家族 - Dádiva

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Sou completamente incapaz de piscar.

Olho para Suji e a percebo petrificada.

Até mesmo o fogo das velas presas ao candelabro que minha amiga segura parece se estremecer quando leio o nome cravado no couro novamente.

Suji se ajoelha ao meu lado, e eu enfio as mãos na caixa para tirar o livro de dentro.

Seu peso indica que é um volume grande, e seus desgastes mostram que era usado com frequência.

Encaro Suji e nós ficamos em silêncio por um segundo, pensando se deveríamos ir em frente.

Respiro fundo e abro o objeto em minhas mãos com cuidado; mas, neste momento, grande maioria das folhas que o compunham simplesmente vão de encontro ao chão empoeirado, se bagunçando em um emaranhado de papel e rabiscos.

- Aish - resmungo, enquanto tento impedir que o restante tenha o mesmo destino.

Suji rapidamente procura um lugar para deixar o candelabro e volta para me ajudar a recolher os registros espalhados por nossos pés.

Por sorte, não voaram muito longe uns dos outros, mas ainda assim, é trabalhoso conseguir juntar tudo novamente.

Enquanto pego alguns dos papéis, a voz de Suji me alcança, baixa e impressionada, enquanto a vejo encarar uma das folhas.

- Sohyun... isso... - ela olha para mim - isso é o grimório dele.

Uma lâmpada se acende em minha cabeça.

É claro.

- Mas... - tento pensar no motivo para aquilo ter nos mostrado esses arquivos bem quando, na teoria, não era para termos ciência deles. - Tem certeza?

Ela balança a cabeça e me passa a folha antiga.

A escrita em vermelho, com a mesma caligrafia, indica que foi feita pela mesma pessoa.

Ao topo do papel, tento compreender, meio a manchas de sangue seco, as palavras que se formam.

"Na busca pela ascensão e pela conquista do poder absoluto, registro aqui minha jornada, meus feitos e minhas experiências.

Que este grimório contenha a essência da minha ambição e o testemunho da minha determinação.

Nestas folhas, repousará a chave para a realização dos meus mais sombrios desejos e a concretização dos meus mais rigorosos planos.

Que os fracos tremam diante do meu nome e que os corajosos reconheçam a futilidade de sua resistência.

Que estas páginas testemunhem minha ascensão e sejam a prova do meu domínio sobre este mundo.

E que minha lenda, ecoe por toda a eternidade.

N.S."

Engulo em seco e corro meus olhos pela extensão da folha, tentando encontrar mais alguma coisa, mas sem sucesso. Tanto a parte debaixo quanto seu verso não possuem mais nada além de respingos ensanguentados.

Experiências?

De que tipo de experiências ele está falando?

Abaixo minha mão e encaro Suji, que está perdida em pensamentos.

- O que vamos fazer com isso? - Ela sussurra, enquanto começa a empilhar mais alguns dos papéis do chão.

Olho para baixo e vejo uma espécie de símbolo. Não consigo entender a princípio qual é sua forma, mas quando minha amiga levanta outro pedaço de papel, percebo uma semelhança entre os traços.

Sol da Meia Noite; ENHYPENOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz