Capítulo 6- Conchas e água

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- Lizzie...- coloquei a mão nas costas dela como forma de confortá-la- eu... eu sinto muito - ela me abraçou e eu fiquei imóvel.

- Ele fazia parte da gangue que eu comecei, entrei nisso porque eu não tinha dinheiro, era burra e sabia que a escola não seria para mim- ela engoliu as lágrimas e seu cabelo escorreu do prendedor- ele disse que eu só poderia ficar com uma condição... Eu era tão jovem e desesperada que disse que faria qualquer coisa para ajudar minha família... Eu tinha treze anos- ela parou de falar por um tempo- quando ele disse o que eu teria que fazer eu neguei, neguei mas ele não se importou- ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas - E ele está vivo ainda... E sempre que eu ouço falar dele eu me sinto com treze anos, me sinto frágil, me sinto impotente - ela segurou meu rosto e olhou nos meus olhos- Eu entendo esse sentimento, Hanna... E quando eu disse aquelas palavras era porque eu faria de tudo para ver o meu agressor morto, assim como está o seu, para que o que dói em mim passasse.

- Lizzie... - A olhei e desviei o olhar em seguida - mesmo ele morto, o que eu sinto não vai embora... Porque a cicatriz não está nele, a cicatriz está na gente...- não consigo segurar o choro ao terminar de falar- Eu tinha três anos... Três anos...- passei o dorso da mão nos meus olhos- Eu só queria meus pais...

- Quando isso aconteceu, os colegas dele filmaram por trás da porta- ela falou séria, exausta por chorar- eu pedi ajuda, eu gritei por socorro. Me desculpa por ter sido tão idiota com você...

Neguei com a cabeça - Está tudo bem... Está tudo bem- forcei um sorriso para ela- É bizarro querer ficar aqui, né? Mas acho que quando estamos quebrados o suficiente ativamos o modo sobrevivência, fazemos coisas impensadas, agimos como não concordaríamos porque no fim qualquer coisa que se aproxime de viver vale a pena para quem está condenado à morte.

- O Dori é a melhor pessoa que eu já conheci...- ela secou as lágrimas e sorriu em resposta - Ele toma as dores dos outros para si, quer ajudar todos a sua volta, brinca de Robin Hood... Se algum dia ele te contar a história dele, não faça muitas perguntas sobre a irmã, está bem?- Me recordei das fotos no porão antes de assentir- Acho melhor você comer alguma coisa antes que passe mal- Lizzie levantou e abriu a geladeira, me aproximei da mesma vendo um prato com frutas mal cortadas- Aqui... Ele fez para você antes de sair.

Sorri involuntariamente e imaginei ele tentando cortar as frutas e falhando na simples missão.

Lizzie foi até o banheiro para lavar o rosto inchado de choro e voltou com um lenço de papel para mim, peguei o mesmo e assoei o nariz, lavei as mãos e peguei um garfo para comer as frutas. Comecei pela maçã em cubos, seguida do morango, banana e mamão, que ainda tinha algumas sementes e casca por estar mal cortado.

Após a refeição, fui até a janela para tentar ver o céu, estava nublado e muito escuro, ameaçava chover em breve.

- O que você faz?- me virei com a pergunta

- Faço?- perguntei para Lizzie

- Sim, da vida, com o que trabalha ou estuda.

- Não faço nada... Eles não deixavam eu sair com frequência, eu praticamente estava presa, como estou aqui, com a diferença de não ter ele nesse lugar

- Como assim não te deixavam sair?- Ela me olhou indignada

- Meu tio falava para as pessoas que eu não teria que trabalhar enquanto ele tivesse dinheiro para me dar, e todos achavam incrível como ele era bom. Como eu era sortuda por ter um tio como ele e uma casa como aquela- falei séria e Lizzie assentiu.

- Você não sente falta?- Ela me perguntou

- Eu não me lembro para sentir alguma coisa...- falei me sentindo mal com a pergunta - Após a morte precoce dos meus pais, passei a vida toda com ele, só concluí a pré escola pois já estava matriculada, depois disso eles contrataram uma professora particular. Nas férias em família eu ficava em casa com os empregados e eram os únicos momentos que eu saía no quintal de trás, já que se fosse no da frente os vizinhos me veriam e saberiam que meus tios mentiam sobre cuidar bem de mim. - fiquei um tempo em silêncio - ou talvez eles inventassem alguma desculpa como "ela estava doente", ou "ela não quis ir"- mudei a entonação da voz.

𝐄𝐧𝐭𝐫𝐞 𝐯𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐪𝐮𝐞𝐛𝐫𝐚𝐝𝐚𝐬- Dori Sakurada Where stories live. Discover now