - Jin Ah imitou minha voz, zombando. - Tem noção de que foi a um encontro com o Jackson Wang e que ele gostou TANTO que sai por aí contando às pessoas?

- Ah, você também com essa de encontro, não foi um encontro! Nós somos bons amigos, ele fez como cortesia, por gostar muito dos meninos.

- O que Namjoon disse sobre isso? - Ela arqueou a sobrancelha me encarando confusa quando engasguei com o lamen.

- O que Namjoon tem a ver com isso?! - Bradei, nervosa e com a boca cheia.

- Waaa, você está realmente na defensiva agora. - Jin Ah me sondou por alguns segundos. - Pergunto porque eles são amigos, ele certamente saberia dizer se Jackson está interessado.

- Ah... ele n-não me disse nada, não conversamos muito desde que voltei.

- Como assim, vocês eram inseparáveis. - Minha amiga tomou um grande gole de Soju e suspirou. - Enfim, isso assusta, você deveria pedir pro Jackson não falar tanto sobre você pras pessoas, pode acabar se envolvendo em problema.

- Acho o mesmo, amanhã quando encontra-lo vou tentar ser delicada e pedir pra que não o faça.

- Amanhã? Tem algum evento acontecendo amanhã e eu não sei?

- É-é que... - Respirei fundo e fechei os olhos reunindo forças para recepcionar a reação dela, em seguida os abri e a encarei preparada para o que viria. - Vamos jantar amanhã, ele me convidou quando soube que voltei.

Só tive tempo de tampar os ouvidos, Jin Ah soltou um grito fino e cobriu a boca com as mãos em seguida, os olhos pequenos dobrando de tamanho ao me encarar incrédula.

- Vocês vão para outro encontro?! Hanna, vai namorar o Wang?

- Aish, Jin Ah, não fale bobagens! Não. É. Um. Encontro.

- Você assistiu ao show dele no backstage, vocês fizeram um tour pela sua cidade e agora ele te convida para um jantar. Hanna, acorda, vocês já tiveram dois encontros e este será o terceiro. Não duvido nada que ele expresse as intenções amanhã. Não estamos falando de homens Brasileiros, Jackson é Chinês, está sendo extremamente tradicional porque tem intenções claras. - Ela ri ao me ver soluçar de nervoso. - Te entendo, também estaria assim se aquele gato estivesse investindo tão pesado em mim.

- Não é isso, é que... os meninos me disseram coisas desse tipo, mas eu não achei que pudesse ser assim então afastei essa ideia, agora com você falando... - Cubro a boca com a mão direita quando outro soluço me interrompe. - Acho que estou passando uma ideia errada para ele. Jinah-ya, não estou interessada, o que eu faço?

- Não tem como se interessar? - Ela pergunta de forma frustrada. - É o Jackson Wang!

Mas eu não tinha como me forçar a sentir algo por alguém, não fazia parte de quem eu era, embora Jackson fosse um bom rapaz, nada nele poderia fazer com que meus sentimentos mudassem. Eu não conseguiria sentir meu coração palpitar, as mãos tremerem e o pensamento longe ao lado dele, não seria capaz de sonhar acordada com possíveis momentos juntos, palavras que me poderiam ser ditas ou coisas que poderiam ser feitas, não com ele e no fundo eu sabia que nenhuma outra pessoa me faria sentir essas coisas.
Suspirei largando o jeotgarak pesadamente na panela de lamen e me deixando cair deitada no chão da sala de minha amiga.

- O que vou fazer?! - Choraminguei enquanto me debatia. - Por que eu?!

              
                                 ***

Jin Ah me colocou em um táxi com muito cuidado e eu desci com muita dificuldade em frente a portaria do prédio, no momento em que consegui firmar meus pés no chão e me levantar do banco do carro, só consegui fechar a porta levemente antes de o motorista acelerar enquanto praguejava e me chamava de estrangeira estúpida, caminhei murmurando até a portaria, mas não conseguia de jeito nenhum ficar parada para que o reconhecimento facial liberasse minha entrada, era ridículo, eu não havia bebido tanto para ficar tão fora de mim. Foi quando senti mãos grandes apertarem meus ombros e me conduzirem para a entrada lateral.

Na manhã seguinte, quando acordei, minha cabeça pesava muito e eu não reconhecia o teto ao qual encarava com dificuldade por conta da claridade, desviei o rosto para o local que ainda rodava e, ainda com os olhos cemicerrados, dei de cara com um Kim Namjoon adormecido, tampei os lábios com as mãos para evitar um grito de espanto, aquilo não podia ter acontecido. Levantei o edredom que nos cobria e gelei ao notar que vestia somente uma camisa social branca que com toda certeza não era minha, mesmo com medo do que encontraria, me permiti olhar para o lado, só para constatar que Namjoon vestia apenas a calça de seu pijama, nenhuma camisa. Cobri o rosto com as mãos, desejando com todas as forças que aquilo fosse apenas um pesadelo horrível, mas ao retirá-las constatei que ainda estava no mesmo lugar e mordi o lábio reprimindo mais um grito.

Com muito cuidado deslizei para fora da cama gigantesca e, na ponta dos pés, caminhei em direção a porta. Antes de sair, notei o volume de minhas roupas na porta do banheiro do quarto dele, fui até lá praguejando mentalmente e as apanhei com muito cuidado para não fazer barulho e acorda-lo, voltei para a porta e assim que consegui atravessa-la, me dirigi o mais rápido que pude para o meu quarto, onde me tranquei e me joguei em minha própria cama. Aquilo não podia ser real, eu não poderia ter deixado isso acontecer. Apanhei o travesseiro mais próximo e o apertei contra o rosto, a intenção não era morrer asfixiada, mas com certeza não seria uma má ideia se acontecesse acidentalmente, pelo menos era o que eu pensava enquanto gritava contra o objeto. Aquele era o meu fim, estava definitivamente arruinada. Eu dormi com Kim Namjoon.

SARANG, i will always love you. Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt