Outras Conversas

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— Você foi muito bem lá dentro.

— Sou boa com pessoas.

Acabamos de nos despedir dos Johnson.

Sei que esta será a última vez que venho a essa casa incrível e que em anos não tenho tido uma oportunidade tão boa de conversar com pessoas agradáveis, mas enfim, o jantar estava maravilhoso, o vinho perfeito, tudo foi muito bom.

Vamos caminhando pelo caminho até o estacionamento, fiquei bastante feliz de poder conversar com a Adela Johnson sobre novas tendências e paletas de cores, cardápios, isso foi algo que me distraiu e que me pediu bastante atenção.

Me fez sorrir, algo que nos últimos dias não vinha fazendo.

— Olha, sei que sou grosseiro algumas vezes, mas não precisa ficar deprimida por conta disso.

— Não é isso.

Suspiro olho em volta e escuto o som de cigarras soando pelos jardins enormes da propriedade Johnson, observo os canteiros bem podados, arbustos cortados em formatos redondos, palmeiras que traçam os dois lados deste caminho de pedra até o estacionamento enorme.

— É pessoal!

— Sim.

Fico imaginando em qual outra realidade um homem como este me convidaria para jantar na casa dos pais e isso se tornaria uma noite incrivelmente agradável. São homens como ele que automaticamente me excluem todos os dias há anos.

Afinal de contas, quem é que se envolveria com uma menina de quatorze anos com um filho? Depois aos vinte com uma criança de seis anos?

Sempre que um homem se aproximava de mim e sabia que fui mãe tão cedo automaticamente eu era anulada, em outros momentos quando tive alguns encontros com caras que conheci nos anos de trabalho em buffet, todos sempre diziam coisas como "seu filho não vai atrapalhar?" ou " você foi mãe jovem, né?".

Como se isso fosse algum tipo de coisa errada demais.

— A senhora Johnson gostou muito de você.

— Eu também gostei dela.

Eu não sei se posso dizer o mesmo dele, durante todo o jantar ficou mais silencioso, comeu e bebeu muito pouco, parecia desinteressado e indiferente, não sei se julgo também, mesmo que não saiba sua história com os Johnson eu também já me vi agindo assim em diversas ocasiões na casa dos meus pais.

Descemos mais uma rampa e caminhamos até os carros estacionados, mantemos certa distância, ainda sinto como se houvesse saído com um estranho, eu sei que é assim.

— Eu voltarei para o Brasil em duas semanas, você gostaria de me acompanhar durante esses dias?

A pergunta me faz ficar tensa, não ouso olhar para ele.

— Nos eventos de família se me chamarem é claro.

Ah!

— Eu acredito que depois de hoje, Adela nos convide para mais algum almoço ou jantar com os filhos deles.

— Eu não sei se posso, tenho três casamentos nas próximas duas semanas.

— Posso pagar muito bem pelo favor e, ainda teremos aquele jantar com sua família.

— Eu iria te falar, não irei mais ao jantar.

Lanço um rápido olhar para ele, as mãos estão enfiadas dentro dos bolsos da calça, o olhar azul se esbarra no meu, mas desvio depressa.

— Não?

— Definitivamente não!

— Meu contador já fez sua transferência.

— Obrigada.

— Você não quer mesmo falar o que está acontecendo?

— Na realidade, não! — fico diante do meu carro. — Obrigada pelo jantar incrível, de todas as formas, eu amei vir até aqui.

— A carne estava bem seca, o vinho parecia fraco, mas gostei das batatas e do molho.

— Ora, ora, temos um bilionário petulante e exigente aqui?

Abro a porta do meu carro, ele fica parado ao meu lado me olhando todo pensativo, é um homem extremamente bonito e charmoso, o perfume dele talvez seja a coisa que mais deixa marcante em sua presença.

Tem cheiro de... de... homem!

— Um pouco menos — ele fala e range o maxilar. — Como sei que não está bem, faço questão de te seguir até sua casa.

— Eu estou bem, fique despreocupado e não se sinta na obrigação de nada...

— Vou te seguir e ponto.

Suspiro, não vou nem argumentar.

— Está bem.

Entro no meu carro e puxo a saia do vestido para frente, ele empurra a porta do meu carro até tranquilo, se afasta até a Mercedes preta estacionada ao lado de um jipe vermelho de frente para o meu carro.

Ligo me carro e começo a tira-lo da vaga, vejo meu celular vibrando em cima do banco do meu passageiro e pego o aparelho vendo no visor o número de Aquiles Braga surgindo bem diante dos meus olhos, atendo a chamada manobrando o carro devagar.

— Vem comigo para o meu apartamento? — ele indaga do outro lado da linha.

— E por que eu faria isso?

— Tem algo melhor para fazer no seu apartamento? Ainda são 21:35!

Suspiro desconfortável, é verdade, não esperava por essa proposta.

— Tem piscina com água aquecida e vinho de verdade — ele fala baixo do outro lado da linha. — Podemos nos divertir muito até a madrugada.

— Você tem alguma ideia do que está me propondo?

— Claro que tenho, estou te convidando para um encontro de verdade comigo, você me deve um jantar, lembra?

— Isso não é justo.

— É mais que justo!

O carro dele para ao lado do meu e vejo o vidro baixando no lado do motorista, me sinto repentinamente arrepiada em notar o par de olhos azuis me analisando assim.

— Me segue! — pede ele num tom mais brando. — Se não gostar de ficar lá, te pago mais cem mil pelo seu tempo.

Aperto a mão no volante e tenho que respirar porque eu não sou nenhuma vagabunda — assim como meus pais sempre pensaram que eu fosse — para aceitar ir ao apartamento de um homem para transar com ele em troca de dinheiro.

Ok, aceitei o dinheiro, mas foi em troca de um favor, não de sexo.

— Não iria pelo dinheiro — aviso dando de ombros. — E eu vou para casa dormir, estou cansada, obrigada.

Desligo a ligação e piso no acelerador vendo meu carro se afastar depressa do dele, ouvindo o som dos pneus do meu carro cantando e me levando para longe desse desaforado.

Mas bem, o que esperar de um homem?

— Muito menos de um bilionário petulante.



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Grávida do Bilionário PetulanteWhere stories live. Discover now