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Nunca gostei de me lembrar dos primeiros dias após terminar com Lewis. Foi como me afogar em um oceano frio, nem mesmo os vinhos da adega do meu pai em Mônaco, conseguiram me fazer sentir melhor. Teve o tempo em que chorei e pensei em ligar, cheguei a discar seu número algumas vezes mas sempre desistia na hora de apertar o botão verde. Teve também, a fase de revolta, quando depois de uma semana vi a primeira matéria com seu rosto estampado num site de fofoca, embriagado e acompanhado de pessoas que eu sabia que não eram suas amigas. Mas acho que o período mais difícil foi a que se estendeu pelo primeiro ano inteiro. Tentar convencer a mim mesma de que não sentia sua falta, até acreditar que aquilo era verdade.

Então, tinha as noites em que eu deitava na cama e encarava o teto, sentindo aquele vazio me engolir. Sem saber o que era real e o que eu tinha inventado. Sem saber o que eu era e o que eu fingia ser.

Amor sempre foi algo presente na minha vida. Nunca me faltou amor. Porém, quando a noite calava as ruas e meu corpo se encolhia no edredom eu podia jurar que tudo o que eu sabia sobre essa palavra era mentira.

Mas isso durava parcelas minúsculas de segundos, porque eu pensava nele e em como ele me fazia sentir todas as vezes que seus olhos brilhantes e castanhos, que ora ardiam de desejo e ora de devoção, me encaravam. Meu coração transbordava. Recordava de seu semblante sonhador, como se ainda fosse aquela criança tentando provar que todos estavam errados. Sorria só de pensar na forma que ficava agitado após ganhar uma corrida, orgulhoso de si mesmo da maneira mais genuína e menos egocêntrica que já vi alguém fazer.

Lewis era amor. E eu me recusava a cogitar que aquela sensação era uma invenção minha, uma mentira. Era tudo verdade, da maneira mais sincera que existe no mundo.

Depois de três anos separados, me dei conta de que não adiantava mais me segurar nas memórias, não íamos voltar e a baixa frequência em que informações sobre ele chegavam até mim, fizeram o trabalho de me convencer que podia conviver com o vazio no lado esquerdo do peito. Chegando ao ponto de eu acreditar que não o amava mais.

O que não foi necessário nem um mês inteiro de convivência para eu saber que estava completamente errada.

Quando a frase fez sentido na minha cabeça, no meio de tantos gritos e agitação por termos ganhado, e o "Eu amo você" foi tudo o que assimilei daquele momento, meu coração turbulento se acalmou, como as ondas depois de uma tempestade na costa. Não senti nada além de calmaria no meio de corpos eufóricos que me prensavam na grade. Pode não fazer sentido, mas normalmente o amor não faz.

O sorriso que tomou meu rosto foi o mesmo que a Lia de 20 anos deu para o espelho depois do primeiro encontro. Onde o mundo ainda era roupas, sapatos e revistas de fofoca espalhadas na cama, planejando como iria fazê-lo se apaixonar por mim.

Anos depois, ali estávamos nós. Eu estava sentada no banco do carona, ouvindo-o cantar What Do You Mean? a plenos pulmões, enquanto o ponteiro de velocidade no painel mostrava que estávamos muito mais rápidos do que era permitido. Um fato engraçado sobre Lewis era que detestava dirigir na rodovia, achava tedioso.

First you wanna go to the left, then you wanna turn right! — Girou o volante para a esquerda e depois para a direita e o carro sacudiu brevemente, enquanto cantava a música na rua deserta.

— Lewis! — O repreendi, mas não consegui manter a cara brava por muito tempo, já que ele se virou para mim com uma careta divertida.

Wanna argue all day, making love all night — Levantou uma sobrancelha sugestivo e eu cai na gargalhada, socando seu ombro.

FLASHING LIGHTS - lewis hamiltonOnde histórias criam vida. Descubra agora