Capítulo 34

95 45 6
                                    


Fernando

— É esse — afirmei com um sorriso entregando o anel para a vendedora.

Depois que terminei a cirurgia passei no shopping para comprar um anel e fazer um pedido de casamento decente. Nem acreditava que ela havia mesmo aceitado, apesar de ter encontrado vários empecilhos, um deles era o tempo que estávamos juntos, segundo ela era muito recente. Se os argumentos dela eram fortes, os meus eram mais ainda e fizeram Sue mudar de ideia e aceitar morar comigo.

Entrei no apartamento dela que estava escuro e silencioso, e então a vi. Sue estava sentada no chão encostada no sofá olhando para o nada. Estranhei, levei a mão ao interruptor e liguei a luz; seu rosto estava vermelho e seus olhos molhados. Ela continuou parada olhando para frente, porém, para nenhum lugar específico.

— Aconteceu alguma coisa, Sue?

Caminhei até ela e abaixei para ficar de frente, ergui a mão para tocar seu rosto, mas ela estendeu o braço para que eu parasse.

— Meu pai fez uma proposta para você se casar comigo e te dar tudo que ele tinha. — Sua voz falhou e ela piscou os olhos fazendo as lágrimas caírem.

Foi como se alguém tivesse enfiado a mão congelada dentro de minhas entranhas e revirado, em seguida a sensação de ter levado um soco na boca do estômago. Ela não estava fazendo uma pergunta, era uma afirmação. Mesmo que fosse um questionamento, eu não poderia mentir.

— Como você...

— Não se atreva a me perguntar como eu descobri. Não faça isso.

Ela estava certa, como ela havia descoberto não era relevante naquele momento. Sentei no chão sobre os joelhos.

— Saulo me fez essa proposta há um tempo, mas a verdade é que eu não o levei a sério, além do mais ele não estava no seu juízo perfeito.

Ela ficou me encarando, imóvel, como se não acreditasse em mim.

— Ele até poderia não estar no seu juízo perfeito, mas você não tinha como saber disso naquele momento.

Mais uma vez não tinha como contradizer esse fato.

— Sue...

— Acho que você está se esquecendo de que eu conheço bem o meu pai, mesmo antes de ele saber que estava doente, você não foi o primeiro que ele tentou, Fernando, passo por isso desde que comecei a me interessar por garotos. Doutor Saulo não quer deixar seu legado para pessoas que não se interessam por medicina, justo. Quanto a você, por que diabos não me contou nada?

Merda. Como ia fazer Sue entender que eu tinha esquecido completamente dessa maldita proposta?

— Porque eu esqueci, não me passou pela cabeça que você saberia sobre a proposta.

Ela se levantou e caminhou para trás do sofá. Eu imitei o seu gesto ficando de frente a ela.

— Você pensou em aceitar? Fizeram um contrato de compra e venda, ou coisa assim? — Ela inclinou a cabeça e estreitou os olhos. — Quer dizer que não passou por sua cabeça um dia isso chegar até mim?

— Como é? Você acha mesmo que eu aceitaria uma proposta ridícula como essa? Está mesmo me enxergando dessa forma? Eu não sou um interesseiro, Suellen.

— E não é para pensar? Você me pediu em casamento há pouco mais de dois meses que começamos a namorar, isso não é estranho? — A voz da Sue era grave e baixa, como se estivesse contendo um turbilhão de emoções prestes a explodir. Ela continuou entre dentes cerrados: — Você não desconfiaria no meu lugar, Doutor Fernando Rissei?

— Sue... — Tentei me aproximar. — Não...

— Sai da minha casa. — Ela recuou para longe.

Aquilo estava me matando. Eu jamais aceitaria aquela proposta ridícula do Saulo, mas era bem pior ela estar pensando o contrário.

— Não, vou explicar o...

— Sai da minha casa, agora, Fernando! — gritou apontando para a porta.

— Só depois que você me ouvir. Pedi você em casamento porque eu sou louco por você, desde que pulou naquela sacada e me beijou, faria qualquer coisa para ficar com você. Daria tudo que tenho para você ser minha. Até largaria a medicina se você me pedisse. Porque eu te amo mais do que já amei qualquer coisa na vida. Agora, se você realmente pensa isso sobre mim, não tem mesmo o que explicar. É isso que pensa de mim? Que sou um interesseiro e me casaria por causa de dinheiro?

Cheguei mais perto dela. Ela ergueu o rosto molhado afrontando-me.

— Sim, é isso mesmo que eu penso.

Senti um aperto no peito ao ouvir sua afirmação. Isso significava que ela não me amava o suficiente para confiar em mim. Eu me abaixei um pouco para que nosso rosto ficasse na mesma altura. Precisava que ela olhasse dentro dos meus olhos.

— Está mentindo, você está só com raiva agora porque sabe lá quem contou isso a você fez acreditar que eu havia aceitado.

— Não, Fernando, eu estou com raiva por não ter percebido que não passava de uma transação comercial. Por ter quebrado a promessa que tinha feito para a minha mãe e me apaixonado por um interesseiro de jaleco branco.

Eu me virei para ir embora e algo dentro de mim morreu quando peguei a caixa com o anel que havia comprado para ela dentro do bolso da calça. Voltei alguns passos e coloquei a caixa sobre a mesinha de centro, depois saí calado e completamente destruído.

Ao invés de ir para casa, desci para a portaria para saber se alguém tinha ido ao apartamento dela. Eu iria descobrir quem havia contado aquela história.

Ah! Se ia.


Quebrando promessas? - DegustaçãoWhere stories live. Discover now