Sou hipnotizada por muffins de chocolate

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Ao abrir os olhos, fui recebida por um aroma delicioso. No quarto, eu não pude localizar Lena nem as crianças. Sem pensar duas vezes, senti um impulso e, como nos desenhos animados do Cartoon Network, deixei-me levar na direção do irresistível cheiro.

Meu estômago roncava.

Hipnotizada, quando terminei de descer as escadas, escutei as vozes das pessoas despertas no andar de baixo.

Uma vez li um artigo acerca de casas com vidas. Primeiramente, achei bastante estranho, mas conforme fui lendo, percebi que realmente fazia um pouco de sentido. Existem algumas casas que ficam cheias de vida quando a família está toda reunida, tendo sempre com quem estar, o que fazer e como se distrair. Não reconhecia essa sensação desde que havia deixado a casa dos Danvers para me mudar para a National City University. Pensei em como nunca valorizei esse tipo de ambiente até ler esse artigo, sozinha em meu quarto da faculdade, com lágrimas em meus olhos, morrendo de saudade de Eliza e Alex.

Será que eu tinha esse tipo de casa viva com a Lena? Eu achava que sim, pensando que tínhamos dois filhos pequenos. No momento, a casa viva era onde eu estava agora, o que já me deixava feliz.

Assim que entrei na cozinha, percebi que grande parte das pessoas, ao contrario do que imaginava, não estava ali. Inclusive meus filhos. No lugar apenas avistei, minha irmã, a esposa, o filho caçula delas e Lena.

Nadia estava alimentando ele com o que parecia ser frutas amassadas, fazendo gracinhas para que ele abrisse a boca. A cena parecia estranha, observá-la fazer uma coisa tão comum e maternal, entretanto o que mais me surpreendeu foi que minha amiga, em carne e osso, estava atrás do balcão de serviço da cozinha sendo o final da trilha do aroma irresistível. Ela estava tirando muffins de chocolate do forno.

— Olha só quem acordou — Alex assobiou em algum lugar atrás de mim. Os olhos verdes da minha melhor amiga se fixaram nos meus e ela sorriu, um daqueles de verdade, sem tristeza no olhar. — Eu sabia. Podem me dar o dinheiro.

Nadia, que havia pego o filho em seus braços, agora me encarava incrédula.

— A Alex foi te acordar?

Pisquei, confusa.

— Hã... não — murmurei. — Para falar a verdade é que eu senti esse cheiro maravilhoso. O que é?

— Muffins — Nadia respondeu, desanimada.

Lena riu, embora eu não soubesse o motivo. Elas estavam zoando comigo ou algo assim? Cocei o meu olho, ainda confusa. Eu não conseguia captar nada, estava ainda sonolenta e cheia de fome.

— Eu sabia! — exclamou Alex, em júbilo. — Kara é viciada a esse ponto.

— Caramba, o que você coloca nesses muffins? — Nadia perguntou a Lena, tirando uma nota de vinte dólares do bolso de seu shorts. A serpente, hoje, estava tatuada em sua perna, como se ela decidisse se esticar. Me perguntei como Alex não tinha medo desse negócio morder ela. — Toma seu dinheiro, sua ladrazinha.

Alex pegou o dinheiro e então guardou em seu próprio bolso. Lena começou a mexer em seu celular no que parecia uma conta digital.

Fiquei confusa.

— Vocês fizeram uma aposta sobre eu acordar?

— Nope — Lena estalou, abafando o riso. — Depois que Eliza e as crianças foram para a praia, nós fizemos uma aposta para ver se você se lembrava do cheiro dos meus muffins de chocolate. Alex apostou que você acordaria assim que começasse a cheirar e, bom, ela ganhou.

Olhei para ela desacreditada. Alex riu da minha reação.

— Você cozinha?

— Por que? — perguntou ela, erguendo uma sobrancelha e cruzando os braços. — Achou que eu não soubesse?

The Lost Years - Supercorp.Where stories live. Discover now