Capítulo 5 - Noites de Medo

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Aviso: Este capítulo contêm cenas de tortura, se isso vos perturbar de alguma forma, não leiam. Foram avisados!

Eu tinha medo.

Nos meus pesadelos eu estava a afogar-me em escuridão. A nadar em trevas e desespero, a ficar sem ar, enquanto alguma coisa me arrastava para as profundezas. Eu tentava fugir, eu gritava, mas eu nunca conseguia evitar ser afogada.

Acordei ofegante e coberta de suores frios. Eu não sabia o que me ia esperar hoje, eu nunca sabia e tinha sempre demasiado medo para perguntar.

Havia três opções do que podia acontecer, todas dolorosas, mas uma era rápida, as outras nem por isso.

O sol ainda não tinha nascido e o palácio estava silencioso na noite cerrada.

Eu encolhi-me na cama, absorvendo o calor dos lençóis quentes, a única luz que o meu quarto tinha era do fogo que vinha da lareira de mármore bege, as sombras do quarto moviam-se, aproximando-se ou retraindo-se segundo o movimento das chamas.

Abracei-me a mim mesma, incapaz de fazer outra coisa, se não encostar a cabeça nos meus joelhos e chorar silenciosamente.

Eu não era capaz de voltar, cada vez era mais difícil para mim voltar para .

Não consegui voltar a adormecer, nem queria, deixei que as últimas horas da noite avançassem devagar, atrasando o inevitável. Rezando para que o sol não nascesse.

Passei-as em silêncio, olhando para o relógio de madeira e ouro sobre um dos cómodos cor de marfim. Observando de tempos a tempos os ponteiros a avançarem, desejando poder pará-los de se moverem, desejando ficar ali, encolhida sobre si mesma pelos dias seguintes.

O som de alguém a bater à porta fez-me sobressaltar.

Ouvi a porta abrir-se e Elianne entrar, fingi acordar com o bater da porta como acontecia normalmente.

- Bom dia. - disse-me pousando a bandeja de prata com os nossos pequenos-almoços e vindo até à cama dar-me um beijo na testa como fazia todas as manhãs.

- Bom dia. - respondi, não deixando a minha voz falhar.

- A Imara disse-me que hoje não tinhas treino de manhã. - Elianne disse calmamente olhando para mim.

Eu também nunca tinha contado a Elianne, nem a ninguém sobre este assunto, só queria fingir que nada daquilo acontecia. Esquecer cada momento. Elas eram amáveis e não forçavam o assunto depois de eu voltar, então era mais fácil para mim esquecer.

- Tenho treino apenas à tarde. - disse apenas, evitando o seu olhar, levantando-me e indo até à casa de banho lavar o rosto. Olhei para o espelho, porque aqueles dias eram os únicos em que tinha mesmo de olhar para mim, para me certificar que a máscara não caia, que eu não desabava.

Rosto inexpressivo, olhos ligeiramente avermelhados. Não devia ter chorado

Passei a água gelada várias vezes no rosto para diminuir o leve inchaço das pálpebras devido às lágrimas.

Elianne assim como Imara sempre desconfiaram do que realmente acontecia nesses treinos. Começou pouco depois de eu começar a tomar o pó faeruhn, eu contei-lhes sobre o pó, mas nunca sobre aqueles treinos que tinha com a tia. Elianne soube que algo estava errado desde que a minha tia me chamara pela primeira vez, eu tinha pouco mais de treze anos e quando voltei chorei incontrolavelmente durante horas no colo de Elianne, sem dizer uma palavras, ela abraçou-me e não insistiu quando eu disse que não se tinha passado nada de mais. Quando eu disse que não podia, e que nem queria contar o que se passara.

A Herdeira LimitadaOnde histórias criam vida. Descubra agora