XX - 2017, Japão

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(Capítulo não revisado)


Lorelai era a melhor amiga de Andrew e a pessoa que causava mais desconforto em sua vida, como se todos os anos desde que perdeu seus pais tivessem sido dedicados a apertar todos os botões em Andrew na tentativa de fazê-lo se revelar. Ela gostava de chamá-lo de impostor, uma farsa, alguém que se perdeu para dedicar uma inteira aos outros.

Uma semana depois da morte de Pietro, Lorelai havia aparecido no quarto de Andrew para pedir desculpas. Segundo ela, ela havia sido uma péssima amiga nos últimos dois anos, criticando Andrew, o julgando por fazer escolhas questionáveis, mas, principalmente, por não ter ficado ao lado dele quando ele afundou em vícios. Ao invés de tentar ajudá-lo, ela se afastou. Lorelai se sentia culpada.

Andrew, consumido pela dor do luto e incapaz de compartilhar com mais alguém sobre sua perda além de Steve e Lorelai, disse que não estava disposto a perdoá-la – embora ele nem a culpasse, ela era sua única amiga. Ela tentou ajudá-lo durante anos, apontando que ser uma farsa não faria as pessoas gostarem mais dele e ele ignorou. E quando ela se sentiu culpada por achar que era uma amiga ruim, ele a rejeitou por ignorância e por achar que só porque estava sofrendo tinha direito de fazê-la se sentir mal também.

Olhando para a lápide de Lorelai, Andrew se sentiu culpado por estar tão envolvido em seus próprios problemas, que ele não foi capaz de perceber que sua melhor amiga tinha depressão. A terapeuta dela estava no funeral, segurando um guarda-chuva enquanto a chuva castigava a cidade de Nova York com relâmpagos assustadores que poucas pessoas tiveram coragem de sair de casa para enfrentar o funeral de Lorelai.

Para alguém que estava sempre rodeada por pessoas que diziam amá-la, Andrew esperava encontrar o grupo de amigos de Lorelai, porém encontrou somente dois amigos e a terapeuta de Lorelai.

Andrew não se deu ao trabalho de buscar um guarda-chuva quando a chuva engrossou, ele precisava sentir o tecido do terno pesar em suas costas com a recém tatuagem de pena que se acolheu com as outras penas que cobriam sua pele. A dor era memorável, perfurante como se a agulha ainda rompesse sua pele a gota de chuva que caía em seu terno, fazendo o tecido grudar em sua pele.

Ele queria chorar, cair de joelhos e implorar perdão para Lorelai, porém ele temia que não conseguisse mais parar de chorar uma vez que se permitisse fazer.

Encontraram Lorelai no box do banheiro, Steve contou a Andrew.

A chuva se intensificou e os dois amigos de Lorelai foram embora, deixando Andrew e a terapeuta. Ele não queria ir até ela e cumprimentá-la, admitir que não sabia que Lorelai fazia terapia e que havia sido diagnosticada com depressão. Porém, o guarda-chuva pairou acima de sua cabeça e Andrew se viu protegido da chuva quando a terapeuta de Lorelai parou ao seu lado.

– Ela amava muito você. – A terapeuta, a doutora Blake até onde Andrew ouviu, sorriu docemente para ele como se visse um gatinho assustado. – Ela gostaria que eu falasse que não é sua culpa.

– Como não poderia ser? – Andrew zombou, os ombros tremendo com a força de sua risada fraca. – Eu nem sabia que ela fazia terapia.

– Desde a morte de seus pais. – contou. – Ela era uma mulher extraordinária.

– Já perdeu muitas pessoas, doutora? – Andrew perguntou, porque ele precisava saber que não estava sozinho, que não era o único amaldiçoado.

Se mais pessoas morressem e Andrew continuasse vivo, indo além da compreensão humana sobre a vida e a morte, ele temia que seus esforços para testar sua resistência continuassem. Ele não acreditava que era capaz de continuar, de assistir todos morrerem enquanto ele permanecia vivo, sendo que merecia morrer depois de tudo. No fim, a diretora do orfanato parecia sempre ter estado certa no fim das contas.

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