Capítulo 27

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Estava desnorteada, praticamente corri em direção à sacada que dava de frente para o jardim da mansão. Fui esbarrando em algumas pessoas no caminho. Naquele momento não entendi bem o motivo de ter agido assim, minha cabeça dava voltas, cenas de momentos passados chegavam jogando em minha cara o que eu deveria ter percebido antes.

Meu pai e minha melhor amiga juntos.

Parei encostando-me ao parapeito onde tinha uma visão ampla do salão e da pista de dança. Fernando encostou-se ao meu lado sem dizer nada. De longe, vi Júlia caminhando em direção ao bar, não demorou para meu pai parar ao seu lado, ele falou alguma coisa no ouvido dela. Júlia o respondeu e virou-se para sair, ele segurou em seu pulso, ela balançou a cabeça em negação e puxou de uma vez o braço do seu aperto, em seguida caminhou entre as pessoas na pista de dança até o mesmo homem que ela estava dançando antes. Meu pai ficou olhando tudo de longe, parecia enfurecido, pegou um copo sobre o balcão e bebeu todo o líquido. Sua expressão era de um assassino prestes a cometer um crime.

Meu Deus, como não percebi isso antes?

— Você sabia? — perguntei sem deixar de olhar para o meu pai.

— Sim, eu percebi como os dois estavam agindo perto um do outro, falei com seu pai há alguns dias, ele não negou. Eu sinto muito não ter dito nada, espero que entenda que...

— Você é amigo do meu pai — interrompi sua fala. — Eu entendo que não iria trair a confiança dele. Eu teria feito o mesmo. Ainda mais porque nosso relacionamento é recente. O que não consigo acreditar é que eu mesma não tenha percebido. Ela é minha melhor amiga, como isso foi acontecer?

Senti o toque da sua mão massagear meu ombro e me puxar para seus braços.

— Eu só tive certeza há alguns dias quando vi os dois aos beijos na sala de descanso. Nem um dos dois me viu, era tarde da noite e tivemos uma cirurgia complicada e demorada. Ele saiu primeiro, depois ela saiu apressada, a segui para tirar a dúvida, pensei estar vendo coisas. Vi os dois indo embora no mesmo carro. Para mim foi suficiente para ter certeza.

— Quanto tempo isso vem acontecendo?

— Não sei. Não faz muito tempo que ocorreu esse episódio, duas semanas talvez. O que você vai fazer sobre isso agora que sabe?

Parei para pensar um pouco antes de responder. Não podia confrontar os dois. Também não poderia cobrar nada, eram livres para fazerem o que quisessem da vida. Júlia sempre afirmou que só se entregaria para um homem quando estivesse muito apaixonada, isso nunca tinha acontecido antes, provavelmente era forte o que ela sentia por ele.

— Eu... não tenho o que fazer. Conheço a Júlia desde que éramos pequenas e ela... — Parei de falar quando lembrei que era da intimidade da minha melhor amiga que estávamos falando. Não podia falar para Fernando coisas como o fato de Júlia ainda ser virgem, nem nada parecido. Entretanto, pensar que meu pai foi o primeiro homem dela fez meu estômago embrulhar. — Isso é meio nojento. Meu pai e minha melhor amiga.

— Imagino como está se sentindo. Vai falar com eles?

Estava chocada demais para pensar sobre isso.

— Não. Eu... — interrompi minha fala quando percebi que estava usando o pronome como Fernando havia dito antes. Estava mesmo tentando não ser egoísta, inclusive na minha fala. — Vou esperar ela vir falar comigo. Se a gente for amiga de verdade, um dia ela vai me contar. E quanto ao meu pai, espero que ele não esteja brincando com os sentimentos dela, Júlia não é como as outras garotas, ela é romântica e... meu Deus, é inacreditável que eu não tenha percebido isso antes.

— Está com raiva?

— De você? Que pergunta é essa? Claro que não, sei como deve ter sido difícil esconder de mim, você e meu pai são amigos e não é história sua, eu entendo. Também não estou com raiva da Júlia e pelo jeito que meu pai estava olhando para ela há pouco está claro que — fiz uma pausa e suspirei fundo antes de continuar — o jeito que ele olhava para ela era olhar de um homem apaixonado. A gente não pode lutar contra os sentimentos, sei bem disso.

Quebrando promessas? - DegustaçãoWhere stories live. Discover now