Capítulo 24

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— Quando estou em casa, após um longo dia, costumo tomar uma taça de vinho. Ajuda a relaxar. Sou professora em uma universidade no Canadá, e tenho três filhos, um marido e dois pets, tudo isso pode ser bem estressante. Enfim, às vezes, tomo um banho de banheira para ajudar meus músculos tensos a se soltarem, com uma taça de vinho ao lado. Na maioria das vezes sou interrompida por alguém chamando mamãe... Tudo que eu queria era paz. Agora estou sentindo falta do meu estresse habitual, e não faz nem uma semana que estou aqui. Tudo que eu queria era descansar, um tempo para mim, e meu marido sugeriu que eu viesse para cá. Quero todos eles aqui, vai entender.

— Você é apegada com a sua família, é normal sentir falta. Deve ser uma mãe maravilhosa.

Ela sorriu e soltou um longo suspiro, dava para notar que estava mesmo sentindo falta dos filhos e do marido. Tínhamos conversado sobre diversas coisas durante o jantar, e naquele momento Fernando tinha descido para atender uma ligação do hospital.

— Então... dá para notar que meu irmão está apaixonado por você — Talita comentou colocando mais vinho na minha taça.

— Isso é ruim?

— Não, ainda mais porque também é notório que você está tão apaixonada quanto. Estou feliz que vocês tenham se acertado.

— Confesso que estou morrendo de medo — admiti bebendo um pouco do vinho.

— Medo de quê? — Fernando perguntou sentando-se ao meu lado e me puxando para os seus braços.

Aninhei-me em seu peito e inspirei seu cheiro gostoso. Eu havia caído feio por esse homem. Foi um tombo daqueles.

— Estou com medo da festa amanhã — menti fazendo Talita erguer a sobrancelha de forma divertida. — Não tinha notado antes, mas estou morrendo de medo que tudo dê errado.

A última parte não era mentira.

— Não vai dar nada errado, você trabalhou duro e vai ser incrível.

Afastei-me para olhar seu rosto.

— É mesmo? Quando foi que deixei de ser a filhinha do papai mimada e incompetente?

Ele revirou os olhos e me puxou para seus braços novamente.

— Nunca disse que era incompetente, só sabia do seu potencial e disse que poderia fazer melhor, e você de fato fez um trabalho incrível.

— Não acredito que você aceitou namorar um cara que te chamou de mimada incompetente — Talita implicou.

— Para você ver, acho que sou um pouco masoquista.

— Nem vem com essa, vou te dar umas aulas, cunhada. Nunca aceite menos do que ser tratada como a mulher mais incrível do planeta.

— Agora sim estou fodido.

Talita se levantou com a garrafa de vinho na mão.

— Pode apostar que sim, mas vamos guardar essa conversa para depois. Vou deixar o casal aproveitar a noite linda e me retirar.

— Não vai, fique mais um pouco — pedi.

— Boa noite, Talita. Tenha bons sonhos. Vá assistir um filme, dormir. Isso mesmo, só vai.

Ela se aproximou deixando um beijo em meu rosto, depois deu um tapa na testa do Fernando.

— Boa noite, Nandinho.

— Nandinho? — provoquei rindo do apelido fofo.

— Cuidado para não entrar em coma alcoólico, Tatazinha.

Ela ignorou a provocação e desceu as escadas carregando a garrafa na mão e a taça na outra.

— Vocês dois são fofos juntos. Sempre quis saber como era ter irmãos.

— A melhor coisa do mundo. Sabe de uma coisa, talvez o fato de você ser a filha única seja o motivo de ser egoísta e mimadinha assim como é.

— Filho da mãe, eu não sou... — Ele abriu um sorriso e percebi que estava apenas me provocando. — Não vou cair na sua provocação. Fala mais dos seus irmãos. Você é o mais novo, Talita a mais velha?

— Não, tem o Vini, ele tem pouca diferença da Talita, um ano mais ou menos. Mora em São Paulo, é viúvo e tem dois filhos.

— Médico também?

— Não, Vinícius é investidor, foi por causa dele que consegui juntar dinheiro e comprar parte da minha primeira clínica, depois o hospital. Ele me ensinou a economizar durante a graduação, estágio e depois disso. Me fez investir em ações, e principalmente a não gastar com coisas desnecessárias. Enquanto meus colegas de profissão gastavam tudo que ganhava com carros caros, festas, mulheres, eu guardei dinheiro e investi.

— Uau, seu irmão deve ser demais.

— Sim, ele é. Em breve você irá conhecer todos, inclusive a minha mãe.

Abri um sorriso e me sentei em seu colo.

— Não vejo a hora, mas por enquanto o que acha de me beijar, namorado?

Ele colocou a mão em minhas costas e me deitou sobre o sofá.

— Acho uma excelente ideia.

Nosso beijo foi calmo, profundo e intenso. Aos poucos foi se tornando desesperado. Sua mão subiu pela lateral do meu corpo entrando por baixo da minha blusa causando um arrepio louco. Segurei seu pulso e afastei para longe.

— Nem pensar, não vou transar com você aqui com sua irmã lá embaixo.

Ele se afastou, apoiou o cotovelo no sofá e a cabeça na mão.

— E na casa dos seus avós com seu pai perto podia?

Empurrei seu corpo de cima do meu e me sentei no sofá.

— Em minha defesa, eu estava um pouco alterada pelo álcool, e a minha proposta foi de nos encontrarmos fora da casa, não no mesmo teto que eles. Você gosta de me provocar, não é?

— Sim, gosto muito, você fica linda bravinha assim.

— Você é bem idiota.

Levantei indo em direção à escada.

— Ei, onde pensa que vai?

— Vou para casa.

Fernando não contestou, só foi atrás de mim abraçando a minha cintura, me puxando para encostar em seu corpo. Eu sorri, mesmo que ele não pudesse me ver. Sorri feito uma colegial com uma paixão tão grande que não podia esconder e nem disfarçar. Ainda estava sorrindo quando ele me imprensou na parede e me beijou com desespero de um homem faminto.


Quebrando promessas? - DegustaçãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum