9. Demissão

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 Quando a Lucy fecha a porta da sala dela, sinto um Déjà vu começando a se apossar de mim. É como se eu tivesse viajado no tempo para três anos atrás, para o dia em que vim fazer minha entrevista de emprego, bom, quem me dera que viagem no tempo existisse mesmo.

 — Maya, o que está acontecendo? — A ruiva questiona num tom preocupado ao mesmo tempo que dá a volta na mesa para se sentar em sua cadeira. — Você está bem?

 Hoje eu não cheguei com o melhor humor do mundo aqui na galeria. Lucy veio até mim com sua alegria habitual e eu lhe informei que precisava conversar com ela, agora estamos aqui. O que costumava ser minha grande conquista acabou se tornando um peso, de acordo com a Sparrow Academy. Marcus fez questão de deixar bem claro que não poderei ter outro emprego pois preciso focar no meu trabalho lá. É como se eu tivesse feito uma escolha sem nem ao menos saber, entre a minha pós-graduação e o meu emprego... sinto que estou perdendo o controle de tudo.

 — Por acaso... isso tem a ver com o acontecimento de segunda-feira? — Ela pergunta hesitantemente. O mistério daquela manhã de segunda... isso parece estar tão distante de mim agora. Me aproximo a passos lentos e me sento na cadeira a sua frente.

— Não. — Respondo cabisbaixa enquanto procuro as próximas palavras. Fazer isso é tão difícil, eu preciso de uma dose de coragem, mas acho que já gastei toda a coragem que eu tinha ontem, na Sparrow Academy. — Lucy, espero que saiba que eu adoro trabalhar aqui e não estou nenhum pouco feliz com isso. — A fito nos olhos e me encosto na cadeira. — Mas eu desejo renunciar. — A gerente me lança um olhar incrédulo enquanto me encara com os lábios entreabertos por alguns segundos.

— Maya, você está pedindo demissão, é isso? — A única coisa que eu consigo fazer é concordar com a cabeça. Ela volta se encosta na cadeira com um semblante derrotado, certamente tentando entender o porquê de alguém querer deixar de trabalhar na galeria mais renomada da cidade. — Por quê? Me diz.

— Eu meio que arrumei outro emprego. — A ruiva me examina, em choque. — Na casa da família Hargreeves, sabe? Serei tipo uma consultora. — Eu respondo meio sem graça por emitir os detalhes e ouço sua respiração pesada, antes da mulher se recompor e me encarar com um sorriso melancólico.

— Então você trabalhará para os Hargreeves? Nossa, que responsabilidade, meus parabéns! — Ela não facilita as coisas. Cada vez mais eu percebo o quanto tive sorte aqui, são poucas as pessoas que trabalham no lugar dos sonhos e ainda têm uma chefe tão legal quanto a Lucy. — Mas então, como irá funcionar esse seu trabalho? — Esse era meu medo, que merda...

— Ah, bem... — Vamos, Maya, pense em algo coerente! — Eu irei trabalhar em dois projetos, vai ser bem cansativo, mas o salário será bom. Um dos filhos de Reginald Hargreeves deseja um auxílio pessoal para explorar a sua criatividade artística, entende? — Sorrio para ela de um jeito cúmplice, ouvindo sua gargalhada em seguida.

— Esses ricos... — Lucy censura enquanto balança a cabeça, o que é meio irônico, afinal, ela também é classe alta. — É só estalar os dedos e já aparece alguém para ajudá-los com qualquer aspiração. — Eu concordo. — Mas eu te interrompi, continue...

— Bem, o segundo trabalho eu não entendi muito. A família quer redecorar a casa e deixá-la mais "refinada", então precisam do meu auxílio. Mas poderiam simplesmente chamar um designer de interiores, não é? Talvez tenha sido por causa...

 — Da sua formação. — Ela completa exatamente o que eu iria falar antes de abrir sua gaveta e puxar a caixinha que eu tão bem conhecia. — Eu já te falei, Maya, querida, ricos são esnobes, para que chamar um designer se eles podem e têm dinheiro para contratar logo alguém especializado na área artística, que pode lhes informar os quadros mais caros que eles podem comprar para se exibir, embora nem entendam a profundidade da obra? — Lucy prende um maço de cigarro entre os dentes e o acende com um isqueiro perante a sua feição furiosa. Isso é algo que eu sei que a irrita muito, a ignorância das pessoas com a arte.

  — Era exatamente nisso que eu estava pensando, que bom que compartilhamos da mesma opinião. — Estou aliviada que ela não tenha desconfiado, e ao mesmo tempo, me sinto mal pois a gerente acabou me ajudando a criar a mentira. Eu a observo em silêncio durante alguns segundos a procura de qualquer sinal de desconfiança, mas tudo que eu vejo é seu olhar triste direcionado a um canto do cômodo enquanto a fumaça do cigarro paira a sua frente. — Você... está decepcionada comigo?

 — O que? Não! — Lucy tem um sobressalto e me encara de forma surpresa. — Eu só estou triste ao saber que não trabalhará mais aqui. No fundo, você sempre soube que era a minha subordinada favorita. — Suspiro enquanto balanço a cabeça e abro um pequeno sorriso. Sim, eu sempre soube. — Estou muito feliz por você, Maya, de verdade, trabalhar com eles será algo ótimo no seu currículo, por mais que eu não ache a família Hargreeves lá essas coisas... — Franzo o cenho, um pouco abismada com a sua revelação.

 — Como assim? Pensei que era somente o seu primo que os odiava.

 — Você sabe que é complicado. — Realmente, quando se sabe pelo menos um pouco sobre a relação atribulada entre as famílias Hargreeves e Aberny, nem precisa acompanhar nenhuma novela. Pelo que pude entender devido a minhas fofocas com a Lucy, a família dela têm um ódio mútuo pelos Hargreeves, mas ambos os lados tenta manter a paz porque são parceiros de negócios, eu nunca entendi isso muito bem.

 — Ah, entendo... — Meu olhar foca no porta-retrato em cima da mesa, nele, encontra-se uma foto muito bonita da Lucy com seu primo, o dono da galeria. Eu tenho então a ideia de levantar o astral dela com uma brincadeira nossa. — E o gato do seu primo, ainda solteiro? — Digo num falso tom interessado e logo vejo a ruiva cair na gargalhada.

 — Você não existe, Maya Duarte. — Ela diz entre uma risada e outra. — É claro que o Leon está solteiro, ele sempre está. — Eu brinco, mas a verdade é que eu sempre fugi do primo dela durante as poucas vezes que ele veio ao café, acho inclusive que ele nem me conhece. A Lucy me disse que Leon Aberny, além de ser jovem, podre de rico e o favorito da família, é um tanto charmoso com as mulheres, ou seja, um mulherengo, e eu tento passar longe de homem que não presta.

 Eu confiro a hora no celular e me espanto ao tomar conhecimento de que eu já deveria estar a caminho do meu apartamento para me preparar para a mudança. Sem saber o que dizer a minha querida amiga, apenas a encaro, tentando buscar as palavras.

 — Está atrasada, não é? — A ruiva suspira e sorri genuinamente. — Estou vendo que seus antigos hábitos voltaram. Pode ir, cuidamos da papelada depois. — Sinto um peso sair dos meus ombros ao ouvir essas palavras, pois percebi que nossa amizade não terminará com a minha demissão e isso me deixa mais do que feliz. Em questão de segundos, eu já estou abraçando minha antiga chefe e segurando as minhas lágrimas. — Vá logo antes que eu mude de ideia! — A mulher diz com uma voz emocionada e eu lhe lanço meu melhor sorriso antes de deixar a sala praticamente voando.


╭─┅── Papo com a autora! ───🎨
  Irei publicar o 10 agora mesmo, só... leiam, vocês não irão se arrepender
  Gostaria de agradecer a todos que estão acompanhando, especialmente a @crysjxjx e a(o) @h44sungchan, que estão acompanhando fielmente a fic 💓
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13/02/2024

[The Umbrella Academy] Ben - Don't blame me (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now