Mais que Beijos

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— Acho que o arroz já ficou pronto, você quer jantar agora?

Aquiles Braga se aproxima vindo da sala.

Ele me informou há alguns minutos que precisaria atender a uma ligação importante do Brasil, imagino eu que seja mesmo algo relacionado a seus negócios porque ele saiu para a sacada do apartamento e o vi gesticulando todo irritado, como as portas da sacada da sala são a prova de som não pude ouvir e mesmo que eu não ouvisse nada notei que a ligação o irritou.

Eu tento não ficar espiando muito, mas confesso que estou a cada dia mais interessada em saber dele.

Eu sei que não deveria, que não posso.

— Acho que preciso de mais uma bebida.

Ele vem e abre a porta de baixo do armário, pega uma garrafa do que parece ser um uísque e coloca sobre a pedra do batente do balcão, fico parada vendo-o abrir as portas de cima do armário e pegando um copo de bebidas.

— Algum problema na sua empresa?

— Queria que fosse.

Ele não me olha, seus gestos não esconde um sinal rápido de contrariedade.

— Soube agora que tentaram invadir a minha fazenda e levaram cerca de cinquenta cabeças de gado — ele abre o uísque e despeja boa quantidade no copo depois ergue e leva a boca, engole tudo de uma vez e depois me olha. — Aceita?

— Não, obrigada, se você quiser eu posso ir e depois nós podemos remarcar.

— Não se incomode — ele diz e evita o meu olhar.

Acho que não é só isso, mas perguntar seria indiscreto demais.

Desligo a chama do cooktop e depois lavo as mãos, imagino que não seja o melhor momento para que eu esteja aqui.

— Vem — ele chama e pega a garrafa e o copo. — Vamos continuar nossa conversa, preciso me distrair ou vou acabar quebrando qualquer coisa desse apartamento.

Você é desses?

Algumas vezes eu também gostaria de ser assim, mas quando fico com raiva sou muito introspectiva, atualmente é como se um vulcão explodisse dentro de mim e por fora mal consigo me mover, depois disso coloco para fora com todas as palavras que consigo falar.

Não quebro nada, não sei dizer se feliz ou infelizmente.

Me sento no sofá e encho minha taça de vinho mais uma vez, ele se senta ao meu lado e enche seu copo de uísque até a metade, espeto uma azeitona e levo até a boca, mastigo.

— Eu sei que sou desagradável — ele diz baixo e coloca a garrafa de uísque em cima do centro estofado. — Tem dia que nem eu mesmo me suporto.

— Eu ainda nem cheguei nesse ponto — argumento e pego minha taça. — Você não me falou sobre a questão do seu pai não ter te assumido.

— Eu que não quis — ele responde e dá de ombros.

Isso o incomoda, eu percebo.

— Minha mãe trabalhou para os Johnson por três anos, ela era uma imigrante ilegal no país que conseguiu esse emprego como doméstica na casa dos pais dele. Ela era jovem e Kley Johnson também. — ele bebe um gole do uísque. — Eles dois se envolveram e alguns meses depois minha mãe começou a passar mal.

Quem diria que aquele velho cheio de moralismo havia feito isso com uma funcionária? Engravidado e abandonado a pobre coitada a sorte?

— Minha mãe disse para ele que suspeitava da gravidez, bem esta é a história que ela sempre me contou. Ela disse que ele reagiu muito bem e que queria assumir ela, ele era estudante de Agronomia na universidade local, tinha uma carreira promissora na área. — os olhos azuis se fixam no copo que ele segura. — Minha mãe disse que ele queria até abandonar tudo para que os dois fugissem e se casassem em Las Vegas.

Grávida do Bilionário PetulanteWhere stories live. Discover now