Capítulo 34

5.4K 378 135
                                    

Harry estranhou, ao chegar no domingo. Melanie estava muda – literalmente muda. Só respondia com murmúrios e acenos, se retraia perante a voz dele. Cada vez que o elevador chegava ela recuava, temendo que fosse seu pesadelo materializado entrando em casa, pra em seguida respirar fundo. Esperou que ele executasse seu plano, mas não aconteceu. As malas dos dois desceram, e seguiram pro aeroporto.

Harry: Qual o seu problema? – Perguntou, os olhos sondando-a, enquanto a voz da aeromoça orientava que o vôo ia decolar, e que era pra checarem os cintos e permanecerem nas poltronas.

Melanie: Você. – Murmurou, quieta. O avião era particular da S.E.H., e só haviam os dois e a equipe do vôo, mas ela não parava de olhar em volta.

O avião decolou, e a pressão de Melanie despencou. Ela levou a mão ao rosto, sentindo a visão fugir. Aquela situação ia matá-la. Ela se contraiu violentamente quando ele a tocou.

Harry: O que é? – Perguntou, erguendo o rosto dela, olhando a pele pálida.

Melanie: Contratempos da gravidez. – Alfinetou, e ele sorriu.

Harry: Se houvesse essa possibilidade estaríamos indo pra um açougue, não pra praia. – Disse, voltando pra sua cadeira – Foi só a decolagem.

O vôo levou horas. Melanie passou mal no pouso outra vez. Não olhou nada ao chegarem, entrando no carro assustada e só saindo ao chegar no hotel. Nem reparou no quarto. Harry mergulhou no trabalho ao chegarem lá, e ela se afastou dele. Andou em voltas pelo quarto. Monte Carlo era mais quente que Nova York, e ela se trocou, abafada, colocando um short jeans e uma camiseta branca. Voltou a rodar pelo quarto.

Harry: PELO AMOR DE DEUS! – Disse, erguendo a cabeça do laptop – Quer parar com isso?

Melanie: Vai se foder, Harry. – Disse, ainda andando pros lados, como se esperasse um ataque.

Harry: Quer saber? Vá ver o hotel. Vá ver qualquer coisa, mas suma daqui. Não consigo trabalhar com você por perto. – Disse, exasperado.

Melanie obedeceu. Desceu, passando pela recepção e se desviou do segurança, e parou na recepção do hotel. Haviam pessoas tranquilas, conversando, felizes. Ela estava neurótica, mas ficou satisfeita por se livrar do guarda-costas.

Melanie: Se não sabe onde eu estou, não sabe como me atacar. – Murmurou pra si mesma, marchando pela lateral do hotel, então seus pés afundaram na areia.

Melanie olhou a areia clara, causava uma sensação gostosa. Ela deu um passo pra frente e ergueu o rosto. O mar de Monte Carlo estava em sua frente, em um azul límpido, claro, da cor dos olhos dela. Era azul até o perder de vista. Haviam alguns rochedos indo a direita, mas em volta era tudo oceano. Ela caminhou, os dedos travados, se aproximando, e seus pés tocaram a água. Ela olhou em volta, e tudo o que havia era o mar. Era seguro. Melanie nunca havia visto o mar. Atravessar de balsa ou de barco era o caminho mais curto para vir de Nova Jersey até Nova York, mas ela sempre achara o mar um conjunto de animais nojentos escondidos debaixo d'agua, então ia de carro. Em NY havia praia, mas ela nunca teve contato nenhum pra aquele lado da cidade, por tanto nunca fora lá. Mas não era nada disso. A água estava fresca, como se pudesse lavar a sujeira que sufocava a alma dela. E, diante daquela imensidão, Melanie se sentiu pequena. Minúscula. Tudo pelo que havia lutado, toda a sua vida parecia... Irrelevante. Ela se abraçou, os olhos cheios d'água, se sentindo uma formiga. Sua guerra com Harry, todos seus projetos... Não eram nada. E ela estava só. Sem pensar ela avançou, de roupa mesmo, entrando na água. Uma lagrima caiu de seu olho, sumindo no mar, e ela mergulhou. A sensação foi maravilhosa. Tivera aulas de natação e mergulho no St. Jude, logo aquilo não era problema. Emergiu, tirando os cabelos curtos do rosto e respirando fundo, a mão planando na água. Como pudera ignorar aquilo? O que mais ignorara? Ela nadou até o rochedo, subindo em uma pedra plana, onde passou horas, sentada, olhando o mar. O sol estava fraco, gostoso. O barulho do mar acalmava a alma. Se sentia insignificante, tão pequena! Que sentido tinha aquilo tudo, no fim das contas? Não viu o tempo passar. Poderia ficar ali pra sempre, devaneou, olhando a água que era tão límpida que ela conseguia ver perfeitamente a areia embaixo, apesar de não ser raso.

Skyfall  - Efeito Borboleta (Livro 1) [H.S]Where stories live. Discover now