Capitulo 35

22 3 0
                                    

A campainha da porta tocou, despertando-as. Helen apanhou um robe de seda e enrolou-se nele, olhando para Callie, que a fitava assustada.

-- Vou atender. Fique aí.

Correu para a porta e abriu-a, deixando a corrente de segurança. Um homem alto e magro, vestido com um terno impecável, lhe sorriu. Trazia uma pasta de couro na mão.

-- Senhorita Calliope Iphiegeni Torres? Sou Mark Ford, advogado. Posso falar com a senhorita um instante?

Helen tirou a corrente e abriu a porta completamente, fazendo um gesto para ele entrar. Ele passou por ela e parou no meio da sala. Helen fechou a porta e voltou-se para ele.

-- Não sou Callir, ela está dormindo. Um momento. Vou chamá-la.

Ele sorriu, assentindo.

Helen voltou ao quarto e fechou a porta. Aproximou-se de Callie, que sentara na cama, completamente nua.

-- Um advogado, Mark Ford, deseja falar com você. Está esperando na sala. Você o conhece? - Cochichou.

Callie franziu o cenho.

-- Não.

-- Ele não me é estranho. Acho que o vi na empresa.

-- Ah! Deve ter vindo trazer a minha destituição! - Disse, levantando-se - Mas como ele soube que eu estava aqui?

-- Não sei, somente eu e Phil Scott sabemos.

Callie vestiu suas roupas que estavam sobre a poltrona, rapidamente. Passou as mãos pelos cabelos revoltos e foi para a sala, junto com Helen.

Mark Ford continuava no mesmo lugar. Ele lhe estendeu a mão, sorrindo.

-- Senhorita Torres, muito prazer. Sou Mark Ford, advogado.

Callie apertou a mão dele e fez um gesto para ele sentar, sentando-se no sofá. Ele sentou ao seu lado.

-- Estou curiosa sobre o motivo de sua visita, Mr. Ford.

Helen avisou que ia fazer um café e saiu da sala.

Ford abriu a pasta que trazia e retirou duas folhas de papel, explicando:

-- Venho da parte de Wilfred Thompson, o tabelião depositário de Arizona Robbins. Estamos notificando as pessoas contempladas para a abertura do testamento, que será amanhã. Há vários dias estamos tentando encontrá-la, senhorita. Fui ao apartamento que residia na Quinta Avenida, mas disseram que não estava mais lá.

-- Como conseguiu localizar-me?

-- Recebemos um telefonema, dizendo para procurá-la neste endereço.

-- Um telefonema? De quem?

-- A pessoa não quis identificar-se. Era um homem.

Callie estava surpresa e assustada. Quem sabia onde ela estava? Somente Phil Ascott sabia, e prometera sigilo. E por que o homem não havia se identificado? E agora, aquela notícia sobre a leitura do testamento! Não era parente de Arizona, sabia que somente as pessoas da família ou citadas em um testamento, eram convidadas para a abertura do documento. E Mark Ford dissera que ela era uma das contempladas!

Ele estendeu as duas folhas de papel e uma caneta.

-- Por favor, assine as duas vias.

Callie olhou o documento. Era um convite para comparecer à leitura do testamento, na residência dos Robbins, às cinco da tarde do dia seguinte. A convocação era do tabelião Wilfred Thompson.

Assinou com a mão trêmula, pensando no que a esperava. Entregou os papéis ao advogado. Ele devolveu-lhe a primeira via, dizendo:

-- Esta via é sua, para apresentar-se no local.

Levantou-se, estendendo a mão.

-- Foi um prazer conhecê-la, senhorita Torres. Até amanhã.

Callie apertou a mão dele e levou-o até a porta. Ele se foi e ela fechou a porta, suspirando. Não sabia o que pensar daquilo.

Helen veio da cozinha, com duas xícaras numa bandeja e a fitou surpresa.

-- Ele já foi? O que ele queria?

Callie a fitou com preocupação no olhar.

-- Veio trazer uma convocação para a abertura do testamento de Arizona.

Ela a fitou sombriamente.

-- Sabe o que isso significa, não?

-- Até certo ponto. Devo ser citada no testamento, como o advogado disse.

-- Alguma coisa Arizona deixou para você. Senão, não seria convocada. É... Ela a amava mesmo. . .

Essa observação irritou Callie, que já estava nervosa com a visita do advogado. Olhou para Helen friamente.

-- Você tinha dúvidas disso? Claro que Arizona me amava! Eu sentia isso! Era tão carinhosa, tão. . .

-- Chega, Callie! - Gritou Helen, depositando a bandeja na mesinha e a fitando com ciúmes - Não agüento mais ouví-la falar de Arizona!

Helen se descontrolou. Depois de uma noite de amor, não esperava ouví-la falar de Arizona. E lá estava ela, desmanchando-se em elogios à falecida amante!

Callir a fitou surpresa com seu desabafo. Sua irritação aumentou. Olhou-a com provocação.

-- Vai agora proibir-me de falar em Arizona? Já se julga dona de mim? Está enganada! Eu avisei que sexo não teria nada a ver com meus sentimentos! Eu amo, adoro Arizona! Para mim, ela continua viva! E não será você quem vai impedir-me de falar nela.

Helen reagiu impulsivamente. Ergueu a mão e esbofeteou Callie com força, louca de ciúmes e raiva.

A cabeça de Callie virou para o lado, com o golpe. Ela voltou-se novamente e olhou-a com olhos flamejantes, as marcas dos dedos de Helen impressos em seu rosto.

Helen a fitava paralisada, percebendo que agredira Callie e arrependida do ato. Ela a olhava em um misto de mágoa e raiva.

Callie voltou-se e em passadas largas, abriu a porta e saiu, batendo-a com força. Helen começou a soluçar, jogando-se no sofá, murmurando:

-- Oh, Callie. . . perdoe-me. . . oh, Deus!

Callie não esperou o elevador. Desceu pelas escadas, dominada pelo desejo de ir para bem longe dali. Chegou à rua e olhou para os lados, indecisa. Mas logo tomou a direita, andando apressada. Queria distância de Helen! Ela a havia agredido! O que pensava ela? Que já a tinha nas mãos? Ela ia ver como estava enganada!

Meteu a mão no bolso do casaco. Tinha uma nota no bolso. Tirou-a e olhou. Dez dólares, não dava para muita coisa. Mas continuou andando. Andou alguns quarteirões de cabeça baixa, indiferente aos trausentes que passavam. Aos poucos, foi se acalmando. Mas a mágoa contra Helen permaneceu. Nunca mulher alguma ousaria agredi-la! Como ela pudera fazer isso? Bem, tinha que reconhecer que também a havia provocado. Uma mulher apaixonada como Helen estava, só poderia ter aquela reação, ao ouvi-la falar de Arizona daquele jeito. Mas não admitia agressões!

Inconscientemente, dirigiu-se para a Quinta Avenida. Quando percebeu, estava diante do edifício que morara com Arizona. Parou, olhando para a entrada, sentindo uma saudade dolorosa daqueles dias felizes. Ah, Arizona! Seria tão bom se ela estivesse lá, à sua espera!

O porteiro a reconheceu e veio até a porta, sorridente.

-- Senhorita Torres! Que prazer, tornar a vê-la! Vai subir?

Ela o fitou desajeitada.

-- Não. Não moro mais aqui. Nem tenho o cartão que abre a porta do apartamento.

-- Mas foi bom ter vindo aqui. Tenho uma correspondência para a senhorita.

Callie o fitou surpresa.

-- Correspondência para mim? Onde está?

-- No escaninho de correspondência da senhorita Robbins. Pode pedir ao recepcionista.

Callie agradeceu e entrou, ansiosa. O recepcionista a olhou educadamente.

Herança Fatal  (CALZONA)Where stories live. Discover now