O Dia em que Quebrei o Braço de Lena

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Esse capítulo está bem curtinho, mas como prometi um momento mais tranquilo, aqui está. Aproveitem bem, porque os próximos capítulos vão desenrolar a história. Antigamente, esse capítulo não estava na história, então depois me digam o que acharam. 

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As pessoas possuem formas diferentes de lidar com o luto.

Algumas costumam ficar em negação durante um tempo, outras entram em uma fase depressiva tão profunda que parece que não há mais alternativas. Cientificamente, dizem que existem cinco fases do luto e as pessoas geralmente flutuam entre elas, não seguindo um padrão específico. No caso de Lena, os primeiros dias foram bastante depressivos. Ela ficou em completo silêncio, conversando apenas comigo quando eu era bastante insistente, mas permitiu-se sofrer assim durante breves dois dias. No momento em que as crianças retornaram, ela se transformou completamente, como se nada estivesse acontecendo. Até mesmo quando íamos dormir, perguntou se eu realmente queria estar com ela. Caso contrário, afirmou que não se importava em dormir na sala. É óbvio que eu disse que não. Embora fosse estranho ter que dividir um quarto com ela, ainda éramos amigas. E seria uma tremenda falta de maturidade da minha parte deixar que ela dormisse em um sofá desconfortável. Ao final do dia, entendi o motivo de ela ter pensado nisso. Quando as crianças foram dormir, novamente a expressão cansada retornou ao seu rosto, novamente seus ombros pareceram que carregavam toneladas. Até que toda a máscara que vestira no dia fosse arrancada totalmente pelo cair da noite, quando seu primeiro pesadelo aconteceu. Não preguei os olhos o restante daquela noite, mantendo minha amiga em meus braços enquanto velava o seu sono como se, de alguma maneira, pudesse salvá-la da possibilidade de se repetirem. Mas se repetiram, noite após noite, até que aos poucos, foram diminuindo.

— Kara? — ela chamou, suavemente, em uma das noites. — Está acordada?

Estava escuro, mas não a ponto de impedir que eu visse seu rosto quando me virei na sua direção, observando-a. Era incrível como a mulher continuava deslumbrante mesmo sem esforço aparente. Sem a postura rígida exigida pela liderança da empresa, ela parecia mais jovem. Seus cabelos estavam soltos, espalhados pelo travesseiro branco, e ela vestia um pijama cor de rosa com estampas de rosquinhas, um presente meu. Eu sabia disso porque mais cedo havia brincado com as estampas, questionando se não havia confundido o lado do armário dela.

— Sim — disse eu, em resposta. — O que houve?

Seus olhos pareciam menos cansados do que ultimamente, mas não deixavam de estar pesados.

— Nada — ela falou, simplesmente. — Minha mente não quer desligar.

— Se tiver algum botão para desligar, eu aperto para você.

A risada que ela deu me fez sorrir.

— Por que você não me conta alguma coisa da qual eu não me lembre? — dei a ideia, ajustando meu braço debaixo do travesseiro para ficar mais à vontade. — Talvez você possa se distrair um pouco. E pode me ajudar a lembrar de alguma coisa.

Lena passou as mãos pelos cabelos e os puxou para o lado, soltando um sorriso como se tivesse pensado em algo perfeito.

— Tem uma kryptonita que causa um efeito bem engraçado — começou ela, abafando uma risada. — Age como um amplificador das emoções, entende? Deixa tudo mais intenso. Quando você teve contato com ela, ficou tão... empolgada, digamos assim, que acabou quebrando meu braço.

Meus olhos se arregalaram, surpresos.

— O quê?

Lena riu.

The Lost Years - Supercorp.Where stories live. Discover now