人狼 - Estilhaços

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Acordo de repente, com uma sensação estranha.

Olho para o lado e vejo Suji dormindo.

A casa ainda permanece escura, assim como o lado de fora.

Ao encarar a janela, uma silhueta atrás das cortinas me chama a atenção; mas quando pisco, não a vejo mais.

Procuro meu celular debaixo do travesseiro.

3 da manhã.

Minha avó costumava dizer que essa hora da madrugada é a hora das bruxas, e eu nunca desacreditei.

Acho que com tudo que vem acontecendo, não tenho direito de desacreditar de qualquer coisa. Acredito que ninguém tem.

Sempre gostei de estudar sobre o assunto e tomar conhecimento sobre deuses, fábulas, crenças e até mesmo sobre criaturas místicas, e, apesar de saber que tudo isso se baseia em mitos e lendas, nunca cheguei a desacreditar rudemente que pudessem fazer parte do mundo real. Afinal, imaginar a inexistência de algo é infinitamente mais fácil do que pensar na possibilidade contrária, e em como tudo seria se a venda da ignorância fosse tirada de nossos olhos.

Me levanto devagar, na tentativa de não interromper o sono de minha amiga, e procuro meus óculos.

Decido dar mais uma olhada na casa e no movimento do lado de fora, sempre com as luzes apagadas (obrigada pela dica, papai).

Percebo que meu celular está com pouquíssima bateria, então aproveito para pegar meu carregador e colocá-lo para carregar em uma das tomadas ao lado da estante.

Olho discretamente pela janela e, aparentemente, não há nada fora do normal.

Bebo um copo d'água antes de me deitar novamente, porém sinto que tentar dormir nunca foi tão difícil.

Sempre que fecho meus olhos, aquela cena volta à minha mente.

Corpos estraçalhados, expressões vazias e sem vida, olhando para o nada. Pelo que devem ter passado? Como devem ter se sentido? Era nossa culpa?

Minha mente não se aquieta, e tudo que consigo pensar é em como a vida é simplesmente nada. Dois homens repletos de gentileza que estavam apenas fazendo seu trabalho simplesmente estão mortos.

O quão frustrante deve ser morrer sabendo que pode ser que ninguém nunca te encontre? Eu preciso ajudar as almas daqueles homens. Eu preciso tranquilizar a família deles; fazer um funeral digno. Eles merecem uma despedida com a família.

E assim como a vida não é nada, nós também não somos. Todos seremos reduzidos a comida para vermes e poeira no fim das contas.

Pensar que ainda há quem se ache superior às outras pessoas quando na verdade todos teremos o mesmo fim é repugnante.

Meus olhos se fecham, mas sei que não vou dormir bem pelo resto da noite.

Acordo de tempo em tempo, e por fim, desisto de tentar descansar.

O sol se levanta trazendo seus raios reconfortantes e eu decido me levantar também, deixando com que Suji descansasse mais.

Vou até a cozinha e preparo uma xícara de café enquanto penso sobre ontem.

Me questiono várias vezes sobre ser real ou sobre ter sido um pesadelo, mas sei que não existe possibilidade de fingir que tudo tenha sido apenas um sonho ruim. Não quando possuo provas físicas de que ainda não enlouqueci.

Pego meu celular completamente carregado agora e o guardo no bolso após ver que ainda não temos sinal. Subo até meu quarto apenas para pegar um de meus livros, e puxo uma cadeira da bancada da cozinha para que eu possa ler e ter uma visão ampla da sala ao mesmo tempo, para o caso de Suji precisar de mim.

Sol da Meia Noite; ENHYPENWo Geschichten leben. Entdecke jetzt