Capitulo 30

24 3 0
                                    

Callie ergueu-se e saiu da cozinha. Foi para a sala e jogou-se no sofá, enterrando o rosto nas mãos. O seu peito doía pelo esforço que fazia para não chorar. Helen veio atrás dela e aproximou-se, pousando a mão no ombro dela.

--Callie, eu queria dizer que. . .

-- Deixe-me só! –Gritou Callie, com as mãos no rosto.

Helen empalideceu e recuou, com o sofrimento estampado no rosto. Voltou à cozinha, chorando silenciosamente.

Enxugou as lágrimas e colocou o frango na frigideira. Fritou, colocou em uma travessa. Fez a salada de batatas e arrumou a mesa. Voltou à sala, tentando mostrar-se calma.

Callie, com a cabeça recostada no encosto do sofá, olhava para o teto com uma expressão ausente.

-- Callie. . . – Chamou baixinho.

Ela olhou-a e sua expressão mudou, parecendo envergonhada. Ergueu-se.

-- Helen. . . desculpe o meu descontrole de há pouco. Estou intratável e não tinha o direito de gritar com você, em sua própria casa. Se quiser, vou embora agora. Deve estar arrependida de ter-me trazido para cá.

Helen sorriu com esforço, para não demonstrar seu sofrimento à Callie.

-- Não estou arrependida. Eu entendo que está com os nervos tensos. Isso vai passar com o tempo. Venha comer, Callie.

Callie a seguiu. Sentou-se à mesa, olhando para a comida.

-- Está com ótima aparência e cheirando bem – Disse, tentando espantar o clima pesado que criara – Já vi que é uma excelente cozinheira.

-- Obrigada. Vou serví-la.

Helen serviu-a e se serviu. Callie começou a comer, sem olhá-la. Parecia ainda envergonhada. Helen aproveitou para a observar, embevecida. Olhou os cabelos morenos e sedosos, os traços marcantes do rosto, as mãos de dedos longos e delicados. Era mesmo bela e atraente. Dela emanava uma atração tão forte,  que a fazia tremer.

Callie olhou-a . Sorriu. A crise havia passado.

-- A comida está ótima. Parabéns.

-- Que bom que gostou, Callie.

-- Vou lavar a louça para você. Não é justo que faça tudo.

Helen sorriu, olhando-a divertida.

-- Você, lavando louça? Não combina.

Callie a fitou erguendo as sobrancelhas.

-- Por que não combina? Sempre fiz isso!

-- Ah, não sei. . . não consigo imaginá-la lavando louça!

Callie sorriu.

-- Pois vai ver hoje.

-- Não, hoje não. Você fez uma viagem e está cansada.

-- Você está mimando-me, Helen . . .

-- Com muito prazer. Acabe de comer.

Terminaram de comer em silêncio. Helen recolheu as louças e as lavou, sob protestos de Callie. Enxugou tudo e foram para a sala. Helen instalou-se numa poltrona e Callie em outra ao lado.

-- Quer ver um pouco de televisão?

-- Tudo bem.

Helen ligou a tv. Fugiu dos noticiários, dizendo:

-- Hoje em dia só se vê notícias ruins. Um pouco de descanso dessas tragédias diárias será bom.

Colocou em um canal filmes antigos. Estava começando um. Casablanca, com Bogart e Ingrid Bergman. Helen a olhou.

-- Quer ver esse filme? É um clássico.

-- Já o vi duas vezes, mas é sempre bom ver Casablanca. Aprecio muito aos atores.

-- Gosta de filme romântico?

-- Gosto.

-- Quer uma bebida? Acho que uma dose não lhe faria mal.

-- Um uísque com gelo, se tiver.

Helen fez menção de erguer-se.

-- Não precisa, eu mesma me sirvo – Disse Callie, levantando-se – Onde está a garrafa?

-- Ali na estante. Tenho um Chivas e um Buchana’s. Escolha.

Callie apanhou a garrafa de Chivas e a olhou.

-- Também vai querer?

-- Sim. Obrigada.

Callie foi até a cozinha e preparou as doses. Voltou à sala e estendeu um copo para Helen, sentando-se.

-- À você, com quem muito homem gostaria de casar – Brindou, erguendo o copo.

Helen a fitou, sorrindo docemente.

-- Por que diz isso?

-- É uma pessoa muito dedicada.

-- Ah! – Exclamou, com ar decepcionado – Somente por isso?

Callie emendou, sorrindo:

-- Não, claro que não. Você foi Miss New York, esqueceu?

-Que quer dizer com isso?

O olhar de Helen era ansioso. Callie continuou, subitamente se sentindo desconfortável:

-- Quero dizer que é uma mulher bonita, Helen.

Herança Fatal  (CALZONA)Where stories live. Discover now