1. Café com leite

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 Completo a outra metade da minha xícara de café quente com leite frio, sempre esperei que quando eu fosse adulta, tomaria apenas café preto. Na minha cabeça, isso era coisa de gente chique, bom, acho que eu me decepcionaria se me visse hoje em dia, declarando meu amor ao café com leite. Tomo um pequeno gole e sinto a bebida esquentar meu corpo, me fazendo suspirar e relaxar no banquinho em frente ao balcão da cozinha. Hoje é o primeiro dia de aula do meu último ano na faculdade e está fazendo um frio infernal na cidade, mas meu cafezinho com leite me ajuda a começar o dia bem.

 Remexo minha mochila sobre o balcão para checar se não estou esquecendo nada. Ao que parecia, tudo está aqui: caderno, fichário, meu estojinho simples, as chaves de casa, um batom, pastilhas e um absorvente, porque nunca se sabe. Fecho minha mochila e infelizmente bebo o restante do café em dois goles, gostaria de ter saboreado mais, mas não quero chegar atrasada na faculdade. Desço do banquinho e coloco a xícara na pia, pegando minhas coisas e saindo do apartamento logo em seguida.

  — Bom dia, Maya, querida. — A senhora Jones, uma adorável idosa do apartamento vizinho, encontra-se ao lado da sua porta, regando uma plantinha de vaso que ela cuida todo dia com tanto carinho. — Está saindo cedo hoje, vai para a faculdade? — Ela profere enquanto ergue seu corpo na velocidade típica de uma pessoa desgastada pela idade, virando sua atenção para mim.

 — Bom dia, senhora Jones, sim, minhas aulas começam hoje. Não vejo a hora deste ano acabar pra eu me livrar logo da faculdade. — Junto minhas mãos em um ato de misericórdia, arrancando uma risada da mais velha. Apesar de idosa, a senhora Jones sabe lidar muito bem com a minha personalidade e não se importa com as minhas reclamações e ironias, como muitos outros idosos, eu adoro isso nela.

 — Você é uma reclamona, minha filha. Eu adoraria ter tido a oportunidade de estudar e ser uma mulher bonita e inteligente como você. — Vejo uma sombra de tristeza passar vagamente pelos olhos de uma mulher que teve uma vida difícil e que agora está sozinha em um pequeno apartamento, assim como eu. Me aproximo e beijo sua bochecha. Eu e a senhora Jones nos conhecemos há muitos anos, ela é como uma mãe para mim.

 — Eu sei, mas você já é perfeita assim. — Ela sorri e eu me afasto. — Agora eu preciso ir, se não irei me atrasar para a aula.

 — Tem razão, tenha uma boa aula, minha jovem. — Me despeço da idosa e caminho rapidamente pelo corredor. Entro no elevador e aparto o botão do térreo, enquanto as portas fecham, volto a lembrar de como a senhora Jones parecia saudável hoje e imediatamente me sinto alegre. Eu fico preocupada, afinal, ela já é idosa, não consigo imaginar como eu ficaria se algo acontecesse com ela...

 Balanço a cabeça para espantar essas ideias, eu sinceramente não sei o porquê de me torturar tanto com pensamentos ruins. Se há um dia no qual que eu preciso ficar tranquila, este dia é hoje. As portas se abrem e eu saio do compartimento, atravessando o térreo e saindo do prédio.

 Ando até o ponto de taxis que fica praticamente em frente ao prédio e me sento no banco. Após alguns minutos, começo a questionar se não vai passar nenhum táxi, era só o que me faltava, chegar atrasada no primeiro dia de aula de novo! O Anthony vai me zoar até o fim dos tempos.

 Então tenho a estranha sensação de estar sendo observada, olho a rua ao meu redor e avisto um garoto bem jovem me encarando seriamente, ele parece me analisar com olhar frio como mármore, fazendo com que um arrepio percorra a minha espinha. O jeito que ele me encara me deixa desconfortável. "Calma, Maya, é só uma criança, deve ter te confundido com alguém", é o que eu digo para mim mesma enquanto procuro meu celular na minha mochila a fim de ver se eu já estou atrasada.

 — Mas cadê a droga do meu celular?! — Chamo a atenção de algumas pessoas próximas enquanto reviro minha mochila, e não tem jeito, eu o esqueci em casa. Eu preciso dele para contatar minha chefe assim que eu sair da aula mais tarde!

[The Umbrella Academy] Ben - Don't blame me (EM REVISÃO)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum