SMILE - Vol. 2

Capítulo 42

Quatro dias depois

O som do vento bate na copa das árvores, trazendo uma brisa calma e relaxante para quem caminhava entre os troncos grossos e bem cuidados de um imenso jardim.

Os passos eram calmos e as vozes alegres, tudo se somava ao som das águas batendo no chão firme e assim que se olharam, os olhos castanhos claros de Christine Waller encontraram os intensos azuis de Catherine Waller, que sorria e dizia com seu conhecimento tão pouco, mas belo que aquele jardim em que estavam naquele momento, fazia parte da família real britânica e era um dos mais escondidos da mídia.

Ambas caminhavam pelas vielas dos troncos e a cada passo elas se abraçavam e a mulher mais velha sussurrava que a amava mais que sua própria vida, e que jamais a deixaria sozinha.

Christine, com 11 anos na época, lhe olhava e dizia a mesma coisa, mesmo sendo tão nova para suas formas de expressar seus sentimentos.

O sol brilhava intenso, mas a sombra as protegia nas trilhas traçadas vegetação adentro.

Duas invasoras em uma residência real, mas naquele dia era o primeiro contato de Christine com o mundo que jamais imaginou fazer parte depois que Catherine partiu.

Elas eram tão felizes que a alegria exalava de suas peles como luz, o tempo parava, o vento batia nas folhas e as moviam como em uma lente em slow motion, capturando cada detalhe de o quanto mãe e filha eram inseparáveis.

Mas as coisas mudaram e caminhando pelo mesmo jardim, muitos meses depois da partida de sua mãe biológica, estava a adolescente, que aquele tinha seus 16 anos de idade, finalizou o ensino médio e engrecou na faculdade, fazendo seus passos para o futuro e sem a mulher que mais acreditou em seu potencial.

O silêncio tomava o jardim do palácio abandonado da Coroa Britânica, e caminhando como Princesa de Gales e filha de Kate Middleton, a jovem sentia as pedrinhas abaixo de suas botas a cada passo dado, assim como as recordações daquele dia vinham gritantes em sua mente.

Christine estava ali para comemorar o aniversário da livraria erguida com muito suor por sua mãe, e assim que chegou à frente do chafariz reluzente e com estátuas em formato de belos cavalos, ela sorriu e cruzou os braços, abraçando a si própria e sentindo o abraço de sua mãe, que naquele dia e a 5 anos atrás, surgia e lhe dizia:

"Dizem que essa é a fonte favorita da Rainha Elizabeth"

O medo somado a perda obrigaram Christine a fechar os olhos com força, pois o tempo havia amenizado sua dor, as horas camuflado sua perda, mas sua mente parada naquele silêncio lhe fizeram sentir tudo de uma vez e naquele momento ela desabou, caindo de joelhos em frente a fonte como no mesmo dia em que esteve com sua mãe naquele mesmo lugar, com a diferença que antes era um abraço e carinho, agora era dor e saudades.

Suas lágrimas escorriam aos montes de seus olhos enquanto olhava o brilho vindo das águas, e cada lembrança lhe abraçava como alfinetes e ela só queria conseguir levantar e sorrir em ter uma mãe que lhe ensinou mais do que muitos no mundo, mas a única coisa que seu coração sentia era aperto e uma gritante vontade de falar:

- Eu sinto sua falta, mãe!

A alguns metros dali e com o celular em mãos, Kate Middleton não se atrevia a uma aproximação, porque sabia seu espaço e o de Catherine, mas isso não a impediu de dar um passo, parando e desviando os olhos cheios de lágrimas pela cena.

Não importava o quão forte e durona sua menina fosse, ela sempre desabava quando as lembranças de Catherine Waller vinham em sua mente, e isso, por mais difícil que seja ver Christine sofrendo o luto infinito, Kate precisava lhe dar o espaço para aquele momento.

A Princesa de Gales fechou os olhos com força e respirou fundo ao ver a jovem chorando ainda mais, e nesse momento não aguentou o sofrimento de sua filha, que por meses foi implacável em suas discussões com Camilla, Rosy, Fernando e até William, e se aproximou a passos apressados, se ajoelhando atrás da jovem e a abraçando, sentindo o corpo trêmulo e os suspiro devido a dificuldade de respirar.

- Meu amor? - sussurra, vendo-a virar e lhe abraçar forte o suficiente para fazer Kate chorar.

- Eu só queria saber o por quê? Por que a minha mãe?

- Não existem explicações para tudo, Chris. - sente seu aperto - Mas ela sempre estará aqui com você.

- Eu sinto falta dela - chora ainda mais - Eu não sou tão forte como você pensa - se afasta e a olha nos olhos, demonstrando estarem inchados e vermelhos - Eu não quero ser tão forte sempre, porque eu sou apenas uma criança.

- Você não precisa ser, porque eu tô aqui com você sempre - ergue uma das mãos, secando as lágrimas que caiam aos montes no rosto da adolescente - Eu não vou sair daqui nunca, meu amor.

- Eu aprendi a ser forte para proteger a minha mãe - volta a abraçar Kate, que não se importou em estar sujando suas roupas claras e caras - Agora ela se foi a tanto tempo, que eu não entendo porquê eu não consigo parar.

Kate Middleton, a Princesa de Gales e futura Rainha da Inglaterra entendeu naquele momento o que a adolescente estava querendo dizer com tudo aquilo, e no fundo sabia que ela poderia estar certo. Então se afastou e a olhou nos olhos:

- O que você quer dizer?

- Por que você está mentindo para mim? - respira fundo, sentindo uma lágrima cair - O que você sabe sobre a minha mãe, Kate?

Middleton engoliu em seco, se mantendo em silêncio e olhando fixamente para Christine, que entendeu que suas desconfianças sobre a viagem surpresa da mulher para a França e sem razão aparente estava relacionada a sua vida, assim como seu retorno inesperado e a conversa tensa entre ela e Camilla ao lado do Rei, demonstrando que ela possuía armas suficientes para parar a Rainha e deixou isso bem claro na reunião entre ela, Camilla, Charles e Christine, e onde Kate saiu vitoriosa sem nenhum esforço depois de anos.

Ambas se olharam e a longa demora estava fazendo a mulher de 42 anos obrigar a segurar o choro em não dizer quem era a verdadeira Catherine Waller, porque isso poderia fazer sua filha perder toda a esperança em acreditar que sua mãe era única, então encostou sua testa na da adolescente e sussurrou:

- Só saiba que sua mãe fez tudo o que fez por você, tá? - a vê intrigada - Christine? Eu não posso lhe dizer nada agora, mas a maior verdade de tudo que você vai saber um dia, é que a Catherine lhe amou tanto, que ela fez o que fez.

- Você está mentindo para mim, não é? Você não quer que eu perca minha admiração por ela, não é?

- Não! Porque você não vai perder, vai apenas ganhar, mas tudo no seu tempo tá? - a segura no rosto - Me diz que eu posso acreditar que você não vai atrás de nada dessa história e que vai me esperar te contar?

- Eu...

- Por mais difícil que seja ver você assim, você precisa me esperar, por favor?

- Tá... - sussurra.

A Princesa sorriu, sentindo o abraço de sua menina de 16 anos e as pedras abaixo de seu quadril, já que se sentou no chão ao sentir o corpo de Christine se apoiando ao seu, lhe dando plena permissão para um carinho de mãe, aquele onde a cria se coloca entre seus braços e ela o protege do mundo.