8. Mudanças

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 Já faz meia hora desde que a adorável família ordenou que eu descesse para que eles decidissem meu futuro, desde então, estou andando pelo hall e observando a sala de visitas da casa. Me pergunto quem seria a favor do acordo.

 Aquela mulher, a número cinco, foi a única que não riu de mim em nenhum momento. A número três, apesar de ter zombado da minha capacidade, ficou impressionada com o meu feito, talvez elas me apoiassem. O convencido dos tentáculos com certeza me acha inútil, a garota que me empurrou lá fora também não parece ir com a minha cara. O Marcus... não sei o que pensar. É horrível ficar esperando aqui!

 Escuto o barulho da maçaneta girar e olho instintivamente para a porta, será que é algum funcionário? Se bem que não sei se eles entram pela porta da frente ou não... não faço ideia de como funcionam as coisas em casa de rico. Minhas dúvidas cessam quando uma mulher muito bonita entra pela porta e literalmente desfila até mim. Acho que já a vi em algum lugar.

 — Hm, olá? — A moça me cumprimenta enquanto analisa discretamente a minha roupa, parando o olhar no meu cabelo, isso sempre acontece. — Eu sou a Olivia, bonitinho, o seu cabelo! — Não sei se ela realmente achou algo bonito, mas pelo menos está sendo educada.

 — Muito obrigada, seu cabelo é lindo também. — E olha que eu não estou mentindo, ela me olha como se não houvesse comparação e começa a mexer nos próprios fios.

 — Muito obrigada, mas acho que eu não teria coragem de pintar de uma cor tão chamativa igual você, acho muito quinze anos... — Distraída enquanto enrola suas ondas, a loira nem se dá conta do seu comentário, que me faz revirar rapidamente os olhos. — Então, desculpa perguntar, mas quem é você? Nunca te vi por aqui. — Olivia volta a olhar para mim enquanto apoia as mãos nos quadris.

 — Acho que você vai descobrir em breve... — Nesse momento, ouvimos passos na escada e nos locomovemos pelo hall para saber quem estava descendo, era o Marcus.

 — Ah, oi, Marcus! — Ela praticamente corre até ele. — Onde está o Benzinho? — Seguro minha risada quando ouço essas palavras. "Benzinho" é foda. Após Marcus cumprimentá-la educadamente, ela acena para mim e sobe as escadas praticamente saltitando. Eu sabia que já tinha visto essa mulher em algum lugar, é a namorada do Ben Hargreeves.

 — Maya. — Marcus diz em um tom sério, fazendo com que minha atenção seja direcionada a ele. — Nós decidimos aceitar sua proposta pois acreditamos que ela será vantajosa para ambos os lados. — Ambos os lados... o lado de vocês, você quis dizer. — Agora precisamos estabelecer as coisas.

 — Que bom que você tocou nesse assunto, Marcus, porque antes de me aceitarem oficialmente, preciso deixar algo claro. — Levanto meu olhar para o dele, que está me encarando com desconfiança, com certeza esperando uma condição da minha parte, mas eu quero realmente dar apenas um aviso. — Assim como vocês, meus poderes tem limites. Eu não posso simplesmente ressuscitar alguém, e ferimentos muito graves... — Sento seu semblante relaxar, e ele rapidamente completa a minha fala.

 — Você não consegue curar, é isso?

 — Sim, digamos que seja isso. — Eu concordo com firmeza. É melhor que acreditem nisso, não é como se eu não conseguisse curar, mas isso não faz bem para mim, não que faça alguma diferença para eles.

Quebra de tempo

 Termino de guardar os últimos livros da minha prateleira na caixa que reservei para eles enquanto lamento, sinceramente, eu não sei por que cheguei a pensar que ainda moraria aqui, é claro que preciso ficar na casa dos Hargreeves, agora que sou a "enfermeira" deles, Marcus deixou isso bem claro quando conversamos sobre como seria essa mudança. Arrasto a caixa para a sala de estar e depois inclino minhas costas para trás com as mãos apoiadas na cintura para recuperar a postura. Já guardei quase tudo, só falta terminar de arrumar minhas roupas e dar um jeito na comida da geladeira, talvez eu possa dar para a senhora Jones.

 Escuto duas batidas fracas na porta e imagino que seja ela, caminho até o fim do cômodo e giro a maçaneta, recebendo um sorriso da adorável senhora.

 — Olá, senhora Jones! — Percebo que há um prato com biscoitinhos em suas mãos. — Chegou na hora perfeita. — Deslizo para o lado para deixá-la entrar, a idosa sempre costuma vir aqui com guloseimas, ela diz que é para me fazer companhia, mas acho que na verdade é ela que deseja a minha. A velhinha abre ainda mais seu sorriso e entra no apartamento. Assim que fecho a porta e volto a me virar para ela, percebo que o brilho do seu olhar sumiu, ela está encarando as caixas...

 — Minha filha... está se mudando? — Sua voz está embargada, ela continua sem entender. Me aproximo e coloco uma mão em seu ombro, enquanto a outra tira o prato de biscoito de suas mãos trêmulas para evitar que ela os derrubasse.

 — Meio que sim, senhora Jones... — Coloco o prato sobre o balcão da cozinha e volto a me aproximar, juntando as mãos. — Acontecimentos recentes me levaram à necessidade de me mudar. Irei trabalhar na casa de uma família rica e preciso morar com eles agora. — Digo em um tom calmo, a encarando com um pequeno sorriso, preciso ser calma e tranquila, não quero que ela fique muito preocupada. — Uma moradora da casa pinta como passatempo e quer minha assistência profissional para melhorar suas técnicas de pintura, tenho que estar lá o dia inteiro, sabe como é, esse povo rico... — Me sinto horrível em ter que mentir para ela, porém infelizmente é preciso.

 — Trabalhar para uma família rica... — A mais velha encara o chão enquanto reflete por alguns segundos antes de levantar o rosto e voltar com seu sorriso habitual, mas agora com um ar triste. — Isso será ótimo para você, minha filha! — Nesse momento, lágrimas preenchem meus olhos. Essa idosa, que não tem ninguém, nenhuma família, cuja única pessoa que possui para fazer companhia sou eu, ainda coloca meu bem-estar acima de tudo. Como posso deixá-la? — Maya, o que foi? Não quer ir? — Seu tom de voz fica mais sério e ela me encara com preocupação. Não posso fraquejar agora, não na sua frente.

 — Não é isso. — Levanto o olhar e pisco algumas vezes numa tentativa de dissipar as lágrimas. — Não quero deixar a senhora aqui sozinha e também... tenho medo do futuro. — A senhora Jones me lançou um sorriso tranquilizador e apoiou as mãos nos meus braços para me confortar.

 — Maya Duarte, escute o que vou te dizer. Eu sou velha, já vivi muito. Entendo a sua preocupação, mas aqui é tranquilo, não há motivo para se preocupar comigo, sou feliz aqui. Você não pode parar sua vida por minha causa. — Já entre soluços, tento dizer algo, mas é em vão. — Agora, sobre o medo do futuro... — Ela limpa minhas lágrimas e segura meu rosto com as mãos enquanto olha em meus olhos. — A vida é um livro, e o futuro é apenas uma página que você ainda não escreveu, mas não precisa se assustar porque quem irá escrevê-la é ser você, e ninguém mais. — Faço um sinal com a cabeça para comunicar que entendi e ela me abraça forte, a abraço de volta. — Sua mãe teria tanto orgulho de você. — Meus olhos ardem novamente e apenas suspiro fundo, é impossível parar de chorar quando lembro dela nesses momentos, então eu nem tento.

 — M-muito obrigada, senhora Jones. — Falo enquanto limpo minhas lágrimas e me solto do seu abraço. A mais velha sorri, pegando um dos biscoitos do prato e entregando para mim.

 — Não tenha medo do futuro, minha filha, tenha medo do passado, é ele que nos assombra.

 "É o passado que nos assombra...", repito mentalmente.

╭─┅── Papo com a autora! ───🎨
   Nós finalmente chegamos as 300 visualizações!
   Muito obrigada a todos que estão acompanhando ❤️
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> Olivia Blake Chandler é uma modelo muito bem sucedida. Ela e Ben se conheceram em uma festa e namoram há seis meses.



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> O próximo capítulo se chama "Demissão"

[The Umbrella Academy] Ben - Don't blame me (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now