幻想 - Hipnose

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Me sinto completamente hipnotizada por ele.

Por aqueles olhos avermelhados que parecem se destacar entre as sombras das árvores, selvagens e perigosos, carregados com forte ar de mistério e autoridade.

Ele apenas está ali, parado, ao longe, na fronteira, olhando fixamente em nossa direção. Não consigo simplesmente parar e raciocinar se isso é real ou não; só consigo olhar de volta, completamente magnetizada pelo olhar marcante que parece enxergar minha alma.

A mão de Suji em meu ombro, balança delicadamente meu corpo, e a ouço me perguntar se também estou vendo aquilo. Mas simplesmente não consigo dar atenção.

Sinto meu corpo ser empurrado levemente, fazendo com que meu olhar desacreditado encare o rosto surpreso de Suji, e quando ela repete a pergunta, tudo que consigo fazer é forçar um aceno positivo com a cabeça.

Quando miramos novamente a floresta, não há mais nada ali. Ele simplesmente desapareceu.

Entramos em casa, estáticas por conta do que acabou de acontecer.

Sentindo um pouco de fraqueza nas pernas, me sento no sofá enquanto tento separar a realidade da ilusão.

- Será que aquilo foi real? - Questiono mais a mim mesma do que a Suji, na esperança de não estar ficando louca.

- Eu não sei. Parecia real, mas ao mesmo tempo, não. - Ela responde enquanto afasta cuidadosamente a cortina e olha pela janela - Acho que estamos vendo coisas.

- Nós duas ao mesmo tempo? O quão isso pode parecer mais estranho?

- Não sei, mas não podia ser real. Aquilo era coisa da nossa cabeça.

- É... talvez. Não seria novidade eu ver ou sentir alguma coisa desse tipo.

- Sim...

Ajeito meus óculos e começo a pensar freneticamente sobre o que aquilo poderia significar.

- Talvez seja o tempo no meio do nada - digo, tentando convencer minha mente que o que vimos foi apenas um reflexo do isolamento - isso pode estar mexendo com a gente.

- Você acha isso mesmo? - Ela me questiona, como se soubesse que não falo a verdade.

- Como assim?

Levanto a cabeça para encarar Suji e noto seu olhar de desconfiança.

- Você é a sensitiva entre nós duas, o que você acha que está acontecendo?

Respiro fundo e apoio os cotovelos nos joelhos, encarando o tapete vermelho de nossa sala.

- Não sei ainda, mas sinto que algo muito estranho está por vir.

Somos interrompidas com a chegada escandalosa dos meninos, que trazem consigo inúmeras mudas em sacolas presas aos braços, e um buquê de flores para cada uma de nós.

Agradeço Shinkai pela gentileza, mas não sinto que estou com cabeça para pensar nisso agora.

Os dois ficaram pouco tempo após isso, e se despediram quando o sol estava prestes a se pôr.

Isso, pelo menos, é normal.

Talvez a única coisa normal que aconteceu hoje.

Deitei-me há muito tempo atrás, mas mesmo assim, não consigo dormir.

Me pergunto se realmente aquilo foi fruto da nossa imaginação.

Aquele garoto... ele parecia tão real.

Mas de onde ele veio e para onde infernos ele foi?

Por que ele estava nos encarando?

Por que na divisa?

Essas perguntas rondam de forma caótica minha mente durante a noite toda, e por fim, decido não dormir.

De hora em hora, vou até a janela de meu quarto, e afastando minhas cortinas com cuidado, observo a floresta silenciosa à nossa frente.

Nada de olhares avermelhados e nem sombra do garoto que havia aparecido mais cedo.

Onde ele está? Quem ele é?

Vou até minha cômoda e abro uma das gavetas, pegando o símbolo de madeira em forma de cruz que o motorista do nosso ônibus nos deu antes de chegarmos, analisando-o minuciosamente e me perguntando qual seria o motivo disso tudo.

Procuro alguns livros de pesquisa e história em minha prateleira, e passo o restante da madrugada tentando encontrar respostas; mas quando vejo o sol nascer, percebo que não há como responder nada quando não sei qual é a pergunta correta a ser feita a princípio.

Com as pálpebras pesadas e a garganta seca, decido descer e começar a fazer o café da manhã enquanto Suji ainda dorme.

O dia passa bem rápido, porém ainda estranho, devido aos recentes acontecimentos.

Ao escurecer, os meninos apareceram; coisa que normalmente não acontece, pois sempre costumam vir algumas horas depois da lua descansar alguns momentos antes do sol dizer adeus.

Quando os questionamos sobre o horário diferente em que vieram, deram uma desculpa esfarrapada dizendo que o clima estava quente demais e que estavam fazendo a limpeza mensal na moradia deles.

- Arrumaram a casa para finalmente apresentá-la a nós? - Suji pergunta.

Realmente, parando para pensar, nunca haviam nos convidado para ir até lá e muito menos falado sobre tal lugar até hoje, apesar de virem até aqui desde os primeiros dias.

O clima fica estranho nesse momento, e Shinkai olha para Suji de forma peculiar enquanto Aiden muda completamente a postura em reação a essa pergunta.

Forçando um sorriso, ele responde:

- Claro, minha linda; mas não dessa vez. - Seu olhar tenso se transforma em um malicioso - Quero te levar para conhecê-la em uma ocasião especial.

Vejo o olhar de Kai se suavizar e acompanhar o dizer do amigo, me fazendo pensar que ambos compartilham o mesmo pensamento.

Lanço um olhar desconfiado para Suji, que retribui da mesma forma.

Aiden quebra novamente o silêncio, voltando ao seu estado naturalmente agitado e estridente.

- Então, como passaram o dia? - Ele pergunta alegremente, como se nunca houvéssemos tocado no assunto anterior.

Suji me encara novamente numa expressão indecisa, e, imaginando saber o por quê, apenas balanço a cabeça discretamente em um "não". Acho melhor que deixemos o tópico sobre o garoto que avistamos na fronteira fora disso; pelo menos por enquanto.

- Foi tranquilo sem vocês nos perturbando - respondo, tentando soar o mais natural possível.

Todos começaram a rir, e o clima parece se acalmar até voltar ao normal.

- Estão com fome? - Kai pergunta espontaneamente enquanto se levanta - Deixem o jantar por nossa conta.

- Meu Deus, Suji, iremos morrer intoxicadas. - Eu zombo.

- Pode ficar tranquila, Sohyun. Se eu fosse te matar, com certeza não seria de uma forma tão digna assim. Seria muita honra para você. - Ele retruca com um olhar sombrio e um sorriso duvidoso.

Estreito os olhos, mas sorrio com a piada e me levanto, acompanhando todos até a cozinha.

Apesar da estranheza dos últimos acontecimentos, tento amenizar minha mente e encaixotar tudo que poderia me fazer questionar minha escolha de vir para cá e tudo que ela envolvia.

Coisas estranhas sempre aconteceram comigo; isso não é novidade e não há motivos para continuar sendo tão desconfiada. Isso não é um filme.

Enquanto Aiden e Shinkai cozinham e conversam, Suji e eu aproveitamos a vista, tentando esquecer toda a confusão por pelo menos esse momento, e percebo que a sorte pode, enfim, estar batendo à nossa porta.

Isso finalmente melhora o clima pesado que nos ronda desde ontem, mas, com certeza, ainda nos restam incontáveis perguntas a respeito dessa floresta e dos segredos que ela abriga, incluindo os dois homens que parecem tentar roubar nossos corações. 

Sol da Meia Noite; ENHYPENWhere stories live. Discover now