Capítulo XI

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.Crowley on.

Eu precisava correr, precisava chegar a tempo. Eu corria e desviava das pessoas nas ruas de Londres em pleno entardecer para chegar na loja de artigos de festa.
Ariel iria fazer 18 anos no dia seguinte e apesar de eu não gostar de festas, sinto que essa data é importante para aquele serzinho tão amoroso.
Consegui chegar antes da loja fechar e assim que passei pela porta, notei a única atendente na loja me olhando de cima a baixo. Claro que me incomodei, mas deixei passar.
Enquanto eu procurava as coisas, pensava no que logo iria acontecer. Ariel iria embora, Aziraphale iria chorar, eu iria chorar...
Eu precisava arrumar uma maneira de ter Ariel pra sempre comigo e com o meu anjo.

- Licença, moço? - a jovem loira que trabalhava alí me olhava de forma intensa - Precisa de ajuda?

Ok, ela é bonita e se eu não fosse gay, ela faria meu tipo. Mas deixo claro para vocês que eu amo Aziraphale e ele é incontáveis vezes mais bonito que ela.

- Não, não preciso - continuei pegando algumas coisas na gôndola enquanto a menina me encarava sem parar - Será que você pode parar de me encarar fixamente? - questionei levemente estressado, passando por ela e indo até o caixa.
Como ela era a única atendente na porcaria da loja, eu seria atendido por ela.

"Credo. Garotas"

Ela correu atrás de mim e começou a tirar as compras da cestinha.

- E então? Alguém vai fazer 81 anos? - perguntou passando as velas de 1 e 8 no leitor de código de barras.

- Não, elas são pra montar o número 18 e não 81 - ok. Ela estava me incomodando com aquele sorriso de piranha e aquele olhar persistente na minha cara.

- Ah sim. Sua namorada vai fazer 18 anos?

"Que namorada minha filha? Ta doida? Aqui é arco íris na veia, porra"

- Não.

- Sua filha? - persistiu.

- Não.

- Seu filho? - e perguntou de novo

- Não.

Ela foi citando todo tipo de parentesco que alguém pode ter enquanto ia passando as compras. Quando acabou, eu estava massageando minhas têmporas, totalmente irritado com aquela guria que não calava a boca.

"Acabou! Nossa, acabou! Finalmente, eu vou embora antes que ela comece a falar de novo. Vamos, vamos, corre antes que ela venha atrás"

Juntei as sacolas com as compras e peguei o famoso papelzinho (nota fiscal). Eu nem olhei direito, só saí correndo e fui pra casa de novo.
Quando cheguei, meu anjo estava lendo no sofá e Ariel estava na cozinha fazendo chá.
Cumprimentei meu amado com um leve selar na testa para não distraí-lo e fui guardar as coisas, mas antes, parei na porta da cozinha para olhar um pouco como Ariel cresceu.

"Eu sou um pai muito babão"

Sorri e fui para o andar de cima, logo escondendo muito bem as sacolas embaixo da cama. Afinal, seria uma festa surpresa e Ariel é como um cão farejador.

Quando anoiteceu, Aziraphale ficou muito manhoso e queria sempre um beijo ou um abraço e é claro que eu dava sem nem pestanejar.
O que eu não sabia, era que depois daquela onda de fofura e carência, viria uma onda de perversão e desejo. Só descobri depois que aquele loiro danado me esperou totalmente nu na cama quando fui buscar um copo d'água.

"Hoje a noite vai ser longa"

E foi mesmo.

Crowley off.

[...dia seguinte...]


- BOM DIAAAA - exclama Ariel entrando na cozinha com uma animação de dar inveja.

- Bom dia, meu amor - o loiro passou pelo ser e deixou um selar em sua testa.

- Vocês acreditam que eu já tenho 18 anos!? - Ari questionou se sentando no banco e se apoiando no mármore da ilha de cozinha - o tempo passa bem rápido mesmo. Eu não acreditava quando vocês me falavam isso mas agora eu acredito muito - disse sorrindo por final.

Crowley e Aziraphale estavam felizes por Ariel, mas apreensivos pelo que estava prestes a acontecer.

- Então, Ariel - Azi começou - que tal sairmos mais tarde? - sugeriu com um sorriso ansioso.

- Claro, aí podemos tomar um cappuccino naquela padaria que eu amo - Ariel estava realmente radiante - Vamos nós três?

- Hmm, não - Crowley respondeu - Está muito frio lá fora, essas temperaturas são realmente desconfortáveis para mim - terminou se apoiando no mármore.

- Ah, é mesmo. Tinha me esquecido - Ari murchou porém logo ficou animade novamente - Ah, esse dia vai ser demais! - Exclamou se levantando e girando com os braços para cima, assim como fazia quando era criança.

[...]

Enquanto Aziraphale estava fora de casa com Ariel, Crowley se apressava para deixar tudo pronto no quintal do fundo da casa.
Estava com todos os casacos que possuía pois o frio estava realmente pegando pesado com os londrinos e a neve começava a dar indícios de aparição.

- Merda - xingou quando voltou para dentro da casa e sentiu que estava congelando dos pés a cabeça.

De dentro a casa, o ruivo checou se tudo estava no lugar certo através da porta de vidro, tal que Crowley inocentemente trancou pensando que assim o frio não entraria de jeito nenhum.

- Mesa, ok. Docinhos, ok. Fitas coloridas, ok. Balões, ok. Bolo, o- deu uma pequena pausa e arregalou os olhos - Bolo???! O BOLO! - estava prestes a surtar e deitar no chão em posição fetal quando se lembrou que o bolo estava no forno para manter a temperatura.

Crowley deu um leve suspiro e sentiu o alívio passar por todo o seu corpo gélido. Foi até a cozinha, pegou o bolo com cuidado e voltou para a porta de vidro, onde paralisou no lugar, querendo deitar em posição fetal novamente.

- Eu vou ter que sair no frio de novo? - falou sozinho com uma tristeza quase palpável - Eu não quero sair no frio de novo - e bateu um pé no chão como uma criança birrenta.

O demônio contou até três e quando ia sair, lembrou que a porta estava trancada. Deu um rosnado de frustação e habilidosamente segurou o bolo com uma só mão e destrancou a porta. Assim que pisou no chão coberto pela fina camada de neve, se arrependeu completamente e ter se esquecido do bolo. Assim que terminou a arduosa tarefa de atravessar o jardim branco e depositar o bolo na mesa, saiu correndo de volta com cuidado para não escorregar. Trancou novamente a porta sentindo seus ossos congelarem.

Agora você deve estar se perguntando, " mas ele não poderia ter feito tudo isso simplesmente estalando os dedos e fazendo o milagre acontecer?" Claro que ele poderia, mas não queria. Crowley sentia que, como um pai, deveria se esforçar pelo menos um pouco para fazer feliz aqueles que ama. Então, fazer toda a festa de Ariel utilizando um simples milagre estava fora de cogitação para Crowley por não conter sentimento algum em tal ato.

O ruivo se sentou no sofá depois de dar umas voltas em volta do mesmo para se esquentar um pouco, e começou a rir de si próprio; do quão patético deve ter sido a cena que ele acabará de protagonizar.

Quando Azi e Ariel chegaram, Crowley continuava rindo.

- Crowley? - Aziraphale o procurou com os olhos e achou a cena mais tentadora e sua vida. Seu ruivo sentado no meio do sofá, com seu jeito largado, com a cabeça tombada para trás, rindo... Um pensamento impuro logo passou por sua cabeça e se fossem nos tempos passados, ele teria se martirizado por isso, porém, agora nem se importa, ele somente sorri e continua com sua vida.

- Do que você está rindo pai? - Ariel deu um risinho.

- Nada não - disse e logo cessou os risos - Bom, vamos?

- An? Pra onde? - Azi questionou meio perdido, mas logo se lembrou - Ah, é! Vamos Ari?

- Que? Onde? - esta foi a vez de Ariel ficar confuse.

Aziraphale tapou os olhos de Ariel e Crowley pegou suas mãos, guiando pela casa até a famosa porta de vidro. O ruivo roubou novamente quando notou que teria de sair de novo no frio, mas logo aceitou a dura realidade e destrancou a "porcaria de vidro", apelido bonito e majestoso dado pelo demônio.

100 Bad DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora