Capítulo 64

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Emily acordou assustada ao sentir ser cutucada pelo ombro suavemente por alguém. Desorientada e atordoada de sono ela viu que era o pai que a encarava confuso e extremamente preocupado. E então ela percebeu o porquê, ela havia adormecido durante o café da manhã, com a cabeça encostada contra o prato vazio de bacon.

_ Você está bem, querida? _questionou Eric sem entender. _ Você dormiu tão cedo ontem quando chegou de viagem.

Ainda desorientada com a expressão confusa e o rosto amassado de sono, Emily demorou um tempo para entender do que ele estava falando. Mas então logo lembrou-se, o pai achava que ela havia feito uma viagem escolar, Balthazar o havia feito acreditar nisso usando seus poderes e ela havia confirmado no dia anterior quando voltara para casa depois de cinco dias na França com o demônio. Dias que a faziam suspirar apaixonada a cada vez que as lembranças de tudo que havia acontecido vinham a seus pensamentos. Tudo havia sido tão incrível... Por instinto tocou no colar parcialmente escondido por dentro da camisa enorme que usava por causa do frio que fazia em Greendale nos últimos dias, o último presente que Balthazar lhe dera ainda na França.

_Eu estou ótima. _respondeu ela bocejando sentindo os olhos pesados e uma enorme vontade de voltar a dormir. Porém não podia, havia ficado muito tempo longe da escola e precisava estudar.

_Victor Hale vai levar você a escola ou você vem comigo? _quis saber seu pai fazendo uma careta ao dizer o nome do garoto.

_ Vou com você na verdade, Baltha... quer dizer, Victor vai estar ocupado hoje pela manhã. _esclareceu Emily se amaldiçoando por quase ter dito o nome verdadeiro do demônio.

Eric franziu o cenho confuso, mas logo deu de ombros.

_Pegue o casaco então, estamos em dezembro e está muito frio lá fora, é provável que neve hoje. _mandou ele apontando para dúzia de casacos pendurados em porta casacos na porta da sala.

Revirando os olhos a garota obedeceu, indo apanhar o casaco pendurados em ganchos pregados na parte superior da porta. Só queria que o tempo passasse o mais rápido possível para poder ver Balthazar outra vez, ele havia dito que teriam enfim uma conversa naquela noite para que resolvessem tudo depois que resolvesse assuntos importantes e ela estava ansiosa por isso.

***
Balthazar encarou o homem de cabelos claros e olhar penetrante, que o encarava de maneira intimidadora com os olhos azuis faiscantes de maneira indiferente. Não soube discernir qual sentimento melhor refletia o estado de espírito dele, mas apostava em uma mistura de raiva e compreensão, como se estivesse furioso pelo que o demônio havia lhe dito, mas ao mesmo tempo soubesse que não havia sido sua culpa, o que não o impedia de sentir raiva dele.

_Está me dizendo que o poder que lhe cedi simplesmente desapareceu? Sumiu como poeira no ar? _questionou Miguel friamente.

_Eu não estou mentindo, fiz um acordo com você e infelizmente estou lhe devolvendo sua espada assim. Não faço ideia de como tudo realmente aconteceu, mas que fique claro que não estou de posse do poder angelical que estava na espada, juro a você que não estou. _explicou o demônio com as mãos nos bolsos do sobretudo que usava, ignorando o vento frio que batia furiosamente contra seu rosto.

_Sei que não está mentindo, eu saberia se estivesse. _ murmurou o arcanjo apertando sua própria espada entre as mãos, agora apenas um pedaço inútil de metal, de maneira sombria. _Não entrarei em guerra com você por isso. Lúcifer está morto e é isso que importa. Você cumpriu o combinado e agora não temos nada para tratar. Eu acharei um jeito de descobrir o que houve na Rússia quando houve a explosão e recuperarei eu mesmo o poder da espada. Mas lembre-se Balthazar, não lhe ajudei por cumplicidade, nossa amizade do passado morreu quando você se colocou contra Deus. Somos inimigos de novo então não ouse se meter em meu caminho novamente. Você é o rei do inferno agora por isso lhe dou um aviso amigável, deixe seus malditos demônios fora do caminho das coisas sagradas, e não faça como seu irmão, não tente ter mais poder do que suas mãos podem carregar. Deus não permitirá um ataque direto a ele. Preferiu se manter distante nessa guerra, mas se seu povo ultrapassar os limites ele não deixará passar em branco.

_Eu usarei seu conselho, não precisará me ver de novo, isso eu te garanto, irmão. _afirmou Balthazar seriamente.

_E a humana? O que acontecerá com ela? _quis saber Miguel parecendo levemente curioso, os olhos azuis claros fixados nos do demônio.

_Eu apagarei suas memórias sobre mim, ela ficará bem. Não se lembrará de nada que aconteceu esse ano.

_Isso é o melhor a se fazer. _ concordou Miguel parecendo surpreso, parecia não ter esperado um gesto nobre do demônio. _Seres como nós não nasceram para ter vidas normais junto com os humanos. Se realmente a ama, isso é o certo a ser feito.

_Eu sei. _ murmurou Balthazar de maneira ríspida. Ela já sabia que era o certo, não precisava que ninguém reafirmasse isso.
Não queria sequer pensar na dor que causaria em Emily quando enfim lhe contasse. Isso iria acabar com ela. Por isso precisava apagar suas lembranças sobre ele, seria a única forma que faria tudo ser menos doloroso, se ela não se lembrasse logo a história dos dois seria passado, pelo menos para ela.

Virou-se de costas e começou a caminhar na direção contrária na qual havia vindo com intenção de ir embora dali quando a visão da plantação do que acreditasse ser milho à alguns metros deles começou a incomodá-lo, mas parou ao ouvir o outro homem rir baixinho.

_No fim você realmente se apaixonou pela humana. _ comentou o arcanjo rindo secamente. _É quase irônico vindo de você, lembro que odiava os humanos tanto quanto Lúcifer.

_No fim somos mais parecidos com eles do que gostamos de admitir. _disse o demônio dando de ombros.

_Diga isso por você, eu não sou assim. Protejo os humanos porque são criações importantes para Deus, mas algo além disso é impensado. _rebateu Miguel se irritando, nem um pouco satisfeito pelo comentário de Balthazar.

O demônio sorriu ironicamente e depois se afastou, deixando Miguel para trás, que o encarou enquanto ele se distanciava por vários minutos parecendo pensativo.

***

_Nora! _exclamou Emily correndo para abraçar a vampira na porta do seu quarto na tarde daquele dia que parecia ficar a cada minuto mais frio. _Você voltou... Balthazar havia dito que havia mandado você pra Edom, mas não pensei que já havia voltado.

_Eu passei todo esse tempo lá me recuperando, vim apenas me despedir porque vou voltar para lá em breve definitivamente. _explicou a vampira vendo a expressão de Emily se tornar decepcionada.

_É uma pena, gosto muito de você e não queria que fosse embora. _lamentou a garota tristemente. _Mas você poderá vir me visitar de vez em quando, não é?

_Acredito que não, por isso estou aqui. _lamentou Nora se sentando em uma pequena poltrona próxima a janela do quarto. _Eu irei embora para não voltar, Emily. Sei que é difícil para você ouvir isso, mas é a verdade. Estou com os humanos por tanto tempo, e sinto saudades de casa, e de como tudo era antes de Lúcifer sair da cela.

_Eu não entendo. _ murmurou Emily confusa. _Todos vocês? Mary, Katherine, Andrew e Hector também?

_Sim. _ confirmou a vampira deixando um suspiro sofrido lhe escapar por entre os lábios.

_Isso é pelo que aconteceu com Alexia? Por isso você está indo? _questionou a garota sentindo-se chateada.

_Em parte, mas não totalmente, não importa muito onde ela tenha morrido na verdade, a dor é a mesma em qualquer lugar. _desabafou Nora deixando que algumas lágrimas descessem por seu rosto, usando uma das mãos rapidamente para enxugá-las, parecendo envergonhada por demonstrar suas emoções tão abertamente.

Emily não pôde deixar que notar que a vampira parecia completamente recuperada, não havia marcas ou cicatrizes em qualquer parte do seu corpo e o lugar onde antes estivera um buraco cheio de sangue onde Lúcifer arrancara sua orelha agora estava como antes delas terem sido capturadas. Ela parecia ainda mais linda do que sempre estivera, apesar da expressão em seu rosto ser a mais infeliz de todas, como se soubesse de algo que a garota humana desconhecia.

_Oh Nora! Eu lamento tanto. Se eu tivesse saído daquela maldita cela antes que eles fizessem aquilo... _chorou Emily sentando-se na beirada da cama próxima a poltrona onde Nora estava e segurando suas mãos na sua querendo confortá-la.

_ Não é sua culpa, o culpado é Leviatã, e Balthazar cuidou dele antes de invadir aquela sala naquele dia, ele está morto e Alex está vingada. _murmurou a vampira balançando a cabeça de maneira séria.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now