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Ainda podia ouvir a voz de Cindy no meu subconsciente. Ecoando como um grito solto numa caverna. A armargura no seu tom completamente irritado, as palavras rudes e certeiras, como adagas afiadas.

Uma parte de mim se afogava nas coisas que declarou, na possibilidade de ela estar certa. Será que Lewis só estava tão determinado a me conquistar pelo o fato de eu ter um noivo e isso o desafiava? Pelo o fato de eu ter negado seu pedido e agora ele tinha a oportunidade perfeita para se vingar? Mas esse não era o Lewis, ele não era esse tipo de cara.

Definitivamente não. Que idiotisse.

Mas mesmo se todas aquelas duras palavras que me disse, fossem apenas sua revolta contra a situação que se encontrava, ainda existia a outra parte. Miles havia me traído, por meses ou anos e eu nem sequer desconfiei, e naquele momento só conseguia pensar que alguma coisa em mim era falha, insuficiente e de certa forma não-digna.

A insegurança é um sentimento pequeno, eu diria que ela é do tamanho de um grão de areia, a ervilha embaixo do colchão, a pedrinha no sapato. Porém, ela tem um poder enorme, fazer você não acreditar que pode ser o bastante. Ela resume tudo o que você é naquele único defeito, naquela única sentença. A comparação se torna inevitável. Queria saber quem era a garota, queria olhar para ela por horas mesmo que fosse torturante, queria entender o que ela tinha e eu não.

Pude ver o olhar de Hamilton mudar completamente quando lhe estendi o celular, mesmo que as lágrimas borrassem um pouco minha visão. Vi quando seu semblante se fechou, não era mais preocupação, era raiva.

Sua mandíbula travou e meu coração pulava no peito. Se ele não me amasse mesmo, não ficaria tão bravo. Ficaria? Droga, meus pensamentos estavam cada vez mais confusos.

Quase não pude ler a matéria inteira sem vomitar, não sentia nada por Miles, mas sabe que ele tinha uma amante durante todos esses anos me deixou enojada.

Ela morava em Nice e todas as suas viagens nos últimos meses tinham sido uma farsa para que ele pudesse passar um tempo com ela. O fato de eu nunca sequer ter desconfiado me fez sentir uma ingênua, mas também me fez pensar no pouco caso que eu fazia daquela relação.

Comecei a chorar no segundo parágrafo, onde a menina disse "Ele vinha me ver, enquanto estava com ela. Reclamava que o relacionamento não era bom. [...] Quando terminaram, pensei que ele fosse me assumir. Tolice, eu sei. Ele sumiu por uma semana, fiquei surpresa quando descobri que tentou reatar o namoro. Seu pai meio que estava negociando com a Mercedes, e pelo fato de Miles ser o genro de Toto era quase garantido que ele conseguiria as ações. [...] O pai dele insistiu que ele voltasse com ela. [...] Na segunda-feira, ele me enviou uma mensagem falando que não iria mais me ver. Então quero que ele se f*da."

Parecia que um balde de água fria havia caído bem acima da minha cabeça. Era como acordar no meio da noite, completamente desnorteada depois de um pesadelo terrível.

Minha garganta secou completamente e percebi que vivi esses anos todos num relacionamento fantasioso, mascarado e encenado. Como podia me sentir culpada por aquilo? Uma parte da responsabilidade também era minha? Não era?

Eu me coloquei naquela situação. Eu permite que chegássemos naquele nível.

A traição dói, porque ela vem de pessoas que você espera o mínimo de consideração, vem de pessoas como Miles, um homem que me pediu em casamento e mesmo que não me amasse, pensei que ao menos houvesse respeito.

Em pensar que demorei tanto tempo para terminar, pois estava preocupada com seus sentimentos. Eu fui tão tola.

Me sentia tão usada. Mal pude conter o soluço que me escapou, enquanto Lewis já estava lendo o final do artigo. Seus olhos se ergueram na minha direção, estavam frios e fervilhando ao mesmo tempo. Passei a manga de sua camiseta no nariz fungando, desviando o olhar, me sentindo horrível e suja, não queria que ele me visse sabendo que ele conseguiria enxergar muito além do que a maioria, pois Hamilton me conhecia.

FLASHING LIGHTS - lewis hamiltonWhere stories live. Discover now