Liberdade

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Um quadro colorido e uma garota sentada em uma maca.

Ela estava olhando fixamente para a mulher de semblante severo para ela, dizendo a si mesma que a sensação de temer nunca foi antes experimentada com tanta força dentro de si.

Aquela mulher tinha mais do que o dobro de sua idade, era mais alta, mais adulta, tudo o que a garota não conseguia ser ainda, mas que era.

Ela olhou com vergonha para frente e ali estava seu principal motivo.

Uma barriga redonda e volumosa.

Ela tinha medo de lembrar de como as coisas aconteceram para que acabasse numa sala de hospital com um bebê no ventre.

Se culpava por tudo, chorava por tudo, pouco entendia o que era o propósito de tudo aquilo, mas ela estava ali, deitada e pronta para ver um bebê do qual não fazia ideia de como fora parar em sua barriga.

Seus pais não se deram ao trabalho de explicar que bebês não vinham em cegonhas, ela não sabia que beijos poderiam engravidar meninas, nem que o garoto mais bonito da escola sumiria quando isso acontecesse.

Tinha pernas finas, os seios ainda não haviam desabrochado em sua adolescência, não era inocente para seus pais, era culpada para os pais do garoto que a beijou e era culpada por si mesma.

Porque o beijou e porque não sabia que beijos eram proibidos.

O olhar da mãe era severo, seu pai estava sentado na recepção provavelmente escondendo o rosto dentro de páginas de revistas de gravidez, no outro dia ela observou da janela de seu quarto duas amigas andando pela rua com mochilas da escola e sorrindo.

Amigas? Que amigas!

Todas elas se foram tão rápido que ela mal conseguia se lembrar.

Algumas vezes odiava aquela barriga, outras cativava muito afinco por ela, porque sentia chutes, movimentos, porque havia alguém com quem poderia conversar e dividir, compartilhar e brincar.

Sua mãe a havia proibido de voltar para a escola desde que aquele bebê começou a crescer dentro dela, ela não frequentava mais os mesmos lugares que as colegas de escola e nem podia ir ao mercado.

Seu irmão era grosseiro com ela e seu pai não escondia a vergonha que sentia.

Ela não entendia bem nada.

A médica chegou.

Fazia cara feia, ela também a odiava, mais alguém para entrar numa fila e enchê-la de acusações e julgamentos.

Mas a garota estava como nos últimos seis meses, olhando fixamente para a tv do consultório, um pouco ansiosa para ouvir o barulho de um coração rápido e pulsante.

Um coração que era só seu, que era livre da raiva e da culpa que todos depositavam nela.

Do coração de alguém que não desejou, mas aprendia a amar um pouco mais, nem que ao menos para dar alguma companhia a ela.

Quem sabe quando ele nascesse não poderiam ser amigos?




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Grávida do Bilionário PetulanteWhere stories live. Discover now