黄昏 - Sol Poente

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Estou no escuro.
Corro o mais rápido que minhas pernas me permitem, mas tudo que alcanço é a escuridão sem fim.
Sinto meus pulmões arderem em busca de ar para preenchê-los.
Meu coração pulsa forte e descompassadamente; mas mesmo assim, eu continuo correndo.
Continuo fugindo.
Mas fugindo de quê?
Fugindo de quem?

Um som alto e irritante ressoa em minha audição.

Sinto a luz do sol que atravessa as finas cortinas do meu quarto aquecer minha pele enquanto abro meus olhos lentamente e desligo o despertador que me arrancara dos cruéis braços de Morpheus.

Normalmente as pessoas acordariam em pânico após um pesadelo desse tipo.

Para mim, no entanto, isso é bem normal.
Durante minha vida toda eu tive problemas com sono, e isso com certeza não teria como melhorar na minha fase adulta, onde, claramente, as coisas só tendem a ir ladeira abaixo.
É engraçado, porém, que esse sonho se repita tantas vezes desde a minha infância.

Resolvo jogar esse pensamento para o fundo da mente e me sento na cama, esticando meus músculos e caçando meus óculos na pequena mesa ao lado da minha cabeceira.
Enxergando melhor agora, checo o celular e vejo que ainda não há nenhuma notificação importante.
Me levanto e cambaleio até o banheiro do meu quarto, me preparando para os procedimentos costumeiros da manhã enquanto tento jogar o sono fora.
Após concluir todas as minhas necessidades matinais, desço as escadas e rumo a cozinha para o desjejum, que costumamos fazer em família aqui em casa.

- Bom dia, maninha. - Seojun cumprimenta enquanto toma um gole de seu achocolatado.

- Bom dia, pirralho. - Respondo enquanto amarro o cabelo em um coque mal feito - Onde estão papai e mamãe?

- Foram comprar ovos para o café. Logo estarão de volta.

Assinto e pego uma xícara, me juntando a meu irmão na bancada de mármore que usamos como mesa vez ou outra.

- Você realmente vai para aquela casa estranha no meio do nada? - Ele questiona com uma careta - Você não acha muito suspeito uma casa daquele tipo estar tão barata? Tenho certeza que tem algo aí... Já me sinto arrepiado só de pensar.

- Não seja tolo, irmãozinho. É claro que tem algo de errado. - Replico após um gole de um café bem amargo - E é por isso que eu vou. Estou cansada da rotina monótona e da vida chata. Quem sabe eu não viva uma aventura de filmes de terror?

Minha brincadeira faz Seojun me lançar um olhar questionável, com as sobrancelhas escuras arqueadas.

- Bom, você quem sabe. Mas não conte comigo para uma visita.

- Tudo bem - dou risada - eu não posso mesmo contar com você, não é? Seu medroso.

- Ei, eu não sou medroso... Só sou... cuidadoso. Prefiro evitar certas coisas. Você sabe que mamãe ainda não está muito de acordo, não é?

- É, eu sei, sim. Para falar a verdade, nem acredito que a convenci.

- Realmente... Isso foi de fato um milagre. Sinto que vou sofrer muito com a falação dela na minha cabeça sobre você e suas ideias insensatas.

Nossa conversa é interrompida pelo som da porta da frente sendo aberta, e a discussão de nossos pais é tão discreta que conseguimos ouvi-la antes mesmo de sermos capazes vê-los.

- Poxa, deixa a garota! Não está no momento de encher a cabeça dela com suas preocupações e teorias malucas sobre como tudo pode dar errado. Jovens têm mesmo que ter suas próprias experiências.

Sol da Meia Noite; ENHYPENWhere stories live. Discover now